Escolas e universidades tiveram, da noite para o dia, que levar suas salas de aula para o ambiente virtual. Reuniões com familiares, amigos e gestores passaram para a tela do computador ou do smartphone. Eventos, conferências e palestras também não escaparam de uma transformação digital forçada por conta da pandemia de Covid-19 e das restrições sanitárias – promover o isolamento social e evitar aglomerações. Quem ganhou com essas mudanças foram as plataformas de videoconferência, fornecedoras de tecnologias de comunicação remota.
Enquanto o serviço de videoconferência Zoom passou de 10 milhões de usuários diários de chamadas em dezembro de 2019 para mais de 300 milhões em abril do ano passado, o setor de eventos foi duramente atingido. No mesmo ano em que a plataforma norte-americana bateu recorde de usuários, 90,9% das empresas do segmento de turismo de negócios e eventos amargaram drástica redução no faturamento, segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc), União Brasileira dos Promotores de Feiras (Ubrafe) e Sebrae.
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O setor, que de acordo com a Ubrafe movimentava aproximadamente R$ 1 trilhão em mais de 2.000 eventos por ano antes da pandemia, teve de se reinventar para transportar as experiências físicas para o mundo online. Com isso, a procura por empresas especializadas no desenvolvimento de eventos virtuais disparou. “No início da pandemia, chegamos a receber consultas de mais de 2.000 clientes por dia”, afirma o vice-presidente de inovação da WebSIA, Rodrigo Santos. “Precisamos filtrar os projetos que íamos fazer porque era um volume absurdo com uma urgência muito grande. Tudo era ‘para ontem’.”
Com a alta demanda pelos seus serviços de planejamento, implementação e coordenação de eventos virtuais via Zoom, a WebSIA realizou 1.050 encontros pela plataforma nos 12 meses de 2020. Juntas, essas videoconferências contaram com a participação de 197 mil pessoas. “O nosso negócio não é vender licença de uso”, diz Santos. “O nosso negócio é estruturar eventos a quatro mãos com o cliente, utilizando a tecnologia para fazer isso acontecer de acordo com o que ele precisa.” Os hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês, a empresa de meios de pagamento Stone e a indústria farmacêutica Cristália são alguns dos clientes que contratam os serviços da empresa.
A agência de produção de eventos Mostarda foi outra empresa que viveu o aumento da demanda para a realização de conferências, palestras e encontros virtuais desde o ano passado. “Sempre utilizamos tecnologia nos nossos projetos, mas, diante da pandemia, tivemos que apontar nosso alvo totalmente para o digital, criando soluções e experiências para os clientes”, afirma o sócio-fundador Caio Barreto. Em 2020, a companhia entregou eventos totalmente virtuais para marcas como Ipiranga e Marsh que contaram com a participação de milhares de colaboradores dessas organizações. “As ações online possibilitam um alcance ainda maior às empresas, além de oferecerem opções flexíveis de orçamento”, diz o outro sócio-fundador da agência, Helvio Lima.
CONGRESSO INTERNACIONAL VIA ZOOM
Por conta da pandemia de Covid-19, a Associação Paulista de Medicina (APM) teve de adiar a realização do “Global Summit Telemedicine & Digital Health” (Conferência Global de Telemedicina e Saúde Digital, em tradução livre) duas vezes no ano passado. Na impossibilidade de promover o evento fisicamente, a entidade optou pelo modelo virtual. O desafio, como conta o médico e diretor de tecnologia da instituição, Antonio Carlos Endrigo, foi não só estruturar toda a conferência virtualmente, que contaria com palestrantes internacionais de várias regiões do mundo, mas também fazer tudo isso com rapidez.
A APM então contratou a WebSIA para o fornecimento da tecnologia para a promoção e coordenação do congresso, utilizando o Zoom como plataforma. “Nós colocamos uma bomba na mão da empresa”, diz Endrigo. “E eles conseguiram colocar tudo de pé em um curto espaço de tempo. Tivemos problemas? Sim, mas foram coisas muito pequenas diante de um evento desse tamanho, com a logística envolvida.”
