Se você tivesse uma varinha mágica, o que você escolheria para transformar na sua vida e na daqueles que o cercam? Mais do que isso, qual ponto de mudança, qual aspecto você escolheria para transformar toda uma sociedade?
De vez em quando, eu me pego pensando nessa pergunta. Por trás dela, está a resposta para subirmos na escala social. Quando cheguei nos Estados Unidos, anos atrás, conheci a expressão “escada social“. Sim, escada, e não escala. Me pareceu curioso não usarmos no Brasil essa expressão “escada social” no sentido de figurativo de termos um recurso para chegar mais rápido e mais eficaz ao lugar que desejamos alcançar. De forma democrática, essa escada oferece opções de caminhos, por vezes mais árduos e desafiadores, para aqueles que não querem seguir a linha reta da vida. A imagem clara que vem à mente é a seguinte: durante a vida, cada um percorre o seu caminho. Isso não é novidade, mas imagine esse caminho para além de curvas, bifurcações e tropeços que damos.
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Nesse caminho também existe uma escada que pode nos levar a patamares mais altos. Parece óbvio. E é. Então por que não encaramos essa escada social como um desafio central durante o tal caminho da vida? E para chegarmos mais alto e mais longe, vem a pergunta: qual é o agente catalisador para nos impulsionar na escada social? Aquele capaz de nos ajudar a subir independentemente do momento de vida, das circunstâncias herdadas e dos desafios de cada etapa a ser construída e superada?
Esse catalisador se chama educação. Podemos pensar em uma infinidade de casos que comprovam transformações pela educação. Para exemplificar, trago casos de pessoas, empresas e países.
Uma das pessoas atualmente mais icônicas aqui no Vale do Silício, é sem dúvida o visionário Elon Musk. Podemos gostar ou não da personalidade dele, ter nossas opiniões sobre a compra do Twitter e a mudança da marca para X, mas todos concordam sua ousadia em fundar a Tesla, o SpaceX, e outras empreitadas inovadoras. Musk atribui grande parte de seu sucesso a seu voraz apetite por aprendizado, de acordo com entrevistas, podcasts, e sua própria biografia. Seu histórico educacional e busca contínua por conhecimento foram instrumentais em sua capacidade de revolucionar diversas indústrias. Nascido na África do Sul, Musk imigrou para o Canadá para cursar a faculdade e nunca mais parou de subir a escada social, certamente impulsionado pelo seu infinito apetite intelectual.
Já empresas líderes em seus segmentos investem constantemente no desenvolvimento de talentos porque sabem que a inovação é uma das armas mais poderosas para se manter na avant-garde. A Amazon, por exemplo, criou o programa “Career Choice”, ou “Escolha de Carreira”, considerando a importância do crescimento dos funcionários dentro da empresa. Essa iniciativa arca com 95% das mensalidades para que os funcionários possam fazer cursos de alta demanda. Ou seja, a empresa investe no talento imediato e também no potencial que cada funcionário tem para além daquele momento, criando oportunidade de crescimento também na escada social. Outra empresa que investe consideravelmente na sua força de trabalho é a Ambev. Com uma equipe impressionante de mais de 170 mil funcionários espalhados pelo planeta, a empresa consegue atrair, reter e desenvolver talentos com a premissa de que o desenvolvimento de pessoas é a base para a sua inovação e tecnologia. O segredo do sucesso é exatamente a oferta de educação corporativa, ou seja, educação adulta voltada para a transformação tanto individual como da empresa.
Por fim, temos os países. Exemplos da Polônia e Estônia são ainda mais impressionantes. A Polônia tem um comprometimento evidente com a educação infantil, com a idílica taxa de alfabetização de cerca de 99,8%. Já o índice de matrícula no ensino superior, hoje com 70% dos jovens entre 17 e 23 anos matriculados, contribui para uma força de trabalho qualificada, capaz de impulsionar a inovação. O país aumentou o investimento percentual do PIB em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), promovendo uma cultura de inovação e contribuindo para o progresso tecnológico. O fruto desse investimento é uma Polônia economicamente forte, com uma população bem posicionada para inovação e crescimento.
Por fim, a Estônia é considerada um milagre digital impulsionado pela educação. Após sair das sombras da União Soviética, o compromisso da Estônia com a educação desempenhou um papel fundamental na formação de sua identidade moderna. Hoje, o país prodígio da Europa não deixa dúvida do salto vertiginoso que a inovação tecnológica é capaz de trazer para o avanço econômico. A base de tudo isso? Educação.
A educação transcende o crescimento econômico; ela é o motor da mobilidade social. Um sistema educacional robusto que derruba barreiras e capacita os indivíduos a transcender limitações socioeconômicas. Países, empresas e pessoas que priorizam a educação contribuem para o aumento na mobilidade ascendente, da inovação e da tecnologia. A educação é a ponte entre a lacuna do privilégio e a oportunidade.
Essas histórias de sucesso nos lembram de uma verdade universal: a educação é a força motriz da transformação da sociedade. A educação não é um mero aspecto do desenvolvimento social; é o núcleo em torno da inovação e evolução. Essas jornadas notáveis comprovam que investir na educação desencadeia uma reação em efeito de crescimento em que todo e qualquer ser humano pode escolher subir cada degrau até chegar onde o desejo levar.
Iona Szkurnik é fundadora e CEO da Education Journey, plataforma de educação corporativa que usa Inteligência Artificial para uma experiência de aprendizagem personalizada com o maior portfólio de conteúdos do mercado. Com mestrado em Educação e Tecnologia pela Universidade de Stanford, Iona integrou o time de criação da primeira plataforma de educação online da universidade. Como executiva, Iona atuou durante oito anos no mercado de SaaS de edtechs no Vale do Silício, onde mora até hoje. Iona é também cofundadora da Brazil at Silicon Valley, fellow da Fundação Lemann, mentora de mulheres e investidora-anjo.
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