Maior mercado de games da América Latina com uma receita estimada de R$ 11 bilhões em 2021 e um crescimento de 6% previsto para 2022, segundo a consultoria Newzoo, o Brasil é destaque no consumo, mas também na contratação de profissionais especializados para a indústria.
De acordo com o relatório da XDS (External Development Summit) , um dos maiores eventos do setor, existe uma procura cada vez maior de grandes desenvolvedoras globais por estúdios nacionais, que são contratados para produzirem ou auxiliarem em partes específicas de seus jogos, em uma prática conhecida como XD (desenvolvimento externo). O destaque do Brasil no segmento acaba de ficar ainda mais evidente com a publicação do relatório da XDS, que coloca o país pelo segundo ano consecutivo como o principal mercado emergente no segmento.
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A Abragames (Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos), que há vinte anos vem desenvolvendo iniciativas de fomento à indústria, possui um projeto setorial de exportação realizado em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (ApexBrasil), que apoia as empresas desenvolvedoras brasileiras.
“O grande momento da indústria global de XD acontece em setembro, durante a XDS, e a Abragames tem como missão coordenar, fortalecer e promover a indústria brasileira de jogos digitais, sendo sua representante e interlocutora dentro desse ecossistema internacional. É um orgulho ver o destaque que o Brasil tem tido em XD e reconhecer o papel da nossa comitiva brasileira”, conta Rodrigo Terra, presidente da Abragames. Além da XDS, a Brazil Games também atua com os estúdios brasileiros em outros grandes eventos, como GDC, Gamescom e BIG Festival, que traz ao Brasil os grandes nomes da indústria para fazer negócios com as desenvolvedoras nacionais.
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Eliana Russi, diretora internacional da Abragames, reforça a importância da presença brasileira nos eventos internacionais. “Sabemos que as parcerias requerem uma relação de confiança entre as partes e as empresas brasileiras têm construído isso ao participarem de eventos globais, como a XDS”.
Para Terra, entre as qualidades que dão aos estúdios nacionais esse protagonismo estão a criatividade dos brasileiros, a cultura aberta e flexível, a capacidade de se adaptar e se comunicar, o fuso horário equilibrado tanto para Estados Unidos quanto Europa e a aptidão técnica dos profissionais. “Quando falamos de XD, falamos de desenvolvimento de uma série de atividades, como arte, animação, cinemática, áudio, engenharia, portabilidade, captura de movimento, controle de qualidade, efeitos visuais, UX (user experience) e UI (user interface), entre outras. Hoje, os estúdios brasileiros estão totalmente preparados para atender todas essas demandas com muita competência e comprometimento”.
Cases brasileiros de destaque
Entre os vários estúdios brasileiros que participam presencialmente da XDS e de outros eventos internacionais importantes por meio da comitiva Brazil Games, da Abragames, existem perfis diferentes e complementares. Enquanto alguns se especializaram e são referências exclusivamente no trabalho de external development, outros também fazem um trabalho híbrido – ou seja, além de XD desenvolvem seus próprios jogos.
A PUGA Studios, de Recife, trabalha desde 2017 com desenvolvimento externo e tem em seu portfólio uma parceria com a Aquiris para o jogo Looney Tunes World of Mayhem, entre outros projetos. “Existem grandes empresas no Brasil que desenvolvem jogos de altíssimo nível para o mercado. O trabalho direto com publicadoras e desenvolvedores internacionais atrai o olhar estrangeiro para a indústria brasileira, com certeza”, disse Rodrigo Carneiro, CEO da PUGA Studios.
O executivo conta ainda que durante a pandemia os estúdios nacionais viram um aumento na procura de desenvolvedoras estrangeiras para a realização de trabalhos de XD, o que fez com que muitas delas crescessem não só em faturamento e em qualidade, mas em tamanho da equipe. “Tínhamos 30 funcionários, em março de 2020, e hoje temos 140 talentosos profissionais”. Entre os diferenciais para conquistar novos trabalhos, Carneiro destaca a importância de estar nos eventos. “É o famoso aperto de mão, olho no olho. Sentir o brilho na hora da conversa, da troca de experiências, é fundamental para iniciar essa relação”.
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Outro estúdio que trabalha com desenvolvimento externo há bastante tempo é a Flux Games, de São Paulo, que já colaborou, por exemplo, com a Garena em um spin off do jogo Free Fire, e que tem notado grandes mudanças na postura das empresas estrangeiras nos últimos anos. “Tanto as pessoas quanto as companhias passaram a confiar mais no trabalho remoto, e grandes players estrangeiros têm buscado estúdios brasileiros sólidos e confiáveis para trabalharem em parte do desenvolvimento de seus jogos”, conta Paulo Luis Santos, fundador e head do estúdio paulistano. “Tal movimento gera uma capacitação dos nossos estúdios, amadurece o mercado nacional e evita a evasão de talentos para outros países”.
A Kokku, outro estúdio de Recife cuja atuação no mercado de games vai além do desenvolvimento externo e exportação de serviços e artes, começou a atuar na área em 2015 por meio de contatos estabelecidos com empresas internacionais que vieram ao Brasil para o BIG Festival. O estúdio já trabalhou com grandes empresas, como a Activision, em Call of Duty: Black Ops Cold War, Guerrilla Games, em Horizon Zero Dawn e em Horizon Forbidden West, e Netflix, em Stranger Things: Starcourt Mall. Thiago Freitas, CEO da Kokku, reforça que a transferência do conhecimento adquirido é o principal ganho para o mercado brasileiro, além da geração de renda e emprego.
“Profissionais brasileiros seguem sendo desenvolvidos para atuar em grandes títulos internacionais, e esse conhecimento adquirido fica aqui no Brasil mesmo quando o trabalho termina, sendo reverberado dentro da empresa e, posteriormente, para o nascimento de novos estúdios e projetos”, explica Freitas.