Problemas climáticos na segunda safra de milho do Brasil fizeram com que algumas empresas deixassem seus contratos de exportação por meio da cláusula de “washout” para vender no mercado interno.
Isto acarretou o que operadores descreveram como, possivelmente, a maior onda de cancelamentos de embarques do país – segundo maior fornecedor global do cereal – em cinco anos.
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De acordo com traders e corretores de grãos ouvidos pela “Reuters” na condição de anonimato, grande parte do milho que seria destinado à exportação está sendo redirecionada para o mercado doméstico, já que os prêmios estão atraentes devido à quebra de safra, após registros de secas e geadas, e a demanda segue aquecida pela indústria de carnes para ração animal.
“Realmente vai ser muito difícil executar (contratos de) milho”, disse um operador de uma grande companhia norte-americana. “Quebrou toda a safra… As tradings estão fazendo ‘washout’ quando possível.”
Em um contrato de venda antecipada de grãos, uma das partes pode deixar a negociação pagando um valor de liquidação à contraparte, em mecanismo conhecido como “washout”.
Um segundo operador do mercado de grãos, de outra grande empresa dos Estados Unidos, disse que o programa de exportações da companhia foi reduzido por temores de escassez de oferta, acrescentando que a onda de “washouts” é comparável à de 2016, quando uma forte seca também afetou a safra de milho brasileira.
Alguns dos negócios de exportação do cereal que agora estão sendo desfeitos haviam sido fechados entre R$ 40 e R$ 45 por saca de 60 kg, afirmou um corretor. Porém, compradores domésticos estão dispostos a pagar de R$ 90 a R$ 95 por saca, justificando a onda de “washouts”.
O mesmo corretor disse que algumas tradings de grãos, como Cargill e Gavilon, não devem exportar milho pelo porto de Paranaguá (PR) neste ano.
Procurada, a Cargill não quis comentar o assunto.
A Gavilon disse que o atraso no plantio e o clima desfavorável podem ter afetado negativamente a segunda safra de milho, mas preferiu não fornecer mais detalhes.
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COMPRA E VENDA
Na ponta compradora, os frigoríficos têm sido ávidos nas aquisições do produto redirecionado, segundo corretores.
O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, afirmou à “Reuters” que as exportações de milho do Brasil foram mais baixas em junho, já sinalizando o movimento de washout.
“Claro que em julho (o Brasil) ainda vai exportar bem menos (milho) que no ano passado”, disse ele, tamanha a demanda do mercado interno pelo cereal.
Em meio à escassez de oferta local, processadoras de carnes suína e de frango também estão importando milho da Argentina, graças ao câmbio favorável, acrescentou Santin. Ele acredita que, até o fim de 2021, a tendência é que as aquisições do cereal argentino se intensifiquem, além do produto vindo do Paraguai.
Do outro lado, o presidente institucional da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Cesário Ramalho, afirmou que entre os agricultores o cenário está repleto de incertezas, tanto em relação ao volume que conseguirão colher quanto aos preços que o cereal ainda pode atingir, o que dificulta as vendas aos traders.
“O produtor realmente está inseguro, primeiro porque ele não sabe quanto ele vai colher. E se ele colher pouco, o milho vai a R$ 100 por saca, vai a R$ 105, então ele vai esperar 15 a 20 dias para ver o que vai acontecer”, explicou.
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Ontem (15), o indicador de milho Esalq/B3 fechou em R$ 98 por saca, alta de 9,42% na variação mensal e quase o dobro ante os R$ 49 registrados um ano antes.
A segunda safra de milho do Brasil, que está sendo colhida neste momento, deve ficar 8 milhões de toneladas abaixo da do ano passado, enquanto as importações deverão avançar em 58%, guiadas pela firme demanda doméstica.
As exportações de milho do Brasil, por sua vez, devem recuar cerca de 15%, para 29,5 milhões de toneladas, segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
(Com Reuters)
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