Lançado em novembro de 2022, o ChatGPT, que inicialmente poderia ser apenas mais uma sigla associada à tecnologia, tornou-se um dos temas mais comentados dos últimos meses. Se no ano passado o assunto predominante na inovação foi metaverso, em 2023, o sistema conversacional tem alçado a inteligência artificial ao topo das buscas. Muito além das funcionalidades e impacto no trabalho, marketing ou na indústria, dentre vários outros segmentos, o ChatGPT tem movimentado negócios e investimentos. Em especial, a OpenAI, empresa dona da tecnologia, transformou-se de uma organização sem fins lucrativos em uma startup unicórnio que fechou um acordo de US$ 10 bilhões com a Microsoft e já possui várias expectativas de rodadas de captação ainda em 2023.
De acordo com o Wall Street Journal, os fundos Thrive Capital e Founders Fund negociam a compra de uma nova fatia da empresa, por um valor próximo de US$ 300 milhões. Y Combinator, Sequoia, Andreessen Horowitz e Tiger Global também mantêm ações da startup de inteligência artificial. No ano passado, várias pesquisas apontaram o metaverso como uma das principais possibilidades de receitas para os próximos anos. Luis Fernando Guedes, professor da FIA Business School, explica que a inteligência artificial está na pauta da academia há 50 anos e nos últimos 5 anos passou a fazer parte do cotidiano das organizações e governos, principalmente devido a dois fenômenos: disponibilidade de dados em formato digital sobre a operação e a diminuição do custo de processamento de dados.
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“Os algoritmos de IA foram aprimorados por conta da demanda do mercado para aplicações cada vez mais inteligentes. Waze, Google, Instagram e Tinder ,por exemplo, fazem uso intensivo dos dados dos usuários e de diversas outras fontes para entregar resultados a milhões de pessoas. O hype aqui funcionou bem, ao atrair atenção, financiamento, capacitação e talentos de todos os lugares. Um fenômeno parecido ocorre agora com a Inteligência Artificial Generativa, uma nova técnica que entrega resultados surpreendentes e baseados em milhões de pontos de dados não às companhias somente, mas ao varejo, a nós, estudantes e professores e advogados”, destaca o professor da FIA Business School.
Sobre o ChatGPT e a tecnologia que lhe dá fundamento, Luis destaca que ainda é um processo inicial. “É o princípio dessa onda e logo teremos outras versões, ainda mais potentes e assemelhadas à inteligência humana. Não resta muita dúvida sobre a ocorrência de novas ondas de inovação, baseadas nessa forma de dar sentido ao volume crescente de dados que produzimos todos os dias. Talvez estejamos prestes a ver o início da jornada da IA como aspecto inerente a tudo que fazemos, tal como é a eletricidade. Por fim, para além da tecnologia que virá, o que precisamos nas empresas e governos, urgentemente, é da generosidade, da atenção afetuosa, da empatia e consideração ampla sobre nosso ecossistema. Esse hype está difícil de chegar, mas não resta dúvida que virá.”
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Ricardo Cavallini, professor da Singularity University e autor de seis livros que abordam tecnologia, negócios e comunicação, escreve com frequência sobre tecnologias que ganham visibilidade, na maioria das vezes sob o questionamento da euforia. Em um de seus artigos recentes, Cavallini mencionou o próprio Ciclo do Hype, da Gartner. De acordo com o especialista, a primeira parte do gráfico mostra justamente a ilusão ou o chamado hype em torno de uma tecnologia. “Expectativas Exageradas mostram esse glamour provocado e impulsionado por influenciadores, mídia tradicional e vendedores de livros e palestras, todos prometendo benefícios inimagináveis.”
“O Ciclo do Hype é bem conhecido por pessoas que trabalham com tecnologia ou inovação. Apesar de ser um gráfico, ele mostra um conceito que aponta uma tendência humana de dar visibilidade exagerada para novas tecnologias. Isso é muito importante para pessoas e investidores que trabalham com tecnologia e inovação, o que hoje deveria ser traduzido como todas as empresas do mundo. No gráfico fica bem claro o risco de apostarmos atenção ou dinheiro exagerado em uma tecnologia baseado nessa expectativa distorcida.” , destaca Cavallini.
O que será do metaverso?
A própria Gartner, em seu último relatório de tendências para 2023, apontou algumas considerações sobre o metaverso. De acordo com o estudo, ele segue relevante como tendência em 2023, porém com alguns focos específicos. “O metaverso permite que as pessoas repliquem ou aprimorem suas atividades físicas. Isso poderia acontecer transportando ou ampliando as atividades físicas para um mundo virtual ou transformando o mundo físico. É uma inovação combinatória composta por vários recursos e temas de tecnologia”, escreve David Groombridge, vice-presidente analista emérito dentro da equipe de líderes de TI e profissionais técnicos no Gartner Research.
Sobre IA, que também aparece no mapeamento, David sinala que ela permitirá “que o comportamento do modelo mude após a implantação, usando feedback em tempo real, para treinar continuamente os modelos e aprender dentro dos ambientes de desenvolvimento e tempo de execução, com base em novos dados e metas ajustadas para se adaptar rapidamente às mudanças nas circunstâncias do mundo real.”