Creator economy é um termo indissociável das discussões relacionadas ao mundo descentralizado da Web3 e também à onda de NFTs, os tokens não fungíveis. Esse ecossistema, que reúne negócios relacionados ao mundo dos influenciadores, vive uma nova fase de possibilidades, oportunidades e tecnologias que suportarão o crescimento de uma indústria que deve movimentar mais de R$ 9 bilhões globalmente somente no ano de 2022.
Dois conceitos importantes devem suportar essa expectativa, a possibilidade do uso dos NFTs como forma de conexão com os seguidores e fãs e o alcance de maior liberdade por parte dos criadores e as live-commerces que seguem como ferramentas fundamentais para influenciadores pequenos, médios e grandes. De acordo com um artigo publicado pelo YouPix, ainda em março do ano passado, os NFTs permitirão que os criadores monetizem diretamente conteúdo ou produtos.
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No ano passado, por exemplo, a criadora Grimes chegou a faturar US$ 6 milhões vendendo pequenos vídeos e o youtuber Logan Paul ganhou US$ 5 milhões com um NFT com sua imagem, valor que já está muito acima. Cintia Ferreira, fundadora da iniciativa EVE, organização que fomenta e desenvolve NFTs, explica que a utilização de tokens pode mudar completamente a creator economy, pois conecta diretamente o ídolo com seus fãs. “Não só aproxima os dois, como permite estabelecer novas formas de interação e uma troca em via de mão dupla. No cenário atual, na Web2, a relação depende fundamentalmente de uma plataforma que dita a forma e limites para essa comunicação. Muitas vezes obrigando o produtor de conteúdo a mudar seu estilo para de se adequar ao algoritmo e políticas do aplicativo ou site”, explica.
Ainda de acordo com Cintia, um creator já pode utilizar tokens de diversas formas. “Pode, por exemplo, produzir uma arte digital (NFT) e vender diretamente para seus fãs. Essa é uma forma da base de fãs apoiar financeiramente seu ídolo. E o ídolo pode usar esse NFT para devolver a sua comunidade benefícios, produtos, canais exclusivos de comunicação e muito mais”, explica Cintia.
“Com o boom dos NFTs, o mercado vem acompanhando algumas mudanças que reforçam cada vez mais a importância da autoria e exclusividade na hora de criar e comercializar uma arte digital. E isso se estende para um novo modelo de negócios que já está ditando novos comportamentos no ambiente digital, pois as demandas já estão começando a aparecer até mesmo nas redes sociais. Recentemente, o Instagram informou que vai começar a fazer testes com NFTs dentro da plataforma, então os influenciadores poderão criar os seus próprios NFTs. Então, muito em breve, talvez os múltiplos códigos de desconto que, atualmente, esses criadores e influenciadores distribuem, poderão ser substituídos por tokens ou sequências numéricas criadas especificamente para cada uma destas ações. De modo semelhante, os NFTs dão o senso de pertencimento e autenticidade que historicamente encanta todo fã e possui um alto valor de mercado. Mas de nada adianta, se todas essas iniciativas continuarem estritas ao grupo já dominante. Uma economia mais criativa deve passar, intrinsecamente, pela diversidade”, explica Ricardo Silvestre, CEO da Black Influence.
Os Social Tokens como alternativa de negócios
Um dos conceitos popularizados dentro dos NFTs são os Social Tokens. Um tipo de criptomoeda utilizada para monetizar comunidades e relacionamentos. “Um creator pode facilmente utilizar uma plataforma e criar seus tokens pessoais. Dessa forma o fãs e ídolos podem se libertar das plataformas atuais e estabelecer um meio de comunicação direto onde eles detêm o poder para estabelecer as regras e recompensas dessa relação. Ao contrário do que ocorre hoje, onde o apenas o ídolo é remunerado, neste novo cenário é possível que os fãs e ídolos gerem uma economia própria onde ambos podem obter ganhos financeiros desta relação.”, completa Cintia Ferreira.
Recentemente o ex-jogador da seleção brasileira, Roberto Carlos, lançou seu token chamado $RC3. Segundo o próprio atleta, a ideia é proporcionar novas experiências, partilhar valor, oportunidades, distribuição de merchandising, e benefícios com a comunidade de fãs. Ana Paula Passarelli, cofundadora e COO da Brunch, explica que o impacto está diretamente relacionado à intermediação excessiva no trabalho do criador em todas as etapas, desde a criação até a veiculação dos projetos. “Seja nas artes visuais, na música ou no conteúdo, o número de agentes que não agregam de maneira estratégica é grande. Alguns trabalhos, para chegarem no cliente final, passam por mais de cinco intermediários, por exemplo”, explica Passarelli.
