Como podemos nos preparar para um futuro com profissões que ainda não existem? Precisamos dar aos jovens acesso a conhecimentos acadêmicos robustos, competências técnicas e habilidades profissionais que lhes permitam se adaptar ao que o futuro requisitar.
-
Siga a Forbes no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida
Mas não podemos forçar nada aos jovens. Quando um jovem opta ativamente por tomar medidas em direção a um objetivo, eles farão de tudo para chegar lá. E é por isso que acredito em incentivá-los a seguir uma carreira movida pela paixão. E uma coisa que apaixona muitos jovens é jogar videogame.
A negligenciada habilidade com videogames
Os videogames já percorreram um longo caminho desde que foram criados. Muitos softwares de games são, inclusive, mais potentes do que o computador que levou os humanos à lua. Por causa do confinamento da pandemia, as vendas de videogames dispararam e o uso deles aumentou 75%, segundo a Verizon. Hoje, estima-se que existam 2,5 bilhões de jogadores em todo o mundo e, nos EUA, metade dos jogadores são mulheres.
Mas a percepção, claro, é que jogar é simplesmente uma distração, na melhor das hipóteses – e, na pior, uma perda de tempo. Afinal, o que você pode aprender jogando videogame?
Muito, segundo o novo relatório da consultoria ManpowerGroup chamado “Game to work: como os jogadores estão desenvolvendo as habilidades interpessoais de que os empregadores precisam”. Para os pesquisadores, os jogadores de games têm aprimorado habilidades como pensamento crítico, criatividade, inteligência emocional e resolução de problemas complexos com esse passatempo.
Leia também
- Quem são e o que fazem os profissionais de games e e-sports do Brasil
- Games e eSports ganham força como opção de carreira no Brasil
“Os jogos até ensinam aos jogadores como comunicar feedback de forma eficaz”, diz o estudo. Estas competências sociais são difíceis de encontrar e ainda mais difíceis de treinar – 43% dos empregadores afirmam que é mais difícil ensinar as competências sociais que procuram.”
Por isso, os recrutadores precisam ainda mais diversificar como selecionam os candidatos. “No atual contexto do mercado de trabalho, os empregadores precisam avaliar as competências de forma diferente e criativa para atrair novas fontes de talentos”, diz Tomas Chamorro-Premuzic, cientista-chefe de talentos do ManpowerGroup.
Aprendendo enquanto joga
Como parte da pesquisa que levou à produção do relatório “Game To Work”, o ManpowerGroup analisou cerca de 11 mil jogos de 13 diferentes tipos para identificar as habilidades profissionais que os jogadores desenvolvem nessa atividade. A consultoria também desenvolveu uma ferramenta on-line que identifica as competências desenvolvidas pelos indivíduos enquanto jogam a partir dos games favoritos deles.
Com jogos que se enquadram na categoria “Estratégia, quebra-cabeças e quizes”, por exemplo – “StarCraft”, “Civilization”, “Pac-Man”, “Words with friends” ou “League of legends” -, os jogadores desenvolvem habilidades como tomada de decisão, planejamento, concentração e persistência.
Ao jogar games de ação, aventura e RPG (sigla para role-playing games, nos quais os jogadores assumem papéis de personagens fictícios), como “World of Warcraft”, “Assassin’s Creed”, “Monster Hunter” ou “Pokemon”, habilidades como colaboração, comunicação, resolução de problemas e julgamento são desenvolvidas.
O relatório também identifica possíveis empregos e planos de carreira que correspondam a esses conjuntos de habilidades. Por exemplo, os jogadores que gostam de resolver quebra-cabeças e desafios podem se destacar em empregos como operadores de produção e máquinas, trabalhadores de armazéns e construção ou técnicos de controle de qualidade.
Como adicionar os games ao seu currículo
Uma das conclusões mais interessantes para mim do relatório “Game To Work” foi a ideia de que os jogadores deveriam ser incentivados a listar em seus currículos os games que gostam de jogar e as habilidades que estão aprendendo com essa atividade. Com isso, jogadores adquirem uma vantagem competitiva ao serem recrutados por empregadores mais de mente aberta.
Na Noruega, por exemplo, estima-se que mais de metade da população entre os 16 e os 24 anos joga videogames. As empresas que recrutam e avaliam ativamente como candidatos com base nas competências que aprenderam ao jogar.
Uma dessas empresas, uma empresa global de comércio eletrônico chamada Komplett, contratou funcionários que jogam games ao seu grupo de atendimento ao cliente. “Os jogadores desenvolvem conhecimentos e habilidades que são facilmente transferidos para o setor de comércio eletrônico, como conhecimentos com TI e habilidades cognitivas – foco, multitarefa e cooperação”, afirmou Daniel Hauan, gerente de atendimento ao cliente da Komplett.
Com o advento de tecnologias disruptivas como robôs e ferramentas de inteligência artificial, como o ChatGPT, precisaremos de pessoas que saibam como se adaptar e trabalhar junto com essa tecnologia nos empregos do futuro. É fácil imaginar um futuro em que os jovens possam aprender as competências necessárias para se destacarem nesses empregos, jogando videogames.
*Mark C. Perna é colaborador da Forbes USA. Ele é dono de uma empresa de consultoria corporativa e escreve sobre a transformação geracional do mercado de trabalho.
(Traduzido e adaptado por Gabriela Guido)