Em 2020, o faturamento da Koppert Brasil, subsidiária da holandesa especializada em biodefensivos para as lavouras, foi próximo a R$ 160 milhões. Para este ano são esperados R$ 240 milhões, mas o pulo do gato vem nos próximos cinco anos. Os executivos Danilo Scacalossi Pedrazzoli, diretor industrial, e Gustavo Herrmann, diretor comercial, que trouxeram a empresa para o país há dez anos, contam com faturamento de R$ 1 bilhão em cinco anos, mas, se algo sair do atual planejamento, que seja em oito anos. “É um desafio. Esse é o tema estratégico que mais tem tomado nosso tempo porque, para acompanhar esse crescimento, a gente precisa investir em fábricas”, afirma Herrmann. “Temos projetos para três novas fábricas, além da ampliação do atual parque. Para manter o market share de 20% que hoje a Koppert possui no mercado de biodefensivos, dependemos dessa expansão.”
Segundo a CropLife Brasil, associação que atua nas áreas de germoplasma, biotecnologia, defensivos químicos e produtos biológicos – com pesquisa da consultoria Blink Projetos Estratégicos –, o setor de bioinsumos deve crescer 33% em 2021, com faturamento estimado em R$ 1,7 bilhão. Para 2030, a estimativa é de R$ 3,7 bilhões.
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Parte importante do crescimento esperado pela Koppert está no desenvolvimento de novos produtos. A empresa já possui 35 produtos em seu portfólio e está desenvolvendo outras 30 tecnologias por conta própria e também por meio de uma parceria com a Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), em Piracicaba (SP). Há três anos, a empresa foi convidada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) a contribuir com a construção de um prédio, no qual serão desenvolvidas várias linhas de pesquisa voltadas à tecnologia de produção e aplicação de macro e microorganismos para a defesa agrícola. Assim nasceu o SPARCBio (São Paulo Advanced Research Center for Biological Control), lançado no ano passado, com investimentos de R$ 40 milhões. O espaço deve ser inaugurado em fevereiro de 2022.
Para os executivos, outro fator que deve impulsionar a utilização de biodefensivos é a conscientização sobre o uso desse tipo de produto e também pela necessidade. Para Pedrazzoli e Herrmann está aí a oportunidade. “Poucos clientes hoje chegam por amor. Eles estão vindo para o biológico porque não estão encontrando soluções em outras ferramentas, como químicos”, afirma Hermann. “As grandes empresas vão, cada vez menos, lançar produtos regionais, elas lançam produtos globais.”
O executivo dá como exemplo uma praga do milho, a cigarrinha (Dalbulus maidis), inseto sugador de seiva capaz de causar danos diretos e indiretos às plantas e que hoje é a praga mais temida pelos produtores. Ela tem tirado o sono dos agricultores nos últimos anos, podendo causar perdas de até 90% em produtividade. “Nenhuma das grandes empresas vai querer gastar US$ 200 milhões do desenvolvimento de uma molécula que resolva um problema de US$ 100 milhões no Brasil”, diz Hermann. “Agora, para o biológico, esse negócio é grande. Então, a gente desenvolveu um bioinseticida para a cigarrinha do milho que resolve a dor do produtor. Acho que essa tendência natural está colocando a gente na mesa.”
A ocupação de espaços de mercado está no DNA da Koppert. O criador da marca, o agricultor holandês Jan Koppert lá no final dos anos 1960, enfrentava problemas de pragas e doenças em seu cultivo de pepinos quando foi em busca de uma alternativa para os pesticidas. Desde então, a Koppert Biological Systems abriu filiais em mais de 30 países, com receita global estimada em R$ 1,3 bilhão em cotação atual (€ 200 milhões). Está no Brasil desde 2011 porque Pedrazzoli e Herrmann, ex-sócios da Bug Agentes Biológicos (mais tarde absorvida pela Koppert) viram que a história poderia se repetir no país, mas em outra dimensão de mercado pelo tamanho do agronegócio local. “Quando pensamos em trazer o conceito para desenvolver a Koppert aqui, a principal preocupação [da matriz] era ‘eu vendo um produto para controlar uma doença aqui por € 500/hectare no morango. No Brasil, o mesmo produto tem que ser vendido a € 6/hectare para soja, porque se não o agricultor não compra’; Como serei lucrativo?”, diz Pedrazzoli, sobre o período de namoro com a Koppert, anterior a 2011.
A virada da chave estava justamente na escala. Pedrazzoli conta que não foi difícil exemplificar isso para a Koppert, em sua sede holandesa, afinal “na Europa você tem 20 mil hectares de morango, já no Brasil você tem 36 milhões de hectares de soja”. A dupla acredita nesse potencial e os resultados vêm sendo contabilizados. “Há produtos que aqui a gente tem mais margem do que a Koppert na Europa”, complementa Herrmann.