O ecossistema brasileiro de inovação tem se tornado um dos ambientes que mais cresce no mundo em termos de número de startups, assim como em investimentos destinados pelas instituições de capital de risco a elas. De acordo com a Abstartups (Associação Brasileira de Startups), são mais de 13 mil empresas de base tecnológica distribuídas em pelo menos 695 cidades do país, número que saltou 200% desde 2015, quando existiam aproximadamente 4.400
Em 2018, começaram a surgir os “unicórnios” – startups que ultrapassam valor de mercado de US$ 1 bilhão. Em janeiro, a 99 se tornou o primeiro, depois de ser adquirida pela plataforma de mobilidade chinesa Didi Chuxing. Desde então, mais 13 também alcançaram esse patamar, como, por exemplo, o banco digital Nubank, o aplicativo de delivery iFood e a companhia de logística Loggi. Além disso, algumas startups foram alçadas à categoria depois de abrirem capital na bolsa de valores, seja no Brasil ou no exterior. Méliuz, Stone, Arco Educação, PagSeguro e, mais recentemente, a VTEX são algumas delas.
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Ao mesmo tempo em que as startups brasileiras alcançam novos patamares, o venture capital – modalidade de investimento em que fundos, gestoras e investidores-anjo injetam recursos em empresas para ajudá-las a crescer – também mostra sinais de amadurecimento. De acordo com a companhia de inovação aberta Distrito, o Brasil recebeu o maior volume de aportes de toda a sua história no primeiro semestre deste ano: US$ 5,2 bilhões em 339 operações.
Embora com uma metodologia diferente de pesquisa, a ABVCAP (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital), em parceria com a consultoria KPMG, também mostra um crescimento dos investimentos do tipo. Segundo as instituições, as startups brasileiras levantaram R$ 8,8 bilhões em 63 aportes realizados por fundos no primeiro trimestre deste ano. O valor representa um crescimento de 260% no volume financeiro recebido no mesmo período de 2020.
Diante desse cenário de crescente investimento de fundos nacionais e internacionais de venture capital em startups brasileiras, a Forbes pediu que três investidores do ecossistema de inovação fornecessem dicas para facilitar a trajetória dos empreendedores que buscam o seu primeiro cheque. Confira as sugestões na galeria de imagens abaixo:
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Divulgação AMURE PINHO
Empreendedor, investidor-anjo e ex-presidente da Abstartups, Amure Pinho já realizou aportes em 36 startups desde 2009. Desse grupo de empresas, seis realizaram o chamado “exit” – momento em que as companhias são vendidas e há um retorno positivo do investimento -, e dez não deram certo. As 20 companhias restantes continuam em operação.
No caso dos seus investimentos, Pinho utiliza critérios específicos para avaliar uma empresa, como, por exemplo, a taxa de crescimento mensal do faturamento, que deve ser superior a 10% durante um período de seis meses. “Não adianta ter receita e não crescer constantemente”, diz. “Se a startup consegue manter esse ritmo, é a maior prova de que o empreendedor consegue, independentemente do que acontece no mercado, superar e vencer condições externas adversas.”
Outro ponto importante para o investidor-anjo é a proximidade com o empreendedor. “Eu invisto em fundadores que conheço muito bem”, afirma. “Não vou colocar dinheiro em um negócio sem ter alinhamento com o proprietário, até porque eu vou ficar convivendo com essa pessoa por, pelo menos, cinco anos.” Segundo ele, o diálogo e o contato frequente geram uma intimidade que é frutífera para ambos os lados na jornada de crescimento de uma startup.
A principal sugestão de Pinho para os empreendedores que desejam iniciar um contato maior com investidores, à procura de recursos financeiros, é ser proativo e procurar formas de se comunicar com os donos do dinheiro, seja por e-mail, telefone celular ou redes sociais, como o LinkedIn. “Depois que você conseguir esse contato, envie um relatório mensal para esse investidor mostrando as principais métricas do seu negócio, como a receita e o número de clientes”, diz. “É importante, ainda, fazer uma análise do que deu certo e errado naquele mês, além de escrever quais ações foram feitas para resolver os principais problemas da empresa.”
Ao enviar, mensalmente, o relatório para uma lista de investidores, o empreendedor não só os atualiza sobre os passos e o crescimento da empresa, mas começa a criar um relacionamento mais próximo com eles. “A captação é um processo árduo, demorado e exige foco. É uma espécie de namoro”, diz Pinho. “Geralmente, namoros são longos até chegar ao casamento, e o maior desafio do empreendedor é mostrar que tem o produto certo e gerar interesse.”
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Divulgação MARCELL ALMEIDA
Além de CEO e cofundador da PM3, empresa dedicada a cursos de gestão de produto, o empreendedor Marcell Almeida também é investidor-anjo de startups desde 2019. No seu portfólio, estão cinco companhias de tecnologia: Chatpay; DragApp; Jestor; HomeAgent; e Mutuus.
