Ele começou como trainee na Cargill em 1990 e lá está até hoje – agora acumula os cargos de presidente da companhia no Brasil (desde janeiro de 2020) e de líder da divisão de commodities agrícolas para a América do Sul (desde 2016). Por cinco anos, foi o trader global de soja da empresa em Genebra, na Suíça.
Fiel a seu primeiro e único emprego, Paulo Sousa, zootecnista e filho de uma família de pecuaristas de Goiás, analisa os desafios do agro brasileiro neste ano particularmente desafiador – mas ainda assim de excelentes resultados. Com faturamento de R$ 49 bilhões em 2019 (7% maior que o ano anterior) e 11 mil funcionários, a Cargill é uma das maiores indústrias de alimentos do país (onde está desde 1965), tendo seu principal foco na produção de soja e milho para exportação (75% do total). O volume total originado, processado e comercializado superou 36 milhões de toneladas em 2019 (12% de crescimento).
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Esses números justificam os comentários em tom de crítica que, de tempos em tempos, dizem que o Brasil é escravo do modelo de eterno fornecedor de commodities? “Os Estados Unidos também são. Historicamente, o agronegócio é uma grande fonte de superávit na balança comercial americana, principalmente agora que a China vem como grande produtora de manufaturados”, avalia Sousa. “Nós só estamos dando vazão à nossa vocação natural, por termos muitas terras e muitos empreendedores rurais. A revolução no campo permitiu nossa inserção no mercado global de maneira hipercompetitiva. O problema de não estarmos agregando mais valor às nossas exportações não é do agro, é dos outros setores que não acompanharam nossa evolução”, afirma o executivo. Sobre os pilares dessa revolução, ele relembra a criação de novas técnicas, como o plantio direto, e os avanços ligados à melhoria genética das sementes. Destaca também o caráter empreendedor do produtor rural brasileiro.
Sobre o bombardeio de notícias nem sempre positivas, Sousa diz: “Existe muito desconhecimento por parte de quem está distante do campo. Outro dia viralizou um vídeo com supostos maus tratos numa criação de porcos. Eu vi e não encontrei nada que não fosse o que qualquer produtor de suínos pratica”. E as queimadas? “Eu nasci no Cerrado. Vejo queimadas desde criança. O Brasil Central é tão seco que qualquer coisa pode iniciar um incêndio. Além disso, a mudança climática é um fato. Quem planta soja e milho, por exemplo, não vai pôr fogo por nada neste mundo, seria um enorme prejuízo.” Há por trás de tudo isso um jogo de interesses geopolíticos: “Só não podemos ser ingênuos de acreditar que tudo é conspiração. Um pouco de culpa o agro tem”.
Esse fluxo de informação e contrainformação é para Sousa a maior ameaça ao agro brasileiro. “O risco é a percepção do mercado de não sustentabilidade em relação a nossas florestas. E aí não adianta um engravatado dizer que aquilo é mentira. Temos que fazer nossa parte e mostrar como trabalhamos, avançar, dar o exemplo.”
Por fim, falando em tecnologia, qual seria o sonho de consumo do presidente da Cargill? “Algo que pudesse rastrear um grão de soja do Porto de Santos até chegar à propriedade onde foi produzido. Sabendo quem produziu e como, poderíamos premiar os que fazem a coisa certa e eliminar os que agem na ilegalidade. E acabaríamos com nossos problemas ambientais.”
Reportagem publicada na edição 82, lançada em dezembro de 2020
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