Com a colheita dos EUA sendo coisa do passado, a demanda está agora no foco dos mercados americanos de soja e o milho. As exportações estão em um ritmo bom, mas não muito até agora, embora as vendas futuras sejam a principal preocupação para a oleaginosa.
Alguns analistas acreditam que as estimativas do governo para as exportações de milho e soja dos EUA no ano comercial de 2021/22 encerrado em 31 de agosto são muito agressivas, especialmente porque as vendas diminuíram nas últimas semanas.
Para cumprir essas metas, os volumes de vendas e exportação necessários ao longo dos próximos oito meses não estão fora das normas históricas, mas podem estar quando colocados no contexto do preço.
Para a soja, os preços de exportação dos EUA estão na faixa do ano passado, mas cerca de 50% maiores do que no mesmo ponto em 2020.
As vendas de exportação não têm impressionado nos últimos tempos, incluindo uma mínima no ano comercial para a soja e algo próximo de mínima para o milho na última semana. No entanto, o ritmo de comprometimento para o milho está acima do normal em relação às expectativas, em grande parte devido às enormes compras chinesas no início de 2021.
Cerca de 65% da previsão de exportação de milho de 2,5 bilhões de bushels do Departamento de Agricultura dos EUA foi vendida até 30 de dezembro, idêntico ao ritmo do ano anterior. Na mesma data, as vendas de soja cobriam 75% dos 2,05 bilhões de bushels previstos para exportação em 2021/22. Isso se compara a 91% há um ano.
O ritmo da soja está defasado ante os anos mais recentes, embora supere a taxa de 30 de dezembro de 2017, 2018 e 2019, e as exportações finais nos três anos tenham ficado abaixo do esperado em dezembro. O maior comprador, a China, detém apenas 57% do total das vendas de soja, a menor participação em 13 anos, excluindo-se os dois anos de guerra comercial.
O preço provavelmente foi um grande obstáculo para a China e outros compradores ao longo do ano passado, já que as vendas para ambos os grupos ficaram notavelmente abaixo da média na segunda metade do ano passado.
Os preços da soja estão bem abaixo das máximas de meados de 2021, mas ainda seguramente acima dos níveis normais.
América do Sul VS EUA
Os primeiros embarques de soja do Brasil, já com a colheita iniciada, são iminentes. Dessa forma, o menor interesse da China nos EUA e os preços altos podem ser suficientes para justificar uma redução nas exportações americanas na atualização de estimativas da próxima semana. Mas a recente escalada da seca na América do Sul complica essa ideia.
Analistas esperam que o USDA corte a estimativa da safra de soja do Brasil para 141,6 milhões de toneladas, ante 144 milhões anteriormente, devido à seca e às péssimas condições nos Estados do sul.
Mas algumas perspectivas chegam a 131 milhões de toneladas, o que seria um grande golpe para o maior exportador de soja, mas uma oportunidade potencial para os negócios dos EUA.
É incerto se a demanda global de soja é forte o suficiente para que as exportações dos EUA substituam totalmente o que está perdido no Brasil, mas os problemas contínuos para a América do Sul podem manter os preços do grão elevados.
Assim, os consumidores finais podem ter que decidir aceitar as ofertas caras dos EUA ou buscar alternativas para a oleaginosa.
O USDA estimou no mês passado os estoques finais de soja de 2021/22 nos EUA em 340 milhões de bushels, com base nas exportações de 2,05 bilhões de bushels, número que alguns observadores do mercado consideram muito pesado. Os estoques do ano passado chegaram a 256 milhões, então as exportações por si mesmas poderiam ter um longo caminho a percorrer para reverter o aumento da oferta ano a ano.
A média prevista pelo mercado para os estoques finais de soja dos EUA é de 348 milhões de bushels, já que comerciantes aguardam a atualização do USDA na próxima semana, praticamente inalterada em relação ao mês passado.
Mas a atualização de anteontem (5) conterá muitas variáveis, incluindo rendimentos dos EUA e estoques trimestrais, além de quaisquer ajustes de demanda.
Se a oferta de soja neste mês permanecer próxima às expectativas, há um caminho para preços mais baixos da soja no futuro, o que pode estimular a demanda. As intenções de plantio nos Estados Unidos em 31 de março são conhecidas por abalar o mercado e, enquanto isso, não é tarde para as colheitas da América do Sul, especialmente na Argentina, se os infortúnios climáticos forem revertidos logo.
Karen Braun é analista de mercado da Reuters. As opiniões expressas acima são dela.