
Todo mundo sabe que Marte é o “planeta vermelho”, mas um novo estudo está reformulando a compreensão dos cientistas sobre a origem dessa tonalidade distinta — e pode até revelar um passado marciano potencialmente habitável.
Por que Marte é o planeta vermelho?
A superfície de Marte é coberta por uma fina camada de poeira de óxido de ferro, espalhada pelo planeta ao longo de bilhões de anos pelos ventos. No entanto, não estava claro se essa ferrugem foi originalmente produzida em condições secas ou úmidas.
Usando dados de espaçonaves que orbitam Marte e experimentos em laboratório, o estudo descobriu que a cor vermelha do planeta vem da ferrihidrita, um óxido de ferro rico em água. Embora já fosse conhecido que essa coloração vermelha se deve à oxidação de minerais de ferro na poeira, acreditava-se anteriormente que o responsável fosse a hematita, um mineral de óxido de ferro que é o principal componente do minério de ferro e que, segundo hipóteses anteriores, teria se formado em um ambiente seco.
Essa descoberta aproxima os cientistas planetários da compreensão do passado aquático de Marte — e da possibilidade de que o planeta já tenha abrigado vida.
Ferrihidrita em Marte
A descoberta da composição química exata da ferrugem marciana muda essa teoria. A ferrihidrita geralmente se forma na presença de água, o que indica que Marte ainda tinha água em sua superfície quando esse mineral se formou.
“A principal implicação é que, como a ferrihidrita só poderia ter se formado quando ainda havia água na superfície, Marte enferrujou mais cedo do que pensávamos”, disse Adomas Valantinas, autor principal do estudo publicado esta semana na Nature Communications. “Além disso, a ferrihidrita permanece estável nas condições atuais de Marte.”
O que isso significa para Marte?
Os pesquisadores descobriram que a ferrihidrita misturada com basalto, uma rocha vulcânica, corresponde melhor aos minerais identificados por espaçonaves em Marte. “Marte continua sendo o Planeta Vermelho”, disse Valantinas, pós-doutorando na Brown University, em Rhode Island, e ex-pesquisador da Universidade de Berna, na Suíça, onde iniciou seu trabalho. “O que mudou foi o nosso entendimento sobre por que Marte é vermelho.”
Essa descoberta desafia a ideia de que a superfície de Marte está seca há bilhões de anos. Em vez disso, sugere que a água desempenhou um papel no processo de oxidação do planeta muito antes do que se imaginava.
A equipe de pesquisa utilizou dados de múltiplas missões a Marte, incluindo o Trace Gas Orbiter e a Mars Express, da Agência Espacial Europeia (ESA), além do Mars Reconnaissance Orbiter, da NASA.
“Estamos ansiosos pelos resultados de futuras missões, como o rover Rosalind Franklin, da ESA, e a missão de retorno de amostras Mars Sample Return, da NASA e da ESA”, disse Colin Wilson, cientista de projeto das missões TGO e Mars Express da ESA. “Assim que tivermos amostras da poeira marciana em laboratório, poderemos medir exatamente quanto de ferrihidrita está presente e o que isso significa para a história de Marte.”