Manter o caixa saudável é a sua missão número 1 para 2023. Certo? O ano começou e, com ele, o movimento que vimos acontecer em 2022 no ecossistema de inovação global e brasileiro segue apontando para uma realidade de investidores mais cautelosos ao fazer seus aportes. Tudo isso em meio a uma forte turbulência no mundo das big techs. Ações em queda, novos concorrentes e demissões.
Ah, as demissões. Mal entramos em 2023 e já ocorreram 40 layoffs em empresas de tecnologia, impactando 19.111 colaboradores. Sim, o ano começou assim e não há sinal de que isso irá parar. Um dos mais recentes foi o da Amazon, que já atingiu 8 mil pessoas, mas pelo que temos visto será de 18 mil. Em 2022, foram mais de 1,5 mil layoffs em players de tech, atingindo 237,8 mil profissionais.
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É ruim demitir, claro que é. Demite-se, geralmente, em tempos complexos e para manter a saúde financeira da operação. Em muitos casos, especialmente neste setor, para fazer ajustes de tempos de bonança em que o dinheiro que era farto, e que agora rareou. Sustentabilidade do negócio é algo que, aliás, todos os empreendedores precisam estar sempre muito atentos.
Mas, também quero ser muito clara com vocês aqui. Mesmo com o clima econômico e geopolítico atual, a tecnologia seguirá sendo um investimento crítico e definitivo para as companhias. Dados recentes da consultoria global Bain apontam que 77% dos executivos ouvidos planejam aumentar o seu orçamento em tecnologia em 2023.
Por quê? Porque esse é o caminho para se alcançar mais produtividade, velocidade e competitividade. Alguém aí vai querer abrir mão destes indicadores para as suas empresas? Não, né? Ainda de acordo com a Bain, mais de 75% dos maiores investimentos de capital de risco foram feitos em infraestrutura de TI e empresas de software empresarial nos últimos anos. Eu, como investidora tech, estou mais do que nunca de olho nas oportunidades deste mercado.
Fiquei mais cautelosa desde 2022? Sim. Vi que era um cenário mais árido, passei a investir nas empresas mais consolidadas para mitigar risco, mas ainda é desafiador. Em boa parte das minhas investidas, estamos fazendo um trabalho forte para a equalização de fluxos de receita.
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Quando olho para o meu portfólio, observo cada vez mais como as empresas conseguem gerenciar a geração de resultado com a produtividade e gestão de pessoas. Esses são os três pontos críticos para o sucesso de uma operação.
Vivemos um momento de muito aprendizado. A cultura do dinheiro rápido e fácil esteve muito presente até então no ecossistema de inovação. Grandes valuations, retornos expressivos. Colocamos um holofote nas startups com crescimento acelerado o que, claro, tornava essas empresas muito atrativas para os investidores, para parceiros e novos talentos.
Cenários assim, entretanto, não se sustentam no longo prazo. Sempre surge um freio. Neste caso, foi o que vimos acontecer em 2022: alta dos juros e da inflação, guerra entre Rússia e Ucrânia, quebra no fornecimento de insumos para tech, novo momento do mercado de consumo. A ressaca veio, e vai nos acompanhar nos próximos meses.
O que você, fundador, deve fazer agora? Olhar para os pilares de sustentação da sua empresa. Reduzir custos, aumentar receita, construir uma cultura empresarial sólida e atrativa para os melhores talentos. Focar em crescimento sustentável.
Ser empreendedor é lutar pelos seus sonhos todos os dias, apesar da vontade de desistir. O empreendedor raiz está mais valorizado do que nunca. Aquele apaixonado pelo problema que deseja resolver, que vai a fundo para entender as dores do mercado, que pensa na estratégia, que monitora as ameaças aos negócios que possam surgir – bem como as oportunidades. Que constrói um time complementar, que não se acomoda. Que está focado em construir negócios reais.
Esse empreendedor me faz ter certeza que, apesar do cenário complexo do mercado, vamos seguir avançando para formar as empresas que serão o futuro da nossa economia.
Camila Farani é Top Voice no LinkedIn Brasil e a única mulher bicampeã premiada como Melhor Investidora-Anjo no Startup Awards 2016 e 2018. Sócia-fundadora da G2 Capital, uma butique de investimentos em empresas de tecnologia, as startups.
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