A democrata Shamaine Daniels está concorrendo ao Congresso dos Estados Unidos, de olho em uma cadeira ocupada pelo republicano alinhado a Trump Scott Perry, que desempenhou um papel fundamental na contestação dos resultados das eleições de 2020.
Daniels, que perdeu para Perry por menos de 10 pontos no ano passado, espera que uma nova arma ajude sua candidatura: Ashley, uma voluntária de campanha de IA (inteligência artificial).
Ashley não é um robô de ligações típico; nenhuma de suas respostas é pré-gravada. Seus criadores, que pretendem trabalhar principalmente com campanhas e candidatos democratas, afirmam que ela é a primeira ferramenta telefônica política alimentada por tecnologia de IA generativa semelhante ao ChatGPT da OpenAI. Ela é capaz de manter um número infinito de conversas individuais personalizadas ao mesmo tempo.
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Ashley é um dos primeiros exemplos de como a IA generativa está dando início a uma nova era de campanhas políticas, nas quais os candidatos usam a tecnologia para se envolver com os eleitores de maneiras cada vez mais difíceis de rastrear.
Para alguns, essa é uma nova e empolgante ferramenta para conduzir conversas de alta qualidade em grande escala. Outros temem que isso piore a desinformação no cenário polarizado da política norte-americana, que já está enfrentando “deepfakes”, vídeos e imagens realistas, mas fabricados, criados usando algoritmos de IA.
No fim de semana, Ashley ligou para milhares de eleitores da Pensilvânia em nome de Daniels. Assim como um voluntário de campanha experiente, Ashley analisa os perfis dos eleitores para personalizar as conversas em torno de seus principais problemas. Ao contrário de um ser humano, Ashley sempre aparece para o trabalho e tem uma lembrança perfeita de todas as posições de Daniels.
“Isso vai se expandir rapidamente”, disse Ilya Mouzykantskii, de 30 anos, presidente-executivo da Civox, com sede em Londres, a empresa por trás de Ashley. “Pretendemos fazer dezenas de milhares de chamadas por dia até o final do ano e chegar aos seis dígitos muito em breve. Isso está chegando para a eleição de 2024 e está chegando de uma forma muito grande. … O futuro é agora.”
Para Daniels, a ferramenta nivela o campo de jogo: como zebra na disputa, ela agora está armada com outra maneira de entender melhor os eleitores, falar em diferentes idiomas (Ashley é fluente em mais de 20) e conduzir muito mais conversas capazes de lidar com diversas situações.
Mas esse desdobramento preocupa muitos, incluindo o presidente-executivo da OpenAI, Sam Altman, que afirmou em depoimento no Congresso em maio que estava “nervoso” com a capacidade da IA generativa de comprometer a integridade das eleições por meio de “desinformação interativa individual”.
A tecnologia, que aprende com os dados da internet, tornou-se tão boa em conversas realistas que, nos últimos meses, as pessoas se apaixonaram e se declararam casadas com os chatbots alimentados por IA.
Mouzykantskii disse que tem plena consciência das possíveis desvantagens e não pretende aceitar nenhum financiamento de capital de risco que possa induzi-lo a priorizar os lucros em detrimento da ética.
E, assim como a OpenAI, ele está estabelecendo uma estrutura de governança incomum: um comitê com poderes para forçá-lo a divulgar publicamente qualquer coisa preocupante sobre a empresa. A Civox decidiu dar a Ashley uma voz que soa robótica e divulgar que ela é uma IA, apesar de não ser legalmente obrigada a fazê-lo.
Mouzykantskii e seu cofundador Adam Reis, ex-alunos de ciência da computação das Universidades de Stanford e Columbia, respectivamente, não quiseram revelar os modelos exatos de IA generativa que estão usando. Eles dizem apenas que usam mais de 20 modelos diferentes de IA, alguns proprietários e outros de código aberto.
Graças às mais recentes tecnologias de IA generativa, Reis conseguiu criar o produto quase que inteiramente por conta própria, enquanto há alguns anos teria sido necessário uma equipe de 50 engenheiros por vários anos, disse ele.