Economista de formação, Sandor Caetano fez carreira na área de tecnologia, trabalhando com ciência de dados e inteligência artificial em empresas como iFood e Nubank. Agora, assume o novo cargo de Chief Data Officer do PicPay, criado para impulsionar uma cultura de dados orientada a resultados e a adoção da inteligência artificial em todas as áreas da empresa e nos seus produtos e serviços.
Com mais de 16 anos de carreira voltados para o assunto, o executivo observou o boom da sua área de atuação recentemente. “Com as novas tecnologias, as demandas por novos profissionais têm aumentado, e vejo mais executivos falando em IA por conta do sucesso que teve o ChatGPT.”
Caetano iniciou sua carreira no mercado financeiro, que ensaiava a digitalização com o avanço tecnológico, acelerados na pandemia. “Os bancos e fundos começaram a contratar pessoas que sabiam programar. Era para essa direção que o mercado estava andando. Então eu comecei a programar, sozinho.”
A história da tecnologia e ciência de dados começou na LCA Consultores, onde entrou para trabalhar em uma área que usava econometria, um conjunto de ferramentas estatísticas, para fazer projeções para grandes empresas. Depois de 10 anos trabalhando em consultoria, migrou para o lado das companhias, foi líder do time de data science do Nubank e vice-presidente de dados e IA do iFood. “Conforme fui crescendo na carreira e liderando pessoas, percebi que os problemas não eram mais de tecnologia, de programação, mas de alinhamento e comunicação”, diz ele, que passou boa parte da carreira atrás de um computador, escrevendo código.
Aqui, o novo Chief Data Officer mostra as principais habilidades para quem busca uma trajetória em tecnologia e os desafios que precisou vencer para assumir a liderança.
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Forbes: Como sua formação te ajudou a construir sua carreira em tecnologia?
Sandor Caetano: Acabei entrando nesse mundo de data science e inteligência artificial da maneira mais incomum possível: fui estudar economia para trabalhar no mercado financeiro. Me dediquei mais às matérias de macroeconomia e mercados financeiros na época. Mas com o passar do tempo, trabalhando como economista, passei a precisar usar mais microeconomia e econometria para as projeções que eu precisava fazer na época para as empresas. E isso me deu as bases para aprender a fazer projeções e modelos e trabalhar com dados, na época econométricos, estatísticos. Isso foi evoluindo para o que hoje chamamos de data science, hoje se fala muito mais até de inteligência artificial, que é algo que ganhou uma escala maior do que era antigamente. Antes era mais difícil ter acesso a dados, mas as técnicas foram evoluindo, e isso deu a base para a minha carreira hoje.
F: O que você destaca que é importante para ser um executivo de tecnologia, dados e voltado para IA?
SC: Acho que uma formação de exatas, engenharia, computação, ajuda bastante. Eu vim da área de humanas, mas economia tem um pé na parte quantitativa. É importante que você tenha uma formação que lide bastante com números, a matemática precisa ser natural e fazer parte do seu dia a dia. Isso vai te levar a um certo nível na sua carreira em que invariavelmente você vai precisar ter uma visão de negócios, como fazer para gerar resultado dentro da empresa. E aí é como se tivesse uma chavinha que vira na sua cabeça, e as ferramentas, metodologias, técnicas e entregas passam a se tornar secundárias diante do que realmente importa: gerar valor na conta. Essa parte é muito rara, eu mesmo aprendi isso com experiência da vida, não foi algo que me ensinaram na universidade – embora tenha feito um curso de MBA na FGV que ajudou a abrir minha mente.
F: Quais oportunidades você observa hoje nessas áreas?
SC: Muitas oportunidades, gigantes. Desde a parte de engenharia e tecnologia, geralmente as empresas têm muitas vagas abertas. O mercado de trabalho em tecnologia continua muito aquecido. E, com as novas tecnologias, as demandas por novos profissionais têm aumentado, vejo mais executivos falando em IA por conta do sucesso que teve o ChatGPT. Então vejo muita oportunidade em todas as profissões de tecnologia.
F: Ao longo da sua trajetória, quais habilidades você precisou desenvolver?
SC: Com certeza e de longe a capacidade de me comunicar. Passei boa parte da minha carreira atrás de um computador escrevendo código, e até na consultoria atendia menos clientes do que outros consultores. Passava mais tempo nos porões, como a gente brincava, escrevendo código. Conforme fui crescendo na carreira e liderando pessoas, fui percebendo que os problemas não eram mais de tecnologia, de programação, mas de alinhamento e comunicação, sobre como fazer as pessoas cantarem a mesma música e irem em direção à minha visão. É um negócio que vou precisar continuar evoluindo para sempre.
F: O que você busca em um profissional para a sua equipe hoje?
SC: Essa é uma pergunta bem difícil. O mercado de tecnologia é tão concorrido, e tem tantas habilidades e conhecimentos que podem ser aproveitados. O que sei é que tenho algumas necessidades. Por exemplo, um profissional que entenda de banco de dados, análise de dados, modelagem. Quando encontro alguém que tem parte dessas habilidades, valores compatíveis com os da empresa e vontade de aprender e se desenvolver, contrato e consigo fazer remanejamentos dentro dos times para aproveitar melhor as habilidades de cada um. O que é indispensável é a pessoa ter uma mentalidade de engenheiro, saber programar bem, saber boas práticas de programação. O resto podemos ajustar dentro do time.
F: Como os líderes devem agir para implementar a IA nas empresas e nas rotinas das suas equipes? Quais as suas maiores dificuldades nesse sentido?
SC: O primeiro desafio é um alinhamento no nível dos C-Level. Onde os executivos vão colocar os esforços para alavancar uma estratégia de IA na empresa? Quais áreas da empresa mais necessitam de recurso e podem ter mais impacto? Depois, vem outro alinhamento, sobre como as lideranças vão operar decisões que usem IA no seu dia a dia. É muito diferente montar um produto que gira em torno de AI, diferente de um tradicional de tecnologia, porque você precisa treinar o modelo, evolui-lo ao longo do tempo. Então os líderes precisam entender como tomar decisões em ambiente de incerteza para entregar valor. O terceiro componente é a dificuldade de encontrar profissionais, porque é um mercado muito aquecido. E quarto, o budget: a empresa tem que estar alinhada com relação ao valor que vai ser investido nisso. Sem um budget adequado e bem acordado na implantação, as iniciativas tendem a ser muito tímidas, e acabam não gerando o impacto necessário.
F: Qual foi o turning point da sua carreira?
SC: Foi depois que passei dez anos trabalhando como consultor. Atendi diversas empresas gigantescas no Brasil, e a gente fazia modelos de IA, mas com caráter consultivo. Ou seja, criava o modelo, fazia recomendações, a gente passava para o cliente e ele escolhia usar ou não as previsões feitas pelo meu time. O turning point foi quando entrei em empresas — não mais como consultor — e passei de fato a construir soluções de IA que impactassem diretamente o consumidor final. E aí passei a usar mais automação para mudar a forma como os produtos interagem com o cliente direto sem passar por uma camada que filtre a decisão. Resultado mais rápido e eficiente.
Por quais empresas passou
LCA Consultores (10 anos), Nubank (3 anos), iFood (4 anos e meio) e agora PicPay
Formação
Economia na USP e MBA em administração de empresas pela FGV
Primeiro cargo de liderança
Na LCA Consultores, liderando pessoas que não eram necessariamente economistas, mas profissionais de tecnologia.
Tempo de carreira
Mais de 16 anos