O programa 25 Mulheres na Ciência seleciona propostas de cientistas da América Latina desde 2020, com o objetivo de reconhecer e dar visibilidade a projetos de impacto. Em 2024, o foco foi para iniciativas de sustentabilidade ambiental — além da inclusão de profissionais do Canadá.
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Outro destaque da edição deste ano é a escolha de mulheres que estão colhendo os frutos de trabalhos que começaram há mais de 10 anos. “Leva-se tempo para a maturidade da liderança em tecnologia. E, apesar de todas as barreiras que existem para as mulheres, é empolgante ver colegas chegando tão longe”, diz Marcia Ferrarezi, gerente técnica e líder do Women Leadership Forum da 3M para América Latina.
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Em entrevista à Forbes Brasil, três vencedoras contaram detalhes de seus projetos e trajetórias. Confira:
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Divulgação Camila Ferrara
“Preservando tradições, conservando vidas: estratégias sustentáveis para o manejo e consumo de quelônios da Amazônia”, este é o projeto da paulistana Camila Ferrara, que mora em Manaus desde o início dos anos 2000 — quando foi fazer um estágio com peixes-boi para a faculdade de medicina veterinária. “Sempre tive uma ligação muito forte com bichos e rapidamente descobri minha vocação para o universo da vida selvagem e a luta pela conservação das espécies.”
O trabalho com quelônios, grupo que engloba as tartarugas, cágados e jabutis, altamente ameaçados devido ao consumo de seus ovos e carne, tornou-se o foco central da carreira da cientista. “Trabalhamos com a conservação de quelônios na Amazônia porque aqui na região norte do país é o segundo recurso mais consumido depois dos peixes. E, além de uma proteína extremamente importante para o amazônida, ele tem uma relação cultural muito forte com a população, algo que pessoas de outros lugares do Brasil não conseguem entender.”
Atualmente, Camila trabalha como ecóloga de fauna aquática na WCS Brasil, com ênfase em quelônios. “Meu trabalho abrange pesquisa, conservação e educação ambiental, com um foco especial nas espécies mais comercializadas na Amazônia. Também estou envolvida em campanhas de sensibilização em Manaus e na proteção das praias de desova no rio Guaporé, na divisa com a Bolívia, a maior área de desova de tartarugas de água doce do mundo, além de desenvolver novas tecnologias.”
A jornada da conservacionista enfrenta desafios diários, “não apenas por lidar com animais de vida longa, mas também por encarar a Amazônia como mulher, enfrentando questões de segurança, custos e distâncias extensas”. Levando em consideração os percalços citados, Camila afirma que o reconhecimento da 3M foi importante para “divulgar o projeto, porque a Amazônia ainda é uma realidade muito distante do resto do Brasil”.
“Que privilégio o meu de poder falar de tartarugas, de problemas de conservação e das necessidades de comunidades ribeirinhas para tantas pessoas”, finaliza Ferrara.
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Divulgação Rosana Goldbeck
“Processo integrado para produção de pectina, xilo-oligossacarídeos e energia a partir do aproveitamento sustentável de cascas de laranjas”, este é o projeto da professora da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp.
Rosana, órfã de mãe aos 6 anos e criada com 4 irmãos numa família de classe média baixa no interior de Santa Catarina, nunca deixou os problemas pessoais atrapalharem suas ambições profissionais. “O meu pai sempre incentivou nossos estudos, até porque ele não tinha condições de pagar faculdade para todos. Mas eu acredito que tudo tem um propósito, os desafios financeiros me fizeram buscar por bolsas de iniciação científica que deram início à minha carreira como pesquisadora.”
Sobre o seu programa, que visa o desenvolvimento da economia circular por meio do aproveitamento integral e agregação de valor aos resíduos agroindustriais, Goldbeck diz que está há 10 anos trabalhando com o aproveitamento de resíduos, seja para produção de combustíveis ou para a fabricação de ingredientes. Para ela, o foco é na “sustentabilidade dos resíduos e em entender como eles podem ser reutilizados”.
Entretanto, mesmo à espera do cargo mais alto dentro da academia, a livre-docência, a pesquisadora afirma que “abriu mão de muitas coisas na vida pessoal, por exemplo a maternidade, para alcançar o sucesso profissional”, fator ligado às dificuldades de ser mulher dentro de espaços estruturalmente masculinos. “As mulheres precisam se provar o tempo todo.”
