As ações da Apple caíram 6,1% entre a terça-feira (5) e a quinta-feira (7). Com isso, a empresa agora vale cerca de US$ 200 bilhões (R$ 1 trilhão) menos do que valia no início da semana. A queda foi provocada por duas medidas do governo chinês. Na quarta-feira (6), o país proibiu iPhones em escritórios do governo. Na quinta (7) foi noticiado que a China planeja expandir essa proibição para agências governamentais e empresas estatais.
EUA X China: como a disputa impacta os negócios da Apple
Quando as superpotências colidem sempre há danos colaterais.
Em parte, esse movimento do governo chinês é uma tentativa fazer com que setores sensíveis sejam menos dependentes de tecnologia estrangeira. É uma contrapartida à decisão de junho da União Europeia, de limitar o envolvimento da chinesa Huawei no desenvolvimento das redes 5G. Também pode ser uma retaliação às restrições dos EUA às vendas de chips de alta tecnologia para a China, assim a proibição da China comprar o equipamento de fabricação de chips da holandesa ASML, cujas máquinas de fotolitografia são usadas para produzir chips de computador sofisticados.
Outra preocupação do governo chinês é que a Apple está superando empresas locais de smartphones ao capturar uma fatia desproporcional do mercado doméstico. Os concorrentes chineses vendem mais unidades, mas graças aos preços de seus smartphones, a Apple ganha mais dinheiro.
O grande problema para a Apple em relação à deterioração das relações com a China é que, no ano fiscal de 2022, ela vendeu US$ 74 bilhões em iPhones para o que chama de “Grande China” – inclui China continental, Hong Kong, Macau, Taiwan e Tibete. Esse número foi de US$ 68 bilhões em 2021 e pode ser muito maior em 2023.
Esses resultados tornam a China o terceiro território mais lucrativo da Apple, depois das Américas (US$ 170 bilhões no ano fiscal de 2022) e da Europa (US$ 95 bilhões em 2022). A China, na prática, representa quase 20% da receita global da Apple.
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Como a Apple se tornou uma empresa “tão chinesa quanto americana”
A falta de vendas para pessoas no governo e em empregos relacionados ao governo é uma coisa, mas a imagem da Apple na China pode estar mudando para algo que não é bem visto pela elite governante, ou para uma ferramenta de inimigos ocidentais. Isso poderia resultar em quedas muito maiores nas vendas.
No entanto, a China é um problema significativamente maior para a Apple. Apesar das tentativas recentes produzir fora da China, incluindo a transferência de parte da produção para a Índia e instigando o principal fornecedor, a Foxconn, a investir na produção nos EUA, no Vietnã e no México, os especialistas afirmam que a desvinculação da China poderia levar anos, se for possível.
Apenas uma planta em Zhengzhou produz 85% de todos os modelos iPhone Pro, os smartphones mais caros e lucrativos vendidos pela Apple. Isso torna a empresa fundada por Steve Jobs quase tão chinesa quanto americana, de acordo com o professor da Universidade Cornell, Eli Friedman, em entrevista à CNN.
Em certo sentido, a China também precisa da Apple. Centenas de milhares de chineses trabalham fabricando os produtos da Apple para o mercado global, trazendo bilhões de dólares de valor para a economia chinesa.
No entanto, o governo chinês está frequentemente disposto a aceitar perdas temporárias táticas em busca de ganhos estratégicos maiores.
Em última análise, enquanto a guerra econômica latente entre os EUA e a China continuar – com a Europa em certa medida ao lado dos EUA – a Apple e a China existirão em uma relação complexa e desafiadora. E isso significa que a receita da Apple pode sofrer um impacto negativo a longo prazo.