
Antes dos computadores pessoais e dos arquivos enviados por e-mail, uma figura era unânime nos escritórios mundo afora: o office boy. No Brasil, é comum ouvir histórias de executivos que começaram no mundo corporativo por meio deste ofício. Apesar de ainda existirem, os poucos humanos encarregados pela movimentação de documentos estão fadados ao obsoletismo.
A cada avanço tecnológico, profissões são extintas, enquanto outras são criadas. Mercados acabam e novos surgem. Com a democratização da inteligência artificial generativa, a história se repete. Um relatório divulgado pelo Fórum Econômico Mundial (FMI) em janeiro deste ano destaca que 92 milhões de empregos serão eliminados até 2030. Felizmente, o mesmo estudo aponta 170 milhões de oportunidades de trabalho até lá.
O FMI cita os ofícios de “profissionais de correios, caixas de banco e similares, digitadores de dados e assistentes administrativos” como os mais afetados. Por outro lado, as carreiras de “desenvolvedores de software e aplicativos, especialistas em gestão de segurança digital e armazenamento de dados e designers de user interface e user experience” estão em pleno crescimento.
“No futuro, a expectativa é que as pessoas possam trabalhar de forma mais estratégica, com a IA cuidando das tarefas operacionais e generalistas. As empresas devem usar essas ferramentas para aliviar a pressão sobre os colaboradores, permitindo que se concentrem em atividades que agreguem valor ao negócio”, explica o professor Anderson Luis Szejka, gerente do núcleo de inovação tecnológica da Hotmilk, ecossistema da PUCPR.
Se, por um lado, algumas instituições engatinham com as ferramentas de IA, outras estão criando negócios multimilionários com a tecnologia. Fato é que, assim como em um prompt, tudo depende do contexto. “Os negócios que estão adotando ferramentas de IA fazem isso em ambientes controlados e pagam caro por ferramentas devidamente seguras e funcionais. As empresas que não se adaptarem à nova tecnologia correm o risco de ficar para trás, no entanto, tudo deve ser feito com cautela”, diz Szejka.
Afinal, o que é um agente de IA?
No início deste ano, durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, a ascensão da tecnologia de agentes de IA foi um dos assuntos mais comentados. Mas, afinal, o que é um agente de IA? De acordo com Fernanda Jolo, diretora de engenharia de clientes de IA para América Latina do Google Cloud, os “agentes de IA são softwares que podem compreender e aprender com informações multimodais – processando vídeo, áudio e texto — para tomar decisões de maneira autônoma, escolhendo o melhor caminho para executar uma tarefa predeterminada”.
Com um agente de IA, empresas podem aperfeiçoar processos cotidianos. No Brasil, já existem alguns exemplos práticos da tecnologia. Com a inteligência artificial generativa do Google Cloud, a Casas Bahia passou a catalogar automaticamente os produtos de seu marketplace. Antes da IA, o desafio era o gerenciamento de cerca de 300 mil novos cadastros por dia. “Este projeto, além de proporcionar uma melhor experiência de compra para os clientes e a otimização de processos internos, traz ganhos significativos para os nossos parceiros ao facilitar a entrada dos produtos”, menciona Filipe Jaske, diretor executivo de tecnologia do Grupo Casas Bahia.
“Por meio dos agentes de IA, as organizações conseguem desenvolver iniciativas que atendam a objetivos específicos, com utilização da linguagem natural, sem a necessidade de entendimento de códigos”, exemplifica Fernanda Jolo.
Agentes Especialistas
Diferentes setores, da administração condominial à cibersegurança, oferecem soluções personalizadas por meio da tecnologia. A brasileira Comunica.In oferece os serviços de seus “agentes de IA especialistas em comunicação corporativa” para gigantes como Bayer, McDonald’s, Volvo e BRF.
Em uma demonstração exclusiva à Forbes Brasil, a empresa criou em menos de um minuto um comunicado personalizado, com três versões de uma espécie de “newsletter” padronizada com a identidade visual escolhida, uma análise sobre o conteúdo apresentado e um relatório sobre como os colaboradores estão reagindo ao texto e assunto.

Primeira parte da demonstração, momento em que o prompt é inserido e os agentes começam a “trabalhar”
“Quanto maior a empresa, mais complexo é fazer a comunicação chegar em todas as pontas. No início do negócio [há sete anos], o desafio que enfrentávamos era que, em média, uma equipe de comunicação interna tinha de três a cinco pessoas para elaborar uma comunicação para 50.000. A partir disso, pensamos que poderíamos utilizar os agentes para sanar esse desbalanceamento de carga de trabalho operacional”, conta Felipe Hotz, CEO e fundador do Comunica.in. Hoje, a startup oferece cerca de 17 agentes especializados em áreas como: contexto, performance, engajamento e segmentação do público.
Em parceria com a OpenAI, a Superlógica, empresa de software para administradoras de condomínios e imobiliárias, criou dez funcionalidades de inteligência artificial generativa. Entre elas, um agente que gera automaticamente o resumo das assembleias condominiais, outro que identifica artigos de regimentos internos para direcionar infrações, além de bots para o atendimento ao cliente e o preenchimento de descrições administrativas.
“Quando posicionamos a empresa como “AI first”, a IA deixa de ser um acessório e passa a ser parte do processo de trabalho de quem está executando uma tarefa. Isso melhora a agilidade das entregas e, consequentemente, sobra mais tempo para atividades nobres”, relata Ivan Perez, Diretor de Engenharia do Grupo Superlógica.
Próximo passo: democratização
Felipe Thomé, cofundador e COO da CisoX, startup do grupo de cibersegurança Dfense, enfativa que “os agentes de IA estão provando que a automatização não é só uma palavra bonita, mas sim um caminho para garantir uma coleta de informações eficiente, rápida e adaptada ao contexto de cada organização”. O executivo também pontua que a tecnologia “precisa ter um viés de democratização em seu desenvolvimento, reduzindo barreiras e permitindo que qualquer companhia possa implementá-la de forma estratégica, segura e eficiente”.