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O congresso registrou mais de 1.500 participantes e contou com a presença de médicos de diversas regiões do mundo, principalmente da América do Sul e da América do Norte. Para 2022, o médico já enxerga um modelo híbrido. “Com a vacinação e a retomada dos eventos presenciais, faremos uma combinação, não por questão de custo, mas também para disponibilizar nosso conteúdo para todas as pessoas do mundo”, afirma. De acordo com ele, o evento online realizado no ano passado pela APM teve um valor 65% menor que o de uma conferência presencial.
Mediante as dificuldades impostas pela pandemia de Covid-19, a empresa de automóveis Jaguar também teve de se adaptar para realizar o evento de lançamento do SUV F-Pace 2021 MY. Para isso, a montadora contratou a Apple Produções, empresa de eventos corporativos, que providenciou um espaço físico interativo no qual os executivos da organização, juntamente ao embaixador da marca, o piloto Cacá Bueno, falaram diretamente com o público sobre as novidades do lançamento.
O anúncio do novo modelo foi transmitido no YouTube da subsidiária brasileira da Jaguar e contou com uma estrutura cúbica de 4,5 metros de altura e 300 metros quadrados, envolvida por painéis de LED de alta resolução tanto na área interna, quanto na parte externa. No interior do “cubo”, foi possível emular ambientes por meio de um jogo de luzes, semelhante a um ambiente de realidade virtual, mas sem a necessidade de utilizar óculos. De fora, os painéis conseguem criar imagens similares a hologramas. “Em momentos como esse da pandemia, o mercado de eventos se adaptou e renovou seus encontros”, diz o CEO da Apple Produções, Gijo Pinheiro. “O lançamento do carro foi perfeito para o cubo, já que a experiência deste espaço, unido à realidade imersiva, proporcionou um novo patamar para a divulgação.”
INTERATIVIDADE É O ANTÍDOTO PARA A FADIGA
Para replicar a experiência física no ambiente virtual, Santos diz que a WebSIA teve de buscar novas ferramentas e recursos para integrar ao Zoom. “A gente não inventa a roda. O que a gente faz é integrar soluções à plataforma como se fosse um Lego, construindo algo único para cada cliente.” O executivo cita, como exemplo, a criação de ambientes 360º, com modelagem 3D, no ambiente do software de videoconferência para a realização de congressos, possibilitando que os participantes andem pelos pavilhões, visitem os estandes e conversem com os expositores sem sair de casa.
Esse tipo de interatividade, diz o executivo, funciona como um antídoto para a chamada “fadiga do Zoom”, cansaço que muitos usuários do software relatam por permanecerem muitas horas engajados em videoconferências. “Quando a interação é bem-feita, você consegue fazer o usuário do outro lado se sentir incluído e participar”, afirma. “A gente quebra esse cansaço promovendo essa sensação de proximidade. A intenção não se trata apenas de fornecer uma informação, mas também de possibilitar um vínculo.” Para o executivo, as lives, que ficaram populares no início da pandemia, são um exemplo de experiência maçante, pois o espectador não tem um contato mais próximo com os artistas ou entrevistados.
Assim como Endrigo, o diretor de tecnologia da Associação Paulista de Medicina, tanto Santos, da WebSIA, quanto Barreto, da Mostarda, acreditam em um futuro pós-pandemia com eventos híbridos, nos quais experiências físicas e virtuais serão disponibilizadas para o público. “O evento híbrido veio para ficar. As empresas entenderam que as versões online possuem não só uma capilaridade local, mas a possibilidade de se abrir para o mundo inteiro”, afirma o vice-presidente de inovação da WebSIA. “Assim que liberados os eventos presenciais, certamente os modelos híbridos terão muito espaço, agregando as novas tecnologias para trazer experiências e [uma maior] adesão dos participantes”, complementa o sócio-fundador da Mostarda.
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