A partir de hoje (11) e até domingo (16), a Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, recebe a quinta edição do Rio2C. O evento, que mescla inovação, negócios e entretenimento, reunirá mais de 1,2 mil palestrantes e 40 mil pessoas. Criado em 2018, o Rio2C tornou-se referência na América Latina, nascendo sob a premissa de equilibrar conteúdo e networking. Rafael Lazarini, fundador e CEO do Rio2C e Vice-presidente e head de desenvolvimento de negócios da Live Nation Entertainment para a América Latina, explica que essa edição marca uma nova fase não só do evento, mas do Rio e do Brasil como hubs de inovação na região.
De acordo com Lazarini, o evento também ilustra parte de sua trajetória recente que reúne uma série de disciplinas e projetos que conectam inovação, negócios e entretenimento. Com 25 anos de experiência na indústria de eventos, o executivo trocou a faculdade de Engenharia Naval, em 1991, pela de Marketing. À época, já tinha a compreensão de queria tornar-se uma referência do show business.
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Na década de 1990, atuou na noite carioca, junto com um grupo de três amigos do colégio. Ainda nos anos 90, foi um dos fundadores do Rock Memória Café, o primeiro bar temático do país, inspirado no Hard Rock Cafe, dedicado à memória de expoentes do rock nacional. “A gente tinha tudo lá, desde a roupa do último show do Cazuza, até os discos de platina de vários artistas, como o RPM, Mamonas Assassinas”, conta Lazarini.
“Como um evento originário do Rio de Janeiro, desenvolvido por cariocas e que carrega o nome da cidade, o Rio2C traz a cultura local profundamente impressa em seu DNA, se transformando assim em um projeto de grande relevância cultural e econômica para a cidade e para a indústria criativa brasileira”
Em 2006, viajou para Los Angeles para uma temporada de dois anos, onde se especializou em gestão de mídia e entretenimento pela UCLA e fez mestrado em gestão de entretenimento pela USC, além de trabalhar na Rogers and Cowan, empresa de marketing e PR. “Essa fase foi muito rica para o meu entendimento do entretenimento como um todo, já que a empresa patrocinava eventos de naturezas diversas, como teatro, festivais de cinema, festivais de música, Fórmula 1, campeonatos de surfe e projetos sociais”, lembra o executivo.
Na volta, em 2010, Lazarini ingressou na EBX com a missão de construir uma área de entretenimento na empresa, sendo responsável por algumas das mais importantes operações da indústria no Brasil, como as joint ventures com a IMG, a maior empresa de marketing esportivo do mundo, batizada de IMX, e com o Cirque du Soleil para a comercialização de espetáculos da companhia em toda a América do Sul, além da compra de 50% do Rock in Rio.
Em 2014, retornou para os Estados Unidos, convidado por Roberto Medina, para comandar o departamento de captação e desenvolvimento de negócios internacionais do Rock in Rio Las Vegas, realizado em 2015, mesmo ano em que assumiu a vice-presidência.
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“O que me dá mais prazer é construir negócios do zero. Foi assim quando montei a IMX, hoje IMM, no início de 2010 e novamente agora com a Live Nation. Em 2016, eu me mudei de Los Angeles para o Brasil com o desafio de abrir o primeiro escritório para a América Latina. Naquela época, a empresa não tinha nenhuma operação proprietária na região. Começando pelo Brasil, expandimos as atividades para Argentina, Chile e México”, lembra o executivo.
“Ficou claro também que existia ainda um outro movimento a ser feito, dessa vez com relação ao Lollapalooza. O fim do contrato da C3, que é a proprietária do festival e pertencente ao grupo da Live Nation, com a Time for Fun, estava próximo e do ponto de vista de estratégia de negócios não fazia sentido renovar. Então, realizamos um trabalho de aproximação entre os times da C3 e Rock World para que após esta edição de 2023, o Lolla passasse a se produzido pela Rock World e viesse dessa forma para dentro do ‘chapéu’ da LN”
Brasil, referência em inovação
No Brasil, Lazarini lidera o desenvolvimento dos negócios e a estratégia local da Live Nation. “O primeiro movimento foi a aquisição de participação na Rock World, que é a empresa responsável pela produção do Rock in Rio. No ano seguinte, veio e estruturação da operação de concert promotion para a produção e operação local das grandes turnês mundiais da empresa, que tem hoje o Alexandre Faria na liderança.”
“Na sequência, começamos a estudar o melhor caminho para trazer a Ticketmaster, que é uma empresa pertencente ao ecossistema da Live Nation Entertainment, também para o Brasil. Mas o período de amadurecimento desses projetos é grande. É uma curva longa até se concretizar. Estávamos evoluindo bem em um caminho até que chegou a pandemia. Tivemos obviamente da paralisar nossas atividades e pausar todas as negociações em curso”, conta.
