Quem era jovem em São Paulo na década de 1990 certamente já ouviu falar do Moinho Santo Antonio, uma badalada casa noturna instalada no antigo complexo industrial dos Grandes Moinhos Gamba, na Mooca, zona leste da capital paulistana, que funcionou até 2013.
Em Juiz de Fora, cidade da zona da mata mineira, um antigo moinho de farinha abandonado está tendo um destino bem mais nobre: revitalizada, a área de 33 mil m² pretende se tornar um dos maiores hubs de inovação em saúde, bem-estar e geração de renda da América Latina.
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Criado em 1958 na zona norte da cidade, o Moinho Vera Cruz – considerado por anos o empreendimento mais alto da região – foi desativado no início dos anos 2000. Recentemente, adquirido pelos empreendedores Marcelo Machado, acionista da U&M Mineração e Construção, e Marcelo Mendonça, empresário do setor imobiliário do estado, passou por um retrofit que, além de adaptar o local para os novos objetivos aproveitando 80% da estrutura original, privilegiou características ambientais, como o máximo aproveitamento da luz natural e o uso dos silos para armazenamento da água da chuva.
“O encerramento da operação provocou uma perda de atividade econômica que impactou a cidade como um todo”, explica Ricardo Podval, eleito CEO da iniciativa graças ao seu trabalho à frente do Civi-co, hub de negócios de impacto social criado no início de 2018 no bairro de Pinheiros, na capital paulista. “Um terço da população mora nessa área, algo em torno de 200 mil pessoas de classe média-baixa, e todos aqueles que perderam seus empregos se viram obrigados a atravessar a cidade em busca de novas oportunidades. Além de promover a inovação, a ideia do empreendimento é gerar impacto socioeconômico, descentralizando a geração de empregos e o empreendedorismo”, conta.
Com investimento total previsto de R$ 100 milhões, o empreendimento está sendo estruturado em fases. A primeira, com foco na saúde preventiva, bem-estar, qualidade de vida e longevidade, já recebeu empresas do setor, como a Unimed, laboratórios, farmácias e clínicas de odontologia, instaladas em uma área de quase 2.500 m².
O próximo passo é colocar em pé o hub de inovação, para o qual foram destinados 2.000 m² entre espaços para a acomodação de cerca de 80 startups e de eventos. Em maio, será lançado o edital de convocação. “O objetivo é que essas empresas gerem soluções para o ecossistema local. O hub tecnológico vai funcionar como o cérebro do Moinho”, conta Podval, adiantando que um fundo entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões está sendo estruturado com a Bossa Nova para promover investimentos-anjo nas startups instaladas no local.
EDUCAÇÃO E GERAÇÃO DE RENDA
O executivo explica que outros 5.700 m² serão destinados a empreendimentos residenciais e hotelaria, 3.700 ao comércio interno e pouco mais de 7.000 à educação. “Estamos estruturando parcerias com universidades, cursos técnicos e de empreendedorismo para capacitação de mão de obra local”, conta.
Um exemplo são os 800 m² reservados à instalação de dark kitchens. “Alimentação é a segunda maior fonte de renda do país. Esses espaços servirão para habilitar as pessoas da região e promover geração de renda local”, diz Podval, que também está estabelecendo uma parceria com a prefeitura para restabelecer a vocação têxtil da cidade.
“Nosso objetivo é ser o ecossistema mais diverso e inclusivo do país”, diz o CEO do empreendimento que, para isso, vai contar com o apoio da Turma do Jiló, associação social sem fins lucrativos especializada em educação inclusiva.
Para ele, a iniciativa já está provocando uma transformação genuína na cidade. Prova disso, é que novos negócios, principalmente supermercados e outros comércios, têm se instalado no entorno do Moinho, atraídos pelo potencial do empreendimento. “Estamos presenciando uma descentralização que é muito positiva. Muita gente já não precisa atravessar a cidade para trabalhar e esse número tende a aumentar muito com a promoção do empreendedorismo local. Estamos construindo pontes e derrubando muros.”
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