Para Almeida, a principal questão para um empreendedor que busca recursos financeiros é não parecer desesperado. “O investidor claramente consegue ver quando o fundador de uma startup está sofrendo alguma pressão”, afirma. “Isso causa uma certa insegurança, uma vez que estados psicológicos desse tipo podem levar a decisões erradas e, consequentemente, a um mau investimento.” Outra coisa a se evitar, segundo o investidor-anjo, é uma diretoria que ganhe salários altos logo no começo do negócio. “Isso dá a impressão de que o empreendedor quer o dinheiro apenas para pagar os salários. A conta financeira tem que fazer sentido para o momento de maturidade da empresa.”
Além de apresentar bons números financeiros – como, por exemplo, o crescimento da receita e o índice de retenção de usuários – para os investidores, o empreendedor também precisa saber apresentar sua ideia. “É importante saber contar a história da sua startup, mostrar o porquê de ela existir, qual o problema que ela está resolvendo na sociedade, relatar as dores que pessoas que não conhecem o seu produto estão tendo”, afirma Almeida. “Mostre quais são os seus concorrentes, qual o preço deles, os seus diferenciais. É importante dar um panorama do mercado e deixar claro como a sua empresa se insere nele.”
Outro ponto de atenção – este já para uma fase mais avançada de captação – é ter um plano detalhado de como os recursos solicitados serão investidos na operação. “Nunca vi alguém que conseguiu levantar capital falando: ‘Me dá o dinheiro e vou fazer tudo por aqui’”, diz Almeida. “Tem que ter um plano bem traçado, saber muito bem onde o dinheiro será alocado. Estar preparado nesse nível de contas é importante.” Segundo ele, com esses números em mãos, o fundador consegue mostrar se o investimento é um bom negócio ou não.
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Divulgação MARTA CRUZ
Depois de experiências profissionais na empresa de tecnologia Siemens e na rede de agências de publicidade McCann Erickson, a argentina Marta Cruz entrou no mundo do venture capital. Além de ser sócia do fundo latino-americano NXTP Ventures – conhecido por investir na varejista de moda Amaro, na startup de logística CargoX e na plataforma Nuvemshop -, a gestora já foi presidente da Arcap (Associação Argentina de Private Equity, Venture e Seed Capital).
Assim como Almeida, Marta acredita que o preparo para uma apresentação aos investidores é fundamental. “Às vezes, a empresa é boa, tem números interessantes, mas seus fundadores não conseguem explicar com facilidade o que ela faz”, afirma. “Além disso, eles precisam ter todos os materiais [financeiros e mercadológicos] prontos e à disposição, já que são eles que vão explicar a solução, o modelo de negócio e qual o problema que a startup está atacando.” Com tudo isso em mãos, fica mais fácil para os investidores tomarem sua decisão.
Os empreendedores não só precisam ter todo o material de apresentação ao alcance das mãos, mas também ser assertivos no tipo de fundos e investidores que procuram para a sua operação. “É importante estudar o ecossistema de venture capital antes para, assim, não perder tempo indo até alguém que não possui o foco de investimento que você procura”, diz Marta. “Saiba de antemão qual é o tipo de investidor, qual a tese que ele possui, em quais setores ele costuma colocar recursos e em quais outras companhias ele já investiu e ainda possui capital alocado.”
AMURE PINHO
Empreendedor, investidor-anjo e ex-presidente da Abstartups, Amure Pinho já realizou aportes em 36 startups desde 2009. Desse grupo de empresas, seis realizaram o chamado “exit” – momento em que as companhias são vendidas e há um retorno positivo do investimento -, e dez não deram certo. As 20 companhias restantes continuam em operação.
No caso dos seus investimentos, Pinho utiliza critérios específicos para avaliar uma empresa, como, por exemplo, a taxa de crescimento mensal do faturamento, que deve ser superior a 10% durante um período de seis meses. “Não adianta ter receita e não crescer constantemente”, diz. “Se a startup consegue manter esse ritmo, é a maior prova de que o empreendedor consegue, independentemente do que acontece no mercado, superar e vencer condições externas adversas.”
Outro ponto importante para o investidor-anjo é a proximidade com o empreendedor. “Eu invisto em fundadores que conheço muito bem”, afirma. “Não vou colocar dinheiro em um negócio sem ter alinhamento com o proprietário, até porque eu vou ficar convivendo com essa pessoa por, pelo menos, cinco anos.” Segundo ele, o diálogo e o contato frequente geram uma intimidade que é frutífera para ambos os lados na jornada de crescimento de uma startup.
A principal sugestão de Pinho para os empreendedores que desejam iniciar um contato maior com investidores, à procura de recursos financeiros, é ser proativo e procurar formas de se comunicar com os donos do dinheiro, seja por e-mail, telefone celular ou redes sociais, como o LinkedIn. “Depois que você conseguir esse contato, envie um relatório mensal para esse investidor mostrando as principais métricas do seu negócio, como a receita e o número de clientes”, diz. “É importante, ainda, fazer uma análise do que deu certo e errado naquele mês, além de escrever quais ações foram feitas para resolver os principais problemas da empresa.”
Ao enviar, mensalmente, o relatório para uma lista de investidores, o empreendedor não só os atualiza sobre os passos e o crescimento da empresa, mas começa a criar um relacionamento mais próximo com eles. “A captação é um processo árduo, demorado e exige foco. É uma espécie de namoro”, diz Pinho. “Geralmente, namoros são longos até chegar ao casamento, e o maior desafio do empreendedor é mostrar que tem o produto certo e gerar interesse.”
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