O que é o afrofuturismo? O conceito que está presente há anos na cultura, arte e música brasileira vem criando uma conexão cada vez maior com a tecnologia e a inovação. Douglas Lopes, ilustrador afrofuturista que, recentemente, ganhou o Brasil Design Award pela capa do especial de Afrofuturismo da Forbes Brasil, destaca que afrofuturismo pode ser muitas coisas, inclusive, uma iniciativa e um movimento de inovação, mas não pode ser classificado como algo novo por que já influencia nossa arte e cultura há décadas.
“O afrofuturismo também pode ser entendido como iniciativa e movimento de pessoas negras e pardas se projetarem no futuro e tomar para si esse tempo que ainda está por vir. Esse primeiro movimento é muito poderoso, se enxergar no futuro e querer vivê-lo muda toda a perspectiva de um sujeito sobre o que come, bebe, consome, lê, pesquisa, trabalha e investe. Depois disso, a potência negra de uma única pessoa é capaz de mover universos inteiros para fazer esse futuro real. Isso se manifesta na arte de diversas maneiras, com obras que inspiram e despertam o desejo de sonhar e se achar digno para sonhar. Seja ficção ou não”, explica Douglas.
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Douglas reforça que uma obra afrofuturista, escrita por uma pessoa negra e com personagens negros, talvez nem cite diretamente problemas como racismo, violência e pobreza. “Afrofuturismo na arte não é apenas produções com negros, são obras feitas, gerenciadas e monetizadas por pessoas negras. Imagino que na tecnologia há vários meios para que isso se manifeste também. Há uma visão de que a tecnologia é neutra, eu particularmente discordo disso. Aposto que se há pouco mais de um século negros tivessem tido a chance de inventar a fotografia, o composto químico utilizado no filme analógico favoreceria muito mais tonalidades escuras do que claras, por exemplo. A chegada de pessoas negras em universidades e em empresas de tecnologia e gerenciadas por pessoas negras é muito importante para que soluções sejam pensadas por outros pontos de vista”, reforça.
Ele discorda que afrofuturismo seja algo novo. “Talvez a palavra que descreva essas ideias seja nova, até porque surgiu como subgênero de ficção científica pela Octavia Butler realmente há não muito tempo. Mas na música, como o samba, o cinema novo e vários outros movimentos que foram interrompidos, no meu ponto de vista, já versavam sobre muita coisa que se assemelha ao que descrevemos hoje como afrofuturismo”, conclui.