Por mais estranho que possa parecer, a criação de animais que integram a cadeia alimentar tem se beneficiado da tecnologia utilizada na medicina humana, o que significa novas técnicas na rotina dessa indústria. A IA (inteligência artificial) na medicina tem representado, de fato, uma grande parte de seu crescimento. Agora, a IA também está se movendo para ajudar os pecuaristas a gerenciar melhor seus rebanhos.
Embora grande parte do foco da IA no campo tenha sido, na visão e na análise, voltada a processos internos, o mundo real da lida no campo vai além disso e pode ter outros sentidos, como o som emitido pelos animais. Na medicina humana, uma das primeiras e mais fáceis ferramentas de utilização é o raio-x. É por isso que a radiologia começou a usar a IA para procurar cânceres em humanos.
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No entanto, essa não é uma ferramenta fácil para utilizar na pecuária, embora os animais possam ser acometidos de doenças graves, como os problemas pulmonares. Uma delas, a DRB (Doença Respiratória Bovina) é muito contagiosa nos rebanhos bovinos. Ela causa pneumonia no bezerro, e isso pode ser fatal. Assim como na maioria das outras doenças em humanos e outros animais, quanto mais cedo a DRB puder ser identificada e tratada, melhor.
Dado que a DRB é, como o nome indica claramente, uma doença respiratória, pesquisadores da Merck Animal Health, multinacional de saúde animal, perceberam que poderiam utilizar microfones para captar sons e, em seguida, a IA para analisar esses sons em busca de recursos-chave. Tal como acontece com a visão, as redes neurais são a ferramenta ideal para a análise complexa do som capturado. Como esta é uma área nova e ainda existem especialistas que apenas têm uma ideia das principais características, o aprendizado supervisionado é o que eles usaram para treinar o sistema.
“Como o uso de gravações de som para DRB não é tão difundido quanto a radiologia em humanos, não existe um grande banco de dados comparável para treinamento de sistema”, disse Udi Cohen, PhD e chefe de pesquisa e desenvolvimento global da Merck Animal Health Intelligence Technology Labs. “Assim, utilizando recursos calculados a partir dos dados, o aprendizado supervisionado permite identificar elementos que devem ser utilizados para o reconhecimento do DRB. À medida que o conjunto de dados cresce, sempre procuraremos ver quais ferramentas adicionais podem ser usadas.”
Funciona assim: à medida que o gado passa pela calha de trabalho, em um curral por exemplo, a versão atual do Whisper on Arrival, que é tecnologia utilizada pela Merck, ajuda a identificar bezerros que provavelmente responderão à terapia antimicrobiana para doenças respiratórias bovinas. [Whisper, na tradução do inglês, significa sussurar.]
A expectativa é de que, à medida que as versões da máquina evoluam e mais diagnósticos sejam suportados por IA e outras tecnologias em campo, esse equipamento se integre a processos cada vez mais avançados que forneçam uma melhor análise de uma variedade mais ampla das condições corporais dos bovinos.
A pecuária é formada por uma ampla, variada e complexa série de indústrias que são essenciais para sustentar a grande população global de animais. Ferramentas que ajudam a gerir a pecuária de forma mais eficiente são críticas. Então, quando se melhora o cuidado com o gado, essas ações se tornam ainda mais importantes. A inteligência artificial está chegando com força a um número crescente de aplicações na pecuária, e a análise para minimizar o impacto do DRB é uma das mais recentes.
* David A. Teich é colaborador da Forbes EUA, consultor e escreve sobre IA (inteligência artificial), ML (machine learning ou aprendizado de máquina), robótica e outras tecnologias avançadas.