Prevista para ocorrer na segunda-feira, 29 de agosto, a missão Artemis 1 precisou ser adiada para amanhã (3) por problemas técnicos com o motor do foguete. O projeto da Nasa é emblemático. O investimento destinado ao programa já passa de US$ 90 bilhões (R$ 468,13 bilhões). A expedição sem tripulação tem como um de seus objetivos estabelecer presença humana permanente na superfície lunar no longo prazo.
Espera-se que cada um dos quatro primeiros lançamentos da Artemis, distribuídos nos próximos anos, não inclua pessoal e custe mais de US$ 4 bilhões (R$ 20,81 bilhões). A Nasa diz que está retornando à Lua por três razões principais: descoberta, inspiração para a próxima geração e oportunidade econômica. Se o programa Artemis for parecido com seu antecessor Apollo, que a agência espacial descontinuou no início dos anos 1970 depois de colocar 12 astronautas na Lua, ele produzirá produtos úteis usados. A Apollo, por exemplo, gerou a tecnologia subjacente ao GPS, satélites de telecomunicações, amortecedores para edifícios, fones de ouvido sem fio, tomografia computadorizada e purificadores de ar.
Artemis recebe o nome da deusa grega da Lua, que é gêmea de Apolo. A missão testará a possibilidade de vida humana não apenas na Lua, mas em Marte, colocando a humanidade um passo mais perto de ser uma espécie de múltiplos planetas, de acordo com Marshall Smith, ex-funcionário de alto escalão da Nasa.
“Há uma infinidade de razões pelas quais faz sentido continuar essa jornada no espaço”, disse Smith à Forbes. “Gastamos esse dinheiro construindo ciência e tecnologia, desenvolvendo nossa força de trabalho para poder fazer sistemas complexos.”
A Nasa não pode fazer isso sozinha. A agência está trabalhando com dezenas de empresas privadas e instituições sem fins lucrativos para tornar o retorno à Lua uma realidade. Aqui está uma amostra de como alguns empreendedores, startups recentes e outros inovadores estão participando da missão.
Buggies lunares
Durante as últimas três missões Apollo, os astronautas não apenas caminharam na Lua, eles dirigiram. Esse é o plano da Nasa para Artemis também, e várias empresas estão trabalhando duro tentando construir o carro dos sonhos de um astronauta.
Um colaborador é a Sierra Space, com sede em Louisville, Colorado, que revelou planos para construir um rover Artemis em abril. Em parceria com a montadora Nissan e a empresa de engenharia aeroespacial Teledyne Brown, a Sierra Space espera contribuir com software de comunicação e voo. A empresa, que também está desenvolvendo naves espaciais para entregar cargas à Estação Espacial Internacional, já estava trabalhando em rovers antes de firmar a parceria.
A Sierra Space foi fundada em 2021 pelos bilionários Eren e Fatih Ozmen como subsidiária da Sierra Nevada Corp. Ela foi avaliada em US$ 4,5 bilhões (R$ 23,41 bilhões) depois que sua rodada de financiamento mais recente em maio arrecadou US$ 24,3 milhões (R$ 121,72 milhões). A empresa diz que criou mais de 4.000 sistemas e componentes espaciais para cerca de 500 missões.
Outra empresa que trabalha em um novo buggy lunar é a startup Astrolab, com sede na Califórnia, fundada em 2020, que está em processo de construção do rover “Flexible Logistics and Exploration”, ou FLEX, projetado para transportar cargas e pessoas e tem um capacidade de cerca de 3.300 libras – comparável a uma caminhonete Ford F250. O que diferencia o FLEX de outros rovers é sua capacidade de carga útil modular. É capaz de anexar diferentes cargas e implementos, enquanto os rovers mais antigos de Marte, como Curiosity e Perseverance, tinham uma carga útil fixa.
“Acho que o que torna nossa equipe única é que temos um design realmente novo e inovador com o FLEX”, disse Jaret Matthews, fundador e CEO da Astrolab, à Forbes. “Esta capacidade modular de carga útil dá ao rover uma tremenda versatilidade, e achamos que isso é necessário para realizar as coisas quando os astronautas estão lá, mas também quando eles não estão”.
Sujeira da Lua
Quando retornarem à Lua, os astronautas não estarão apenas passeando em seus novos brinquedos ou jogando bolas de golfe. Eles terão ciência para fazer. A recuperação de regolito, uma palavra chique para rochas lunares, é uma parte vital da missão Artemis. Isso porque o objetivo da Nasa de estabelecer uma sociedade habitável na Lua depende de trabalhar com o que está disponível na superfície lunar para criar coisas como a agricultura. Também há consideração pelo que também pode funcionar em Marte, asteroides ou outros corpos celestes.
A frase “barato como sujeira” não se aplica à Lua. Em 2002, depois que três estagiários da Nasa roubaram rochas lunares do laboratório do Johnson Space Center em Houston, um valor foi atribuído aos 48,5 quilos de regolito que os astronautas da Apollo trouxeram de volta: cerca de US$ 1,1 bilhão (R$ 5,72 bilhões). Os estagiários foram pegos.
As divisões japonesa e europeia da startup Ispace, com sede em Tóquio, têm contratos de US$ 5.000 (R$ 26.007) com a Nasa para ajudar no processo de recuperação de sujeira. Eles planejam coletar amostras de solo lunar e essencialmente vendê-las para a Nasa. Este será um momento histórico, pois marcará a primeira transação comercial de material lunar a ocorrer no espaço. A equipe japonesa da Ispace terá seu módulo de pouso a bordo de um foguete SpaceX Falcon 9, do qual seguirá para o lado nordeste da Lua para coletar amostras não antes de novembro. O projeto da Ispace Europe irá para o espaço em 2023, com foco em rochas usando seu micro rover no Pólo Sul lunar.
A empresa, avaliada em US$ 193 milhões (R$ 1 bilhão), de acordo com o Pitchbook, está focada na construção de uma variedade de projetos lunares. Começou como um projeto Google Lunar XPRIZE. Em 2010, o fundador e CEO da empresa, Takeshi Hakamada, assumiu essa equipe, que foi a única finalista japonesa entre as cinco concorrentes do projeto XPRIZE, e fundou a Ispace. A divisão americana da empresa tem outro contrato com a Nasa no valor de US$ 73 milhões (R$ 379 milhões) para levar seus Serviços de Carga Útil Lunar Comercial à Lua para missões Artemis posteriores.
“Temos o prazer de receber esses dois prêmios da Nasa pelo que será um momento histórico para a humanidade”, disse Hakamada via comunicado. “Para a indústria espacial, bem como o potencial de todas as indústrias na Terra, isso marca o início de uma economia cislunar onde o valor econômico pode ser criado na Lua, além da Terra – mas para o benefício da economia da Terra.”
Programado para se juntar à Ispace Europe em 2023 no Pólo Sul lunar está a Masten Space Systems. A empresa com sede em Mojave, Califórnia, fundada em 2004, tem o maior contrato dos quatro extratores de rochas, com US$ 15.000 (R$ 78.000). Ela também tem um contrato de US$ 81 milhões (R$ 421 milhões) com a Nasa para construir um módulo lunar robótico. Masten planeja recuperar amostras lunares com um método chamado Rocket Mining System, que usa um motor de foguete pressurizado para cavar a superfície.