Jeff Bezos gerou um turbilhão de emoções ontem (2), quando anunciou que deixaria o cargo de CEO da Amazon após 27 anos liderando a empresa. No entanto, o homem que ele nomeou como seu sucessor não foi nenhuma surpresa.
Andy Jassy, que ingressou na Amazon em 1997, três anos após seu lançamento como livraria online, dirige a mais lucrativa vertente da gigante de tecnologia, a provedora de serviços em nuvem Amazon Web Services (AWS), desde 2006. No mesmo dia em que Bezos anunciou sua substituição, o bilionário também revelou o valor de US$ 12,7 bilhões em receita gerada pela AWS no último trimestre de 2020 –com lucro operacional de US$ 3,6 bilhões, um salto de 37% ano a ano.
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A nomeação de Jassy serve como uma visão clara do futuro da Amazon e da indústria de tecnologia: o caminho a seguir está na nuvem. Assim como Satya Nadella foi nomeado CEO da Microsoft em 2014 após liderar sua divisão de nuvem Azure, Jassy vai liderar a Amazon com uma compreensão íntima de um setor que hospeda muitos dos dados mundiais e poder de computação.
“Sempre houve um debate sobre se a AWS poderia ser um negócio maior do que a Amazon”, disse Todd McKinnon, CEO da empresa de software em nuvem Okta. “Este é um sinal para a resposta a essa pergunta, que provavelmente é sim.”
A chamada “nuvem” se tornou a espinha dorsal tecnológica para grande parte do mundo corporativo, embora seja amplamente invisível para os consumidores que a utilizam sempre que leem um menu de código QR no restaurante local ou assistem a filmes da Netflix.
Desde o lançamento, há mais de uma década, a AWS está na vanguarda da tecnologia nuvem e se tornou o maior fornecedor da área, com mais de 30% do mercado global do setor. Durante os 15 anos de Jassy supervisionando a AWS, a empresa cresceu e se tornou uma empresa de US$ 50 bilhões com mais de um milhão de clientes, incluindo Pfizer, Walt Disney e Johnson & Johnson.
Jassy “mudou sozinho a cara da computação”, disse Frank Slootman, CEO da Snowflake, a gigante do armazenamento em nuvem que é cliente e concorrente da AWS. “Toda a noção de nuvem pública foi desenvolvida pela Amazon.”
Jassy ingressou na Amazon logo após sua graduação em Harvard em 1997, seguindo Bezos como assistente técnico. No início dos anos 2000, os dois tiveram a ideia de terceirizar redes de computadores, anos antes de outros gigantes da tecnologia, como a Microsoft e o Google, começarem a brincar com o conceito do que então era chamado de “infraestrutura como serviço”.
Depois de lançar a AWS em 2006, Jassy começou a evangelizar a ideia sublime da “nuvem”, primeiro visando pequenas empresas e startups: a ideia de que um conglomerado multinacional terceirizaria a infraestrutura de computadores ainda era difícil de vender. McKinnon, da Okta, se lembra de ter conhecido Jassy após um de seus discursos em 2009, quando ele estava tentando fazer decolar sua própria empresa baseada na nuvem. “Ninguém estava envolvido nessa ideia”, diz McKinnon. “Jassy provou que funcionaria.” Hoje, avaliada em US$ 35 bilhões, a Okta está entre dezenas de empresas de vários bilhões de dólares que usam a AWS e crescem junto com o boom da indústria de nuvem da última década.
Nos últimos anos, Jassy adotou seu evangelho na nuvem na conferência anual da AWS Re: Invent. Na conferência de 2020 que aconteceu em dezembro, Jassy lembrou que assim como a Amazon deixou de apenas vender livros para se tornar uma loja de tudo, a AWS é o exemplo mais recente de como a Amazon se move com a agilidade de uma startup, apesar de empregar mais de um milhão de pessoas. “É preciso ter coragem para pegar a empresa e forçá-la a mudar e se movimentar”, disse ele.
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Ao contrário da dura personalidade pública de Bezos, aqueles que conhecem Jassy referem-se a ele como uma pessoa “simpática” fora da Amazon. Matt McIlwain, o diretor-gerente da Madrona Ventures, que conhece Jassy há duas décadas, tem uma ideia diferente daquela muitas vezes relacionada a CEOs engravatados. “Ele é o tipo de pessoa com quem você adoraria tomar uma cerveja”, afirma.
Ainda assim, como líder de negócios, Jassy não deixou de criticar concorrentes e gerou polêmica ao defender o software de reconhecimento facial da AWS que estava sendo vendido para agências de aplicação da lei, mesmo em meio a questões de privacidade. No ano passado, quando a AWS perdeu uma oferta de US$ 10 bilhões para um contrato de nuvem militar dos Estados Unidos com a Microsoft, ele criticou a gestão de Trump por seu “desdém” pela Amazon.
Jassy supervisionou o reinado da AWS no setor de nuvem como um fornecedor essencial, mas também um adversário imponente para seus concorrentes. Poucas empresas enfrentam esse relacionamento complicado em maior escala do que a Snowflake. A empresa de armazenamento em nuvem avaliada em US$ 85 bilhões se baseia em grande parte na infraestrutura da AWS, mas nos últimos anos foi forçada a afastar a concorrência de seus serviços de armazenamento de dados do RedShift, produto próprio da Amazon.
“Eles estão cientes do que está acontecendo conosco, porque eles podem olhar para o próprio consumo de armazenamento de computação e podem ver como estamos indo”, disse Slootman, da Snowflake. “Grande parte do nosso negócio funciona na plataforma Amazon.”
Com o imenso tamanho e poder de mercado da Amazon, Jassy tem uma lista de desafios pela frente como CEO. A questão mais notável é uma campanha antitruste multifacetada e liderada pelo governo federal norte-americano contra a empresa, que acabou destacando o domínio da Amazon em negócios de comércio eletrônico. “A Amazon se tornou suficientemente grande. Isso deixa as indústrias e os governos nervosos”, diz Ed Anderson, analista do Gartner. “Um dos riscos potenciais dessa mudança é que a AWS e a Amazon.com fiquem ainda mais próximas.”
Com a vaga deixada por Jassy, crescem as perguntas sobre quem vai assumir as rédeas dos negócios de serviços digitais da Amazon. Muitos estão procurando pelo S-Team da Amazon, um grupo de líderes de empresas que se reportam diretamente a Bezos e trabalham nas principais tomadas de decisões de negócios. Rumores dão conta de que entre os candidatos estão os executivos da AWS Peter DeSantis, chefe de infraestrutura, e Charlie Bell, chefe de serviços de computação utilitária.
Um outro nome entrou em foco para muitos observadores: Matt Garman, que supervisionou os produtos principais da AWS desde o início e, no ano passado, tornou-se vice-presidente de vendas e marketing da AWS. “Matt Garman é a pessoa mais lógica”, afirma McIlwain, cujo fundo Madrona Ventures foi um dos primeiros investidores na Amazon. “Ele tem uma experiência incomum dentro da AWS e é um dos membros da equipe de longa data e confiança de Andy.”
Quem quer que ocupe a função de Jassy, uma das posições mais poderosas na indústria de computação em nuvem, terá de definir se a AWS será administrada de forma independente do novo CEO. Mas já que Jassy trabalhou sob a sombra imponente de Bezos durante duas décadas, é possível que ele decida ter ainda mais poder sob a Amazon no futuro.
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