No ano passado, o mundo das startups foi tomado por uma verdadeira agitação de investimento em inteligência artificial (AI). Manchetes anunciavam rodadas de captação bilionárias e o entusiasmo era concreto: a AI estava em todo lugar, prometendo revolucionar indústrias inteiras. Conforme o tempo passou, o Vale do Silício começou a enfrentar uma realidade mais desafiadora. Muitas dessas startups, que haviam atraído milhões de dólares em investimentos, agora lutam para sustentar e desenvolver suas tecnologias, que ainda estão longe de gerar lucro.
Startups que apostaram tudo na inovação em AI se encontram diante de um dilema: continuar captando fundos em um mercado cada vez mais competitivo, ou buscar alternativas que garantam sua sobrevivência e crescimento. É justamente aqui que entra uma nova estratégia, que parece estar ganhando força no setor – acordos de licenciamento de tecnologia com as Big Techs, acompanhados da contratação de times e fundadores das startups.
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Esse modelo de parceria não é apenas uma questão de sobrevivência financeira, mas também uma manobra inteligente para evitar problemas com reguladores antitrustes. Afinal, as grandes empresas de tecnologia já têm um vasto histórico de aquisições e fusões, que frequentemente atraem o olhar atento dos reguladores. Ao licenciar tecnologias e integrar equipes de startups, essas gigantes conseguem injetar capital nas startups e absorver seu know-how sem a necessidade de uma aquisição total, o que poderia levantar bandeiras vermelhas.
Recentemente, a Character.AI, uma das startups mais promissoras do setor, fechou um acordo de US$ 2 bilhões com o Google. Em junho, a Adept AI, que chegou a ser avaliada em US$ 1 bilhão, firmou um acordo semelhante com a Amazon por US$ 330 milhões. A Inflection, por sua vez, assinou um contrato de US$ 650 milhões com a Microsoft. Esses exemplos mostram que a tendência está se consolidando e que as startups de AI estão encontrando nas Big Techs não apenas investidores, mas também parceiros estratégicos que podem garantir sua permanência no mercado.
Para as startups, a lógica é clara: em um mercado onde há cada vez mais concorrência por capital, juntar-se a uma grande empresa do setor oferece duas vantagens. Primeiro, elas conseguem acesso a um vasto caixa de investimentos que pode ser utilizado para o desenvolvimento contínuo de suas tecnologias. Segundo, ao trabalhar em sinergia com as operações de AI já estabelecidas das Big Techs, elas podem potencializar seu impacto e acelerar a entrega de soluções ao mercado.
Por outro lado, para as Big Techs, esses acordos são uma maneira de manter-se na dianteira da inovação, incorporando novas tecnologias e talentos sem os riscos e as complicações que uma aquisição completa pode trazer. É uma situação que pode moldar o futuro da indústria de AI nos próximos anos.
Para finalizar, é importante destacar que essa tendência também levanta questões sobre o futuro das startups de AI. Será que elas conseguirão manter sua independência e identidade em meio a essas parcerias? Ou estarão fadadas a se tornarem apenas mais uma engrenagem na máquina das grandes corporações? Somente o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: o caminho da inovação em IA está se transformando. Aqueles que souberem navegar por essas novas águas terão a maior chance de sucesso.
Escolhas do editor
Marcelo Ciasca é CEO da Stefanini Brasil
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