Uma equipe internacional composta por cientistas de nove países publicou um estudo detalhado sobre uma tempestade solar pouco conhecida — chamada de evento Chapman-Silverman, em homenagem aos dois astrônomos que coletaram seus primeiros dados — que atingiu a Terra em fevereiro de 1872. As descobertas confirmaram que tempestades solares poderosas o suficiente para impactar diretamente a infraestrutura da Terra são mais comuns do que se pensava anteriormente.
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Ejeções de massa coronal ou fulgurações são grandes explosões de partículas carregadas que se deslocam em direção à Terra. Quando tal energia atinge a Terra, ela pode causar uma tempestade solar e, consequentemente, pertubar o campo magnético do planeta.
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A maior tempestade solar registrada até agora ocorreu em 1859 e é conhecida como “Evento Carrington”. O astrônomo britânico Richard Christopher Carrington foi o primeiro a observar uma fulguração gigantesca na superfície solar. Nas semanas seguintes, luzes polares foram observadas durante o dia até o Equador. Na época, muito antes das telecomunicações móveis e do uso generalizado de dispositivos eletrônicos, os danos foram, felizmente, muito limitados.
Atualmente, o Centro de Previsão de Clima Espacial da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica monitora a atividade solar e seu impacto em nossa infraestrutura. Redes elétricas e comunicações por satélite estão em alto risco de interferência e bloqueio.
Os pesquisadores vincularam centenas de relatos de fenômenos luminosos incomuns com medições do campo geomagnético e registros de manchas solares, mostrando que todos estavam conectados a um pico de atividade solar.
Vasculhando registros em bibliotecas, arquivos e relatórios de observatórios ao redor do mundo, a equipe encontrou mais de 700 relatos que indicavam que o céu noturno foi iluminado por magníficas exibições aurorais no Japão, nos EUA, na Austrália, na Índia, no México, em Madagascar e na Europa. Uma aurora ocorre quando as partículas carregadas provenientes do sol reagem com os gases na atmosfera da Terra. Para ser visível em uma área tão grande, a tempestade solar por trás da aurora de 1872 deve ter sido bastante poderosa.
Ao mesmo tempo, medições do campo geomagnético registradas em lugares tão diversos quanto Bombaim, na Índia, Tiflis, na Geórgia e Greenwich, no Reino Unido, mostraram fortes variações no campo magnético da Terra.
A tempestade foi grande o suficiente para afetar a infraestrutura tecnológica até nos trópicos. Comunicações telegráficas no cabo submarino no Oceano Índico foram interrompidas por horas. Distúrbios semelhantes foram relatados na linha terrestre entre Egito e Sudão.
Para comprovar a conexão com a atividade solar, o grupo recorreu a registros de manchas solares em grande parte esquecidos da Bélgica e da Itália. Essas descobertas sugerem que mesmo uma atividade solar de médio porte desencadeou uma das tempestades geomagnéticas mais extremas da história.
“Nossas descobertas confirmam a tempestade Chapman-Silverman de fevereiro de 1872 como uma das tempestades mais extremas da história recente. Seu tamanho rivalizou com o da tempestade de Carrington em setembro de 1859 e a tempestade ferroviária de Nova York em maio de 1921”, explica Hisashi Hayakawa, Professor Assistente na Universidade de Nagoya e no Campus Harwell (Reino Unido) e autor principal do estudo.
“Eventos tão extremos são raros. Por um lado, temos a sorte de ter evitado tais supertempestades na era moderna. Por outro lado, a ocorrência de três supertempestades em seis décadas mostra que a ameaça à sociedade moderna é real. Portanto, a preservação e análise de registros históricos são importantes para avaliar, entender e mitigar o impacto de tais eventos”, conclui Hayakawa.
Exibições aurorais recentes foram observadas do norte dos EUA ao sul da Europa. Atualmente, o sol está passando por um ciclo solar, previsto para atingir o pico em 2024, e podemos esperar uma atividade solar intensificada nos próximos anos.
O estudo “O Evento Extremo de Clima Espacial de Fevereiro de 1872: Manchas Solares, Distúrbio Magnético e Exibições Aurorais” foi publicado no The Astrophysical Journal (2023). Material adicional e entrevistas foram fornecidos pela Universidade de Nagoya.