“Meu celular pode me ouvir?” Muitas pessoas questionam a capacidade de escuta de seus dispositivos. Afinal, é comum que alguém relate ter visto um anúncio de um produto que citou em uma conversa há pouco tempo.
O novo estudo do site Compare and Recycle aponta que uma em cada três pessoas acredita que seus dispositivos (iPhone ou Android) podem — e estão — ouvindo o que elas dizem.
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“Nossos telefones nos escutam, principalmente, por meio de ferramentas embutidas, como Siri ou Google Assistente”, explicam especialistas do Compare and Recycle. “Para entender nossas vozes e solicitações com precisão, as aplicações precisam nos ouvir extensivamente. Isso significa que os aparelhos podem ouvir nossas conversas, mesmo quando não percebemos.”
Além disso, alguns aplicativos “escondem cláusulas nos seus termos e condições que permitem acesso ao microfone do celular e, como consequência, às conversas feitas enquanto o aplicativo está em uso”. Essa informação pode ser vendida a terceiros para direcionar anúncios com maior precisão, segundo o estudo.
“Verifique os termos e condições em busca dessas cláusulas antes de aceitá-las”, recomendam os especialistas.
Apple rebate acusações contra a Siri
A ideia de que a Siri escuta conversas privadas preocupa a Apple. Em 8 de janeiro de 2025, a empresa publicou um comunicado em seu site para refutar as alegações.
“A Apple nunca usou dados da Siri para criar perfis de marketing, nunca os disponibilizou para publicidade e nunca os vendeu para ninguém por qualquer motivo”, declarou a empresa. “Estamos constantemente desenvolvendo tecnologias para tornar a Siri ainda mais privada e continuaremos.”
O comunicado foi publicado depois que a empresa aceitou os termos de pagamento de uma indenização em um processo que alegava que a Siri estaria espionando usuários. A Apple negou qualquer irregularidade e alegou que o acordo buscava evitar custos adicionais com litígios.
Em 2019, a companhia fez alterações em suas configurações de privacidade e parou de usar contratados externos para transcrever gravações privadas feitas pela Siri, mesmo quando a assistente de voz era ativada por engano.
Seu iPhone ou Android está ouvindo você?
A tecnologia necessária para escutar os usuários está disponível, mas em muitos mercados isso seria uma violação grave de privacidade de dados, caso ocorresse sem consentimento.
Entretanto, os dispositivos não precisam ouvir suas conversas — eles já possuem uma enorme quantidade de informações sobre você. “A verdade é que os smartphones não precisam mais ouvir nossas conversas para conhecer nossos hábitos, hobbies e escolhas de vida”, afirma Jake Moore, consultor global de cibersegurança da ESET. “Os algoritmos podem determinar muito sobre nós antes mesmo de falarmos algo.”
Ao analisar seus dados, gigantes como Apple e Google conseguem saber se você está solteiro, tem filhos, possui um carro, quais são seus hobbies, interesses futuros e até mesmo prever sua próxima compra. “Os dados são uma moeda valiosa para anunciantes. Precisamos limitar as informações que fornecemos gratuitamente”, alerta Moore.
Se você ainda estiver preocupado, é possível desativar o microfone em aplicativos específicos, aconselha Moore. “Mas isso não fará muita diferença.”
Os especialistas do Compare and Recycle também sugerem que você desative o microfone do celular: “Vá para as configurações e remova o acesso ao microfone de qualquer aplicativo onde sua voz não seja necessária.”
Além disso, você pode aumentar sua privacidade desativando o assistente de voz do telefone, mantendo o software atualizado — no caso do iPhone, a versão mais recente é o iOS 18.2.1 — e usando um software antivírus no dispositivo.
Não é surpreendente que as pessoas estejam preocupadas com a possibilidade de seus dispositivos estarem escutando suas conversas. No entanto, a privacidade do seu celular vai além do microfone. Inclui também os dados que você insere no Google ou compartilha em plataformas como Facebook e Instagram, muitas vezes sem perceber.