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“A migração da produtização de conteúdos para os formatos NFT pode ajudar a reduzir consideravelmente essa intermediação a parceiros que sejam efetivamente estratégicos ao processo, com possível redução de custos operacionais e aumento de valor às produções dos criadores, tornando isso até mais acessível para o público. O formato NFT também oferece à comunidade e ao criador uma nova relação comercial baseada em fidelidade, além de ser protegida por blockchain”, destaca a executiva da Brunch.
Ela explica, por exemplo que, um criador de conteúdo escritor e roteirista, que trabalha em salas de roteiros, pode criar um NFT com material de referência para outros roteiristas ou story tellers. “Diferente dos processos comerciais tradicionais, onde ele permanece como autor, mas negocia a propriedade de sua obra com os intermediários, em um marketplace de NFT ele pode realizar a venda de seu conteúdo de forma exclusiva, ceder a propriedade diretamente para sua comunidade e passar a construir uma carteira própria de clientes”, conclui Ana.
“Ainda é cedo para saber os casos de uso dos NFTs que de fato irão se consolidar. Porém, já dá para ter alguns palpites fortes. No caso das marcas ligadas a moda e estilo, o caminho passa pela criação de versões digitais limitadas de suas peças mais icônicas”, diz o professor Álvaro Machado Dias, neurocientista. “A ideia é que tais peças sejam utilizadas por avatares nos diferentes metaversos e que possam ser comercializadas junto a certificados de autenticidade registrados em blockchain (NFT).”
O que o uso de NFT na moda ensina aos criadores?
No Brasil, já são vários os exemplos de criadores que estão envolvidos neste universo. Felipe Neto, Nobru e Whindersson Nunes são alguns dos principais nomes do país que já estão envolvidos no assunto. “O último dessa lista, inclusive, chegou a lançar uma coleção de NFTs da luta contra Popó no começo do ano, promovendo a disputa que gerou muita atenção na mídia e nas redes sociais. Em comum, eles possuem comunidades engajadas e que abraçam as novas ideias dos criadores”, observa Felipe Oliva, CEO da Squid.
“O próprio assunto é motivo de debates na publicidade e no marketing. Seja você um defensor ou crítico dos NFTs, não há como negar que ele existe, é importante e pode sim ser uma nova fonte de criatividade, engajamento e bons resultados para as empresas. Mais do que discutir as opiniões sobre os ativos digitais, o foco agora precisa estar no que realmente importa: as comunidades. E é justamente nesse ponto que o marketing de influência se mostra fundamental, pois ele apresenta as ferramentas necessárias para tornar esse potencial em algo palpável”, destaca Felipe.
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Para Raphael Pinho, Fundador e CEO da Spark, os NFTs são mais uma maneira dos creators monetizarem seu trabalho, terem mais controle sobre ele e se aproximarem de seus fãs e seguidores por meio do universo digital, o metaverso. “Por ser uma tecnologia que não utiliza de intermediários e é baseado em blockchains, os NFTs podem garantir maior lucro aos influenciadores e criadores, além de agregar valor à propriedade do conteúdo. Desta forma, a dinâmica pode mudar a partir do momento que os creators não mais dependerão única e exclusivamente de marcas os contratando para publiposts. Os NFTs de maior valor hoje em dia estão atrelados a experiências, e neste sentido os creators são grandes geradores de desejo por parte dos seus seguidores e comunidades ao seu redor.”
Ao vivo e em escala
Etienne Du Jardin, cofundadora da Mimo Live Sales, destaca que, no caso do live-commerce, a democratização da tecnologia tem sido fundamental para impulsionar mercados e demandas. “E com isso, criadoras(es) de conteúdo, influenciadoras(es) de decisão e pessoas comuns que tem alto poder de engajamento poderão ganhar muito dinheiro, além de movimentarem a descentralização econômica. Com o live- commerce, por exemplo, marcas e influenciadoras(es) podem se conectar gerando conteúdos de qualidade para os consumidores e renda. Ganha a marca que vai vender com a comunicação adequada à públicos específicos, ganham influenciadoras(es) que poderão negociar seus percentuais de venda diretamente e ganham os consumidores, que terão conteúdos que conversam de verdade com eles. No caso de criadoras(es) digitais, nunca a negociação do seu capital intelectual e artístico, ganhou tanta oportunidade de expansão”, destaca.
“Assim como as redes sociais surgiram no início dos anos 2000, acompanhamos agora a evolução para NFT, web3 e outras tecnologias. São novos caminhos de canais, novas possibilidades de interação e geração de conversas, além de formatos inéditos de mídia para usarmos influenciadores como meio. As interações entre audiência e influência, vão extrapolar a bolha das redes sociais. Vemos os games e cripto ganhando muito espaço, e machine learning e inteligência artificial serão capazes de fazer recomendações de conteúdos de forma descentralizada e com maior precisão do que os veículos atuais”, conclui Flávio Santos, CEO da Mfield e autor do livro “Economia da Influência”.