Para além dos grupos de família e compartilhamento de memes, o aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp ganhou terreno em um dos principais setores da sociedade durante a pandemia de Covid-19: a educação. Com 120 milhões de usuários no Brasil e lugar garantido em 98% dos smartphones do país, a plataforma de mensageria passou a ser uma ferramenta de ensino, na qual professores enviam as tarefas para os alunos e se comunicam com pais e responsáveis sobre questões pedagógicas.
A utilização das plataformas sociais para iniciativas educacionais, tanto de escolas públicas, quanto particulares, tem crescido ano a ano, conforme aponta a Pesquisa TIC Educação publicada em novembro do ano passado. Segundo o levantamento, entre 2014 e 2019, o número de páginas de instituições públicas de ensino nas redes sociais, como Facebook e Instagram, subiu de 46% para 73%. Nas particulares, o percentual saltou de 67% para 94%. “Essas plataformas passaram a ser utilizadas como ambientes virtuais de aprendizagem, para a transmissão de aulas online e o compartilhamento de conteúdos didáticos”, diz o estudo.
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Nesse mesmo período, o uso do WhatsApp registrou um crescimento astronômico no uso como ferramenta pedagógica. Em 2014, apenas 6% das instituições de ensino em áreas urbanas utilizam o mensageiro para a realização e envio de trabalhos escolares. Em 2019, conforme aponta o TIC Educação, esse índice subiu para 61%. Estima-se que, no ano passado, o valor tenha crescido ainda mais por conta da pandemia de Covid-19. “Algumas secretarias de Educação no Brasil chegaram a oficializar o WhatsApp enquanto política de enfrentamento ao fechamento das escolas, com a oferta de um celular e uma conta no aplicativo subsidiada pela prefeitura”, diz o relatório.
Luiz Carlos de Lucena, mestre em letras pela UERN (Universidade do Estado do Rio Grande do Norte) e professor, estudou a utilização do WhatsApp como ferramenta pedagógica para aprendizado da língua portuguesa em 2016 e afirma que o aplicativo traz benefícios para o processo de absorção do conhecimento dos alunos. “Ao usar o aplicativo, o professor acrescenta maior ludicidade e interação às suas aulas, uma vez que não é necessário acesso a uma plataforma onde requer logins e senhas”, afirma. “O aluno pode estudar quando, onde e como quiser, uma vez que tenha acesso à internet. Ele terá ali, na palma da sua mão, a possibilidade de acessar textos, vídeos e charges com um simples clique.”
Com a pandemia de Covid-19 e o consequente fechamento das escolas, nem todos os alunos conseguiram acompanhar as aulas por conta da falta de equipamento e acesso à rede. Segundo o TIC Educação 2019, 39% dos alunos de instituições públicas de ensino não possuem computadores em seus domicílios. Além disso, 21% deles acessam a internet por meio de um dispositivo móvel. “O fato de os alunos não conseguirem se conectar às aulas dificultou muito o processo de educação no ano passado”, afirma Lucena. “Além disso, foi dito ao professor que ele deveria trabalhar de forma remota, mas não foi dado o suporte necessário, seja da esfera municipal, estadual ou federal, para que ele desenvolvesse um trabalho de qualidade.”
Embora tenha imposto uma série de desafios a professores e alunos, a crise sanitária da Covid-19 também propiciou o crescimento da adoção de soluções tecnológicas voltadas ao ensino baseadas no WhatsApp. Uma delas é o AprendiZAP, criado pela Fundação 1Bi, do grupo Movile, que conta com a parceria da Fundação Lemann e da Imaginable Futures. Com foco nos últimos anos do ensino fundamental, a plataforma tem mais de 1.400 aulas de sete disciplinas – língua portuguesa, língua inglesa, matemática, história, geografia, ciências e artes – e permite que os estudantes acessem materiais didáticos e respondam testes por meio do mensageiro.
Gratuita, a plataforma já conta com 206 mil estudantes e 26 mil docentes conectados. “Nós olhamos principalmente para a questão do reforço escolar”, afirma a analista de produtos da Fundação 1Bi, Débora Nunes. “Sabemos que os impactos da Covid-19 na educação são muito grandes, como, por exemplo, a evasão escolar. Então, queremos servir como um complemento do processo pedagógico, no qual os professores poderão sugerir algumas de nossas aulas prontas para os alunos evoluírem nos aprendizados que não conseguiram consolidar durante a pandemia.”
Outra solução que também aproveitou a estrutura do WhatsApp para estimular o ensino de alunos brasileiros foi a edtech norte-americana ChatClass. Com mais de 500 mil alunos impactados por sua tecnologia e 10 mil professores cadastrados na plataforma, a companhia possibilita que os educadores criem trilhas de conhecimento com materiais didáticos e a confecção de perguntas. No país, o foco principal da aplicação está no ensino da língua inglesa para os estudantes de escolas públicas e particulares. A empresa conta, inclusive, com apoio do governo estadual de Minas Gerais.
Por meio do WhatsApp, os alunos podem enviar fotos e mensagens de voz para responder às perguntas, que são feitas por robôs e analisadas por inteligência artificial. Na outra ponta, os professores podem ver relatórios com o progresso e desempenho educacional de cada estudante. Para o fundador e CEO da ChatClass, Jan Krutzinna, o modelo funciona muito bem no país. “O WhatsApp tem uma distribuição perfeita no Brasil. Podemos alcançar grande parte da população pelo aplicativo”, diz. “Além disso, é uma plataforma muito social e humana, possibilitando mesclar a utilização de bots com a atuação de tutores no processo de aprendizado.”
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