Além do desenvolvimento e aquisição de novos negócios, outra atribuição do executivo é buscar sinergias entre os projetos e ativos que temos na região. “Neste sentido, a pausa imposta pela pandemia foi também um período para analisar oportunidades de potencializar os negócios que já estavam dentro de casa, como o do (Roberto) Medina de realizar pela Rock World um festival com a magnitude do Rock in Rio em São Paulo. Daí surge o The Town.”
“Ficou claro também que existia ainda um outro movimento a ser feito, dessa vez com relação ao Lollapalooza. O fim do contrato da C3, que é a proprietária do festival e pertencente ao grupo da Live Nation, com a Time for Fun, estava próximo e do ponto de vista de estratégia de negócios não fazia sentido renovar. Então, realizamos um trabalho de aproximação entre os times da C3 e Rock World para que após esta edição de 2023, o Lolla passasse a se produzido pela Rock World e viesse dessa forma para dentro do ‘chapéu’ da LN”, comenta.
Rio2C e um sonho que se tornou real
“Como um evento originário do Rio de Janeiro, desenvolvido por cariocas e que carrega o nome da cidade, o Rio2C traz a cultura local profundamente impressa em seu DNA, se transformando assim em um projeto de grande relevância cultural e econômica para a cidade e para a indústria criativa brasileira. Essa conexão com a comunidade também ajuda a criar um senso de orgulho e pertencimento em relação ao evento, o que gera um maior envolvimento e engajamento do público e multiplica as externalidades positivas. Assim como outros eventos de grande sucesso, como o SXSW, ou o Festival de Publicidade de Cannes, que projetam suas cidades globalmente através da criatividade, o Rio2C é uma oportunidade ímpar para mostrar ao mundo o potencial criativo e inovador do Rio de Janeiro e do Brasil”, explica Lazarini.
“Ao trazer o Soft Power como tema central do Rio2C, procuramos reforçar o conceito e apontar para um caminho muito viável para o Rio de Janeiro e o Brasil se posicionarem globalmente e fortalecerem suas marcas e identidades pelo mundo”
Neste ano, o conceito de soft power, temática do evento, se refere à capacidade de influenciar outros países e consolidar a imagem internacional de um lugar através da cultura, da arte, do entretenimento e da criatividade. A indústria criativa tem um papel fundamental nesse sentido, pois gera impacto econômico e também ajuda a projetar a identidade cultural de uma região.
“Ao trazer o Soft Power como tema central do Rio2C, procuramos reforçar o conceito e apontar para um caminho muito viável para o Rio de Janeiro e o Brasil se posicionarem globalmente e fortalecerem suas marcas e identidades pelo mundo. A indústria criativa tem se mostrado um setor de grande relevância econômica em todo o mundo, e o Brasil não é exceção. Segundo dados do Ministério da Cultura, a economia criativa representa cerca de 2,6% do PIB brasileiro, empregando mais de 1,5 milhão de pessoas em todo o país. Além disso, ela tem um grande potencial de geração de empregos qualificados, remuneração acima da média e desenvolvimento de tecnologias inovadoras. No entanto, ainda temos um grande potencial a ser explorado. Em comparação com países como Estados Unidos e Reino Unido, onde a indústria criativa já representa cerca de 7% e 9% do PIB, respectivamente, o Brasil tem muito a evoluir.”
A próxima fase do setor de eventos
“Esses últimos anos têm sido bastante desafiadores. O setor de eventos foi o mais impactado pela pandemia e enfrentou desafios significativos como medidas de distanciamento social e restrições a grandes aglomerações. Muitos eventos foram cancelados ou tiveram que se adaptar e mudar de endereço para as plataformas virtuais. E agora tem que lidar com um aumento crescente de demanda, ao mesmo tempo que lida com desafios na busca por talentos, fornecedores desestruturados e custos inflacionados”, comenta Lazarini.
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“Acredito que, como um todo, há uma perspectiva positiva para o setor nessa era nesse pós-pandêmica. Temos observado uma demanda enorme por shows e festivais. Certamente a demanda reprimida dos fãs que foram privados de entretenimento ao vivo por quase dois anos é um fator primordial para essa explosão. Mas não acredito que seja apenas a demanda reprimida que impulsiona o ressurgimento do setor. Os eventos precisarão se adaptar às mudanças nas preferências e comportamentos do consumidor. A pandemia acelerou a digitalização, o que fatalmente acarretará uma mudança irreversível na forma com que as pessoas se relacionam, são impactadas e consomem. Para se manter relevante, o setor precisará abraçar novas tecnologias e incorporá-las em suas ofertas”, conclui Lazarini.