Do seu ponto de vista, a premiação oferecida pela 3M é uma oportunidade de receber o devido reconhecimento por seu trabalho. “Na área acadêmica, nós trabalhamos muito e somos pouco reconhecidos. Porém, esses prêmios fazem com que mais alunos queiram trabalhar com a gente e outras faculdades e empresas desenvolvam projetos as com nossas instituições de ensino — assim temos a chance de ver nossas pesquisas saindo do papel.
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Divulgação Marcia Kafensztok
“Instituto PRIMAR: a primeira fazenda de aquicultura orgânica certificada do Brasil (2003)”, esta é a iniciativa de Marcia Kafensztok, coordenadora do projeto que fica em Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte. “Nós trabalhamos com a produção orgânica de camarão e ostras. No entanto, nosso principal compromisso é com os alunos e jovens cientistas que se interessam pela aquicultura.”
A carioca não era especialista no assunto quando começou a participar do instituto criado pelo marido em 1993. “Eu sou designer gráfica de formação, estou aqui há 31 anos, mas quem estruturou essa fazenda foi meu esposo, Alexandre Alter Wainberg, biólogo marinho e mestre em ecologia aquática, que faleceu em 2015.”
Quando Marcia assumiu os negócios, precisou passar por um treinamento especial. “Eu não tive coragem de abandonar a propriedade. Três dias depois que o Alexandre faleceu, eu perguntei o nome de cada pessoa que trabalhava aqui, o que eles faziam e se eles saberiam continuar sem ter ninguém para orientá-los. Nesse processo eu fui treinada por todos”.
Nove anos depois, ela se diz apaixonada pela aquicultura e tem como objetivo buscar novas fontes de proteínas para alimentação humana, pesquisando organismos aquáticos estuarinos (ambiente aquático de transição entre rio e o mar), mapeando seu processo reprodutivo para, posteriormente, cultivá-los em escala comercial, orgânica e sustentável.
Para além do cultivo, ela também deseja continuar com o projeto de unir os esforços do PRIMAR com iniciativas acadêmicas. “Eu não sou uma pesquisadora da área. Então, o que eu fiz foi escancarar as portas do instituto para que todos possam continuar produzindo esse conhecimento científico aqui. Eu formalizei o que o Alexandre fazia de maneira informal. Hoje, são 21 universidades federais conveniadas e, no mínimo, mais de 3.500 visitantes já passaram por aqui.”
Camila Ferrara
“Preservando tradições, conservando vidas: estratégias sustentáveis para o manejo e consumo de quelônios da Amazônia”, este é o projeto da paulistana Camila Ferrara, que mora em Manaus desde o início dos anos 2000 — quando foi fazer um estágio com peixes-boi para a faculdade de medicina veterinária. “Sempre tive uma ligação muito forte com bichos e rapidamente descobri minha vocação para o universo da vida selvagem e a luta pela conservação das espécies.”
O trabalho com quelônios, grupo que engloba as tartarugas, cágados e jabutis, altamente ameaçados devido ao consumo de seus ovos e carne, tornou-se o foco central da carreira da cientista. “Trabalhamos com a conservação de quelônios na Amazônia porque aqui na região norte do país é o segundo recurso mais consumido depois dos peixes. E, além de uma proteína extremamente importante para o amazônida, ele tem uma relação cultural muito forte com a população, algo que pessoas de outros lugares do Brasil não conseguem entender.”
Atualmente, Camila trabalha como ecóloga de fauna aquática na WCS Brasil, com ênfase em quelônios. “Meu trabalho abrange pesquisa, conservação e educação ambiental, com um foco especial nas espécies mais comercializadas na Amazônia. Também estou envolvida em campanhas de sensibilização em Manaus e na proteção das praias de desova no rio Guaporé, na divisa com a Bolívia, a maior área de desova de tartarugas de água doce do mundo, além de desenvolver novas tecnologias.”
A jornada da conservacionista enfrenta desafios diários, “não apenas por lidar com animais de vida longa, mas também por encarar a Amazônia como mulher, enfrentando questões de segurança, custos e distâncias extensas”. Levando em consideração os percalços citados, Camila afirma que o reconhecimento da 3M foi importante para “divulgar o projeto, porque a Amazônia ainda é uma realidade muito distante do resto do Brasil”.
