Inovação e tecnologia em nome da democratização da saúde visual. Em poucas palavras, esse é o resumo da essência da Phelcom (sediada em São Carlos, no interior de São Paulo, com escritório em Boston, nos EUA), empresa que desenvolve dispositivos portáteis com inteligência artificial embarcada para diagnósticos imediatos.
Com o intuito de reverter o quadro de que 75% dos 250 milhões de casos de cegueira ou deficiência visual grave acontecem por falta de prevenção ou tratamento equivocado, a empresa entrou no mercado com o Eyer. Trata-se de um retinógrafo portátil que está sendo um divisor de águas na vida de milhares de pessoas graças ao exame de retina realizado de maneira simples e rápida. São mais de 50 doenças que podem ser detectadas, como retinopatia diabética, glaucoma, catarata, retinopatia hipertensiva e toxoplasmose ocular. Os dados do exame sobem para uma nuvem e podem ser acessados por médicos em qualquer lugar do mundo.
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A Phelcom nasceu do encontro de três amigos da Universidade de São Paulo (em 2010, ganharam Olimpíadas de Inovação da USP) que resolveram somar suas habilidades inicialmente para atender ao irmão de um dos sócios (Diego), que nasceu com um problema de retina. O trio é 054 composto por José Augusto Stuchi (CEO), Flavio Paschoal Vieira (COO) e Diego Lencione (CTO). O nome Phelcom é a costura de três abreviações que traduzem a especialidade de cada um: “ph” para physics (Diego); “el” para eletronics (Flavio) e “com” para computing (José Augusto). O protótipo do Eyer é de 2015 – chegou ao mercado em 2019.
Desde então, a empresa cresce a todo vapor – virou um case requisitado dentro e fora do país: em outubro, os sócios estavam no oitavo simpósio nos Estados Unidos; no Brasil, estiveram em mais de 20 eventos este ano – além de terem desenvolvido mais de 100 ações sociais. “2022 foi o ano da internacionalização. Era um sonho desde 2020, ter o melhor produto do mundo neste setor, batendo o Japão e a Alemanha”, celebra o CEO José Augusto Stuchi, que contabilizou até setembro o número de vendas de todo ano passado e exportações para Estados Unidos, Japão, Chile e Colômbia. Já são 1,2 milhão de pacientes examinados.
O fato de terem um produto de ponta não diminui o apetite pela inovação – pelo contrário. “A inovação está no berço da empresa”, sintetiza José Augusto. “Normalmente, as equipes de vendas são mais numerosas, mas, na Phelcom, 30% dos funcionários trabalham em pesquisa e desenvolvimento.” Entre os parceiros, destaque para a Samsung, Fapesp, Hospital Albert Einstein, Unifesp e a incubadora de startups Eretz.bio.
O CEO adianta que, entre os objetivos para 2023, estão o lançamento de novas tecnologias e escalar o mercado dos Estados Unidos. “O mercado norte-americano é muito exigente não só em qualidade, mas também na objetividade. Os produtos de sucesso apresentam uma simplificação extrema.”
Em julho, no maior congresso de retina em Nova York, a Phelcom apresentou a ação em que a enfermeira utiliza o Eyer no população de Poço Redondo, pequenina cidade no sertão sergipano, com 35 mil habitantes, e os dados são analisados pelos médicos em Aracaju, capital do estado. As distâncias podem ser ainda maiores, como em outro projeto, em que o Eyer é utilizado no Quênia e os médicos estão nos Estados Unidos. “Desde que comecei a me interessar por informática e programação, com uns 12 anos, eu já tinha o sonho de atuar em saúde. Encontrar soluções nessa área é muito gratificante.”
*Reportagem publicada na edição 102, lançada em outubro de 2022