A Pretahub e a Salve Games lançaram, nesta semana, iniciativa inédita dentro do jogo Fortnite, uma das principais plataformas de games do mundo. O jogo Zumbi dos Palmares tem como objetivo resgatar a história de ícones da cultura negra brasileira. O Brasil é um mercado estratégico para os games e vem ganhando cada vez mais visibilidade nas narrativas desenvolvidas no país.
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Segundo a Pesquisa Game Brasil (PGB), o engajamento dos brasileiros com os games é de 82,1% que consideram que jogar jogos eletrônicos é uma das suas principais formas de diversão. Já sobre a etnia dos gamers brasileiros, como constatado nas edições anteriores, a maioria é negra (54,1%) quando somados aqueles que afirmam ser pretos (12,7%) ou pardos (41,4%), enquanto pessoas que se declaram brancas representam 42,2% dos jogadores no Brasil.
Adriana Barbosa, diretora-executiva da Pretahub e Alexandre de Maio, diretor da Salve.Games, falaram à Forbes Brasil sobre o projeto:
Forbes Brasil – Qual a importância do game como linguagem para fomentar o resgate de histórias importantes para o Brasil?
Adriana Barbosa – O projeto do jogo tem uma importância enorme, quando se trata da questão racial no Brasil, pois tem a possibilidade de contribuir com a educação antirracista. Uma história que passa a ser contada a partir de nós, construindo novas narrativas, pela primeira vez no Fortnite temos uma construção brasileira pautada na história de Zumbi e Dandara como ícones, revistando a luta no quilombo de Palmares em Alagoas. Fora que o jogo tem o poder de influenciar o mercado de games para a diversidade. Ou seja, os dados destacam a participação da população negra no consumo de games no Brasil, que é maioria enquanto consumidora. Nos últimos anos, as mulheres dominaram o consumo de jogos eletrônicos, principalmente por conta da sua forte presença nos smartphones. Mas me questiono o porquê dessa representatividade não se refletir nos personagens e no conceito dos games. O jogo que estamos produzindo abre um caminho importante para o mercado. Que possa influenciar sistemicamente em mais negros na construção de jogos e também na gestão de estúdios de games e até nos investimentos.
FB – Do ponto de vista educativo, qual o potencial que vocês enxergam neste tipo de plataforma?
Adriana – Vejo o potencial na construção de novas narrativas, transpor para um formato que é tecnológico e ao mesmo tempo lúdico e que conversa com as novas gerações, que estão tão conectadas com a tecnologia. É mágico ter a oportunidade de contar uma história com tanta profundidade num game em que as pessoas irão jogar, mas também desenvolver o pensamento crítico a partir de uma perspectiva histórica. Na Pretahub temos o Bioma comunicação ancestral, que é um negócio social criado para influenciar o mercado em qualificar o debate de como fazemos comunicação, ampliação das vozes e gerar inclusão produtiva para negros e indígenas. Temos uma plataforma em construção com um mapa de mais de 800 profissionais cadastrados do ecossistema de comunicação, trilhas de formação, e uma comunidade de negócios. E o intuito foi criar algo que pudesse contribuir com a ampliação de consciência do mercado.
FB – Qual o desafio de adaptar para os games uma história tão importante?
Alexandre de Maio – Nós, brasileiros, estamos acostumados com narrativas de batalhas estrangeiras, como jogos de faroeste americano, guerras mundiais ou vikings. Contudo, temos pouco sobre as batalhas que fazem parte da nossa história. O grande desafio que enfrentamos foi construir um jogo que fosse não apenas divertido, mas também educativo. Acreditamos que ao utilizar a linguagem digital dos games, conseguiremos despertar nos jogadores o interesse pelos nossos heróis e pela nossa história.
FB – O fato de estar dentro do Fortnite traz desafios? Quais são as oportunidades desse jogo?
Alexandre – A escolha do Fortnite nos proporcionou herdar muitos recursos já disponíveis na plataforma, como a experiência de jogo com personagens que milhares de jogadores já estão familiarizados. Recentemente, o jogo alcançou o recorde de mais de 40 milhões de jogadores em um dia. Nosso maior desafio foi recriar um campo de batalha histórico dentro do Fortnite, incluindo paisagens diversificadas, florestas exuberantes e aldeias antigas. Realizamos uma pesquisa extensiva com a ajuda de historiadores, além de uma visita técnica e cultural à região da Serra da Barriga, em Alagoas, para coletar informações precisas e elementos visuais ainda presentes nos Quilombos, como a árvore sagrada que permanece no local há centenas de anos.
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FB – Pode comentar um pouco do processo de levar para dentro do Fortnite o jogo?
Alexandre – A Salve Games já estava imersa no desenvolvimento do projeto de Zumbi dos Palmares quando a equipe da Epic Games no Brasil nos encontrou, gerando o convite para contar essa história no universo do Fortnite. Desde então, o jogo foi desenvolvido utilizando a Unreal Editor for Fortnite (UEFN), uma aplicação inovadora que possibilita a criação, desenvolvimento e publicação de jogos diretamente no Fortnite. Além de mapear as dinâmicas do jogo, concentramos esforços na criação e customização de personagens NPC, incluindo Zumbi dos Palmares e Dandara, que estarão presentes no mapa. Toda a experiência seguiu as diretrizes do universo Fortnite, garantindo um acesso amplo e inclusivo para jogadores de todas as idades.