“Que privilégio o meu de poder falar de tartarugas, de problemas de conservação e das necessidades de comunidades ribeirinhas para tantas pessoas”, finaliza Ferrara.
Assim como nas edições anteriores, o processo de avaliação para selecionar as cientistas foi conduzido por um júri de representantes da área de Pesquisa & Desenvolvimento da 3M e convidados externos com experiência nas áreas de ciência, pesquisa, inovação, sustentabilidade e empreendedorismo na América Latina.
Alguns dos critérios avaliadores na seleção foram o potencial de amplificação, influência, impacto social direto ou indireto na região, inovação, viabilidade, carreira e formação da candidata, bem como a maturidade e aplicabilidade da ideia.
Veja a lista com todas as cientistas brasileiras premiadas:
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Divulgação Adriana Ferreira da Silva
Projeto: ensino, pesquisa e divulgação da aquicultura sustentável, com foco na tecnologia de bioflocos e processamento de pescado. Utilizamos essa técnica inovadora como ferramenta para promover a produção de organismos aquáticos de forma ambientalmente responsável.
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Divulgação Gabriela Lujan Brollo
Projeto: permitir a coleta segura e análise eficaz de pelotas verdes de minério de ferro na linha do processo industrial de pelotização, aumentando a eficiência do forno de queima das pelotas, reduzindo o consumo de gás combustível e reduzindo as emissões de GEE de um processo altamente emissivo e presente de forma extensiva na indústria de base, com potencial de escalabilidade promissor.
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Divulgação Joyce Araujo
Projeto: desenvolvimento de um método, patenteado pelo Inmetro, para fabricação de nanoplacas de grafeno por meio de resíduos de biomassa com a geração de energia alternativa, tais como biogás ou biocombustíveis. Além de produzirmos o grafeno, material revolucionário na indústria dos nanomateriais, devido à sua elevada área superficial, condutividade elétrica, térmica e resistência mecânica, temos também um projeto com pegada de carbono, devido à captura de CO2 para produção de biogás.
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Divulgação Marcia Foster Mesko
Projeto: uso de energias alternativas (ultrassom e micro-ondas) para o desenvolvimento de métodos ambientalmente amigáveis para determinação elementar, bem como processamento sustentável de arroz. O objetivo é disponibilizar métodos mais rápidos, exatos e precisos com menor uso de reagentes tóxicos e redução da geração de resíduo.
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Divulgação Camila Ferrara
“Preservando tradições, conservando vidas: estratégias sustentáveis para o manejo e consumo de quelônios da Amazônia”, este é o projeto da paulistana Camila Ferrara, que mora em Manaus desde o início dos anos 2000 — quando foi fazer um estágio com peixes-boi para a faculdade de medicina veterinária. “Sempre tive uma ligação muito forte com bichos e rapidamente descobri minha vocação para o universo da vida selvagem e a luta pela conservação das espécies.”
O trabalho com quelônios, grupo que engloba as tartarugas, cágados e jabutis, altamente ameaçados devido ao consumo de seus ovos e carne, tornou-se o foco central da carreira da cientista. “Trabalhamos com a conservação de quelônios na Amazônia porque aqui na região norte do país é o segundo recurso mais consumido depois dos peixes. E, além de uma proteína extremamente importante para o amazônida, ele tem uma relação cultural muito forte com a população, algo que pessoas de outros lugares do Brasil não conseguem entender.”
Atualmente, Camila trabalha como ecóloga de fauna aquática na WCS Brasil, com ênfase em quelônios. “Meu trabalho abrange pesquisa, conservação e educação ambiental, com um foco especial nas espécies mais comercializadas na Amazônia. Também estou envolvida em campanhas de sensibilização em Manaus e na proteção das praias de desova no rio Guaporé, na divisa com a Bolívia, a maior área de desova de tartarugas de água doce do mundo, além de desenvolver novas tecnologias.”
A jornada da conservacionista enfrenta desafios diários, “não apenas por lidar com animais de vida longa, mas também por encarar a Amazônia como mulher, enfrentando questões de segurança, custos e distâncias extensas”. Levando em consideração os percalços citados, Camila afirma que o reconhecimento da 3M foi importante para “divulgar o projeto, porque a Amazônia ainda é uma realidade muito distante do resto do Brasil”.
