Que a inteligência artificial (IA) é uma realidade, não há dúvidas. Estamos vivendo em uma era que está redefinindo os parâmetros de produtividade e inovação. A pergunta que fica é: as organizações e seus líderes estão prontos para arriscar e apostar em novos paradigmas para se destacarem? Esse foi um dos pontos de reflexão que tivemos na edição de 2024 do Dell Technologies Forum Brasil, que aconteceu em São Paulo.
Ouvimos da futurista e autora norte-americana Amy Webb, uma das convidadas do evento, em seu keynote, a importância de as empresas romperem com o que ela chama de “Círculo Vicioso da Ruína da Alta Liderança”, no qual líderes postergam a adoção de tecnologias emergentes, como a IA, até que se tornem inevitáveis, perdendo oportunidades de inovar. A discussão sobre como o mundo corporativo deve equilibrar a gestão das operações diárias com a preparação para o futuro é essencial – e isso passa por implementar uma transição estratégica que vá além do simples reskilling, mas também inclua a redefinição do papel das grandes corporações em promover a inovação.
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É importante ter clareza, porém, que o verdadeiro motor dessa transformação está nas pessoas: são elas que precisam ser capacitadas para explorar o potencial da IA de maneira segura, confiante e responsável. Mais do que uma simples adoção de tecnologias, promover a inovação exige uma cultura que encoraje o aprendizado contínuo, a curiosidade e, acima de tudo, uma aceitação saudável do fracasso como parte do processo.
O impacto da inteligência artificial nas organizações depende, antes de tudo, de como as pessoas utilizam essas ferramentas. Sem uma força de trabalho treinada e confortável com as mudanças trazidas pela tecnologia, qualquer investimento nesse sentido corre o risco de ser subutilizado. Segundo o estudo Catalisador da Inovação, da Dell Technologies, 67% dos líderes brasileiros acreditam que as habilidades necessárias para 2030 ainda não foram inventadas. Esse dado nos aponta o desafio enfrentado pelas organizações: como formar e capacitar profissionais para funções e competências que ainda não estão bem definidas?
Em primeiro lugar, a criação de uma cultura que permita errar ao inovar deve ser prioridade. Cultivar um ambiente que valoriza o aprendizado de forma democrática e acessível a todos, facilita a inovação. Nessa jornada, a mudança cultural é fundamental: muitas organizações ainda adotam uma postura onde o erro é visto como um demérito, algo que inibe a iniciativa e a experimentação. Contudo, ao transformar o fracasso em um elemento do processo, as empresas podem nutrir uma cultura em que os riscos calculados são encorajados e, quando falhas ocorrem, eles são tratados como lições.
Ao lado desse novo pensamento cultural, as soluções de IA e, especialmente, a IA generativa, estão revolucionando a maneira como os funcionários aprimoram suas habilidades e expandem suas capacidades. De acordo com uma pesquisa da IDC, 47% das organizações globais estão priorizando investimentos em treinamento digital e capacitação dos colaboradores, entendendo que esses serão os investimentos mais duradouros. Esse dado revela o quanto as empresas estão focadas em assegurar que seus funcionários estejam prontos para lidar com novas ferramentas cada vez mais integradas ao ambiente de trabalho.
O uso dessas soluções não se limita ao aumento de produtividade; ele também fortalece a relação entre máquina e humano, estabelecendo práticas de trabalho mais fluidas e eficientes. Computadores com IA – os AI PCs -, por exemplo, permitem que colaboradores foquem em atividades estratégicas, automatizando tarefas repetitivas e de menor valor. Dessa forma, a IA não apenas aumenta a eficiência, mas também contribui para times mais motivados e engajados, liberando os profissionais para explorar novas ideias e desenvolver suas habilidades.
Outro ponto essencial para a inovação é o fortalecimento da “fluência em IA”, uma habilidade considerada essencial por 59% dos líderes brasileiros, segundo o mesmo estudo Catalisador da Inovação. A fluência em IA vai além do uso técnico das ferramentas, ela engloba uma compreensão profunda sobre onde, quando e como aplicá-las de forma segura e responsável. Ao investir na capacitação dos colaboradores para que possam utilizar essas tecnologias com confiança, as empresas fortalecem a base necessária para inovar de forma sustentável.
Para que a inteligência artificial realmente cumpra seu papel transformador, é necessário que as empresas estejam dispostas a correr riscos calculados e alinhados com uma cultura que valorize o aprendizado constante. Arriscar, portanto, é promover a inovação: é investir no desenvolvimento das pessoas, apostar na curiosidade e aceitar erros como parte do progresso. Essa visão é o que permitirá às empresas não só acompanhar as rápidas mudanças tecnológicas, mas também liderar essa transformação, definindo um novo modelo de trabalho para a próxima era.
Luis Gonçalves é presidente da Dell Technologies para a América Latina.
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