“Que privilégio o meu de poder falar de tartarugas, de problemas de conservação e das necessidades de comunidades ribeirinhas para tantas pessoas”, finaliza Ferrara.
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Divulgação Marcia Kafensztok
“Instituto PRIMAR: a primeira fazenda de aquicultura orgânica certificada do Brasil (2003)”, esta é a iniciativa de Marcia Kafensztok, coordenadora do projeto que fica em Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte. “Nós trabalhamos com a produção orgânica de camarão e ostras. No entanto, nosso principal compromisso é com os alunos e jovens cientistas que se interessam pela aquicultura.”
A carioca não era especialista no assunto quando começou a participar do instituto criado pelo marido em 1993. “Eu sou designer gráfica de formação, estou aqui há 31 anos, mas quem estruturou essa fazenda foi meu esposo, Alexandre Alter Wainberg, biólogo marinho e mestre em ecologia aquática, que faleceu em 2015.”
Quando Marcia assumiu os negócios, precisou passar por um treinamento especial. “Eu não tive coragem de abandonar a propriedade. Três dias depois que o Alexandre faleceu, eu perguntei o nome de cada pessoa que trabalhava aqui, o que eles faziam e se eles saberiam continuar sem ter ninguém para orientá-los. Nesse processo eu fui treinada por todos”.
Nove anos depois, ela se diz apaixonada pela aquicultura e tem como objetivo buscar novas fontes de proteínas para alimentação humana, pesquisando organismos aquáticos estuarinos (ambiente aquático de transição entre rio e o mar), mapeando seu processo reprodutivo para, posteriormente, cultivá-los em escala comercial, orgânica e sustentável.
Para além do cultivo, ela também deseja continuar com o projeto de unir os esforços do PRIMAR com iniciativas acadêmicas. “Eu não sou uma pesquisadora da área. Então, o que eu fiz foi escancarar as portas do instituto para que todos possam continuar produzindo esse conhecimento científico aqui. Eu formalizei o que o Alexandre fazia de maneira informal. Hoje, são 21 universidades federais conveniadas e, no mínimo, mais de 3.500 visitantes já passaram por aqui.”
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Divulgação Rosana Goldbeck
“Processo integrado para produção de pectina, xilo-oligossacarídeos e energia a partir do aproveitamento sustentável de cascas de laranjas”, este é o projeto da professora da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp.
Rosana, órfã de mãe aos 6 anos e criada com 4 irmãos numa família de classe média baixa no interior de Santa Catarina, nunca deixou os problemas pessoais atrapalharem suas ambições profissionais. “O meu pai sempre incentivou nossos estudos, até porque ele não tinha condições de pagar faculdade para todos. Mas eu acredito que tudo tem um propósito, os desafios financeiros me fizeram buscar por bolsas de iniciação científica que deram início à minha carreira como pesquisadora.”
Sobre o seu programa, que visa o desenvolvimento da economia circular por meio do aproveitamento integral e agregação de valor aos resíduos agroindustriais, Goldbeck diz que está há 10 anos trabalhando com o aproveitamento de resíduos, seja para produção de combustíveis ou para a fabricação de ingredientes. Para ela, o foco é na “sustentabilidade dos resíduos e em entender como eles podem ser reutilizados”.
Entretanto, mesmo à espera do cargo mais alto dentro da academia, a livre-docência, a pesquisadora afirma que “abriu mão de muitas coisas na vida pessoal, por exemplo a maternidade, para alcançar o sucesso profissional”, fator ligado às dificuldades de ser mulher dentro de espaços estruturalmente masculinos. “As mulheres precisam se provar o tempo todo.”
Do seu ponto de vista, a premiação oferecida pela 3M é uma oportunidade de receber o devido reconhecimento por seu trabalho. “Na área acadêmica, nós trabalhamos muito e somos pouco reconhecidos. Porém, esses prêmios fazem com que mais alunos queiram trabalhar com a gente e outras faculdades e empresas desenvolvam projetos as com nossas instituições de ensino — assim temos a chance de ver nossas pesquisas saindo do papel.
Adriana Ferreira da Silva
Projeto: ensino, pesquisa e divulgação da aquicultura sustentável, com foco na tecnologia de bioflocos e processamento de pescado. Utilizamos essa técnica inovadora como ferramenta para promover a produção de organismos aquáticos de forma ambientalmente responsável.