Robotizar, automatizar, usar recursos tecnológicos para avançar na produção agrícola não é um movimento novo no campo, mas em nenhum outro momento da história ele foi tão intenso como nos dias atuais e será ainda mais nos próximos anos.
A automação, um amplo conjunto de recursos para todos os setores da economia, também ganha escala na ampla cadeia do agronegócio, da agroindústria à produção do campo propriamente dita. Ordenhas nas fazendas leiteiras, dieta para bovinos, sistemas inteligentes de irrigação, controle de maquinários agrícolas, já são realidades no campo, em um número cada vez maior de propriedades. Na agroindústria, a hiperautomação é ainda mais avançada, mas o que esperar desse movimento para 2022?
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Segundo a consultoria global norte-americana Gartner, os investimentos globais em hiperautomação atingirão US$ 600 bilhões até 2024. O mercado foi de US$ 492 bilhões em 2019 e para 2022 a estimativa é crescer 23%, com expectativa de alcançar US$ 596,6 bilhões.
“Sem dúvida que a hiperautomação tem ressonância nas fazendas, já chegou e expandirá com o advento do 5G”, diz Maurício Machado, head da área de Hyperautomation e Customer Experience na Certsys, empresa do setor de transformação digital. “A Inteligência Artificial (IA) e o aprendizado de máquina (Machine Learning) vêm sendo usados em análises na tomada de decisão de insumos, roteirização, reconhecimento de espécies, gerenciamento do solo, entre outros bons exemplos processuais do segmento agro.”
Os destaques atuais são os robôs (RPA) e os assistentes virtuais, considerados a porta de entrada das empresas para a hiperautomação e “entregam resultados imediatos. Também ganham destaque as plataformas de workflow e lo-code/no-code, que trazem consigo uma abordagem mais ampla da hiperautomação”.
Na Marfrig, uma das maiores empresas de carne bovina do mundo, uma das mais recentes áreas robotizadas foi a digitação dos pedidos da área de PCP (Planejamento e Controle de Produção). Hoje, os robôs digitam um pedido em um tempo médio entre três e quatro minutos, recebendo uma base de 50 solicitações por dia, vindas do Brasil todo. No cenário anterior, a mesma operação levava, em média, de 10 a 15 minutos. Implantados há cerca de nove meses, os robôs levaram a Marfrig a ganhar 1.400 horas nessa área, que foram alocadas em atividades mais estratégicas, como inteligência de negócios.
“Ninguém quer ficar o expediente inteiro preenchendo planilha. Hoje, a equipe agradece a chegada dos robôs, pois está focada em atividades voltadas para o crescimento da companhia e para o próprio desenvolvimento pessoal”, diz Joel Santiago, diretor de tecnologia da informação da Marfrig. Outros exemplos de hiperautomação ocorreram nos departamentos que cuidam da compra e venda de couro bovino, e no setor responsável pelo fornecimento de carnes com osso. No total, houve uma economia de 9 mil horas.
Mas, de acordo com Machado, o mercado ainda carrega um débito técnico do pré-pandemia e a necessidade de transformação digital, potencializada durante a pandemia. O Brasil tem uma posição de liderança na América Latina, porém ainda fica atrás de América do Norte, Europa e Ásia, nessa ordem, daí a expectativa no salto do uso de tecnologias robóticas. “O isolamento social trouxe às empresas um cenário cada vez menos dependente do escritório físico, do chão da fábrica. E o setor agro sentiu também esses efeitos”, diz ele.
Além da importância da robotização de tarefas via RPA, a digitalização de fluxos de trabalho até então manuais ou repetitivos, e a aceleração de desenvolvimento de aplicações via plataformas low-code, vão se tornar cada vez mais uma realidade no mercado de agro. “Automação ajuda a empresa a aplicar inteligência em demandas administrativas, gerenciar decisões, processar documentos com agilidade, além de aumentar a força estratégica do trabalho humano”, explica Machado.
“Mas descobrir quais tipos de trabalho automatizar pode ser difícil no começo. O primeiro passo é ter a compreensão de como a empresa/fazenda opera, o tempo a ser gasto e os gargalos operacionais existentes, que serão sanados com a chegada da hiperautomação. Tendo essas etapas mapeadas, o céu será o limite.”
Confira na sequência, os conselhos de Machado para começar a jornada de hiperautomação já neste ano:
1 – Faça as perguntas certas
Você pode ter dezenas de possíveis projetos de automação, mas é importante realizar as seguintes indagações:
* Com que rapidez você responde às solicitações dos clientes e colaboradores?
* Como a experiência do seu cliente interno e externo se compara à de outros líderes na indústria, incluindo de seus concorrentes nativos digitais?
* Seus funcionários passam uma parte significativa do tempo fazendo o trabalho manual que poderia ser automatizado?
* Seus concorrentes oferecem mais produtos e serviços direcionados para nichos de mercado específicos do que você?
* Você pode modificar rapidamente os seus aplicativos de software front-end e back-end, conforme as expectativas dos clientes e de acordo com as mudanças nas regulamentações governamentais?
* Qual a porcentagem de transações de clientes e colaboradores resulta em exceções que devem ser processadas manualmente?
2 – Escolha um projeto significativo, mas não de missão crítica
Respondidas as questões acima é hora de encontrar um exemplo que valerá o esforço e demonstrará valor no projeto quando concluído. O processo automatizado a ser escolhido não poderá comprometer o andamento no dia a dia da operação.
3 – Comece com um fim em mente
Certifique-se de que o primeiro projeto seja um front-office, ou operação de backoffice, importante para o negócio. Além disso, mapeie toda a experiência desejada.
4 – Escolha uma plataforma flexível e escalável
Opte por uma solução flexível, embarcada em um conjunto de recursos para permitir um trabalho fluído entre especialistas e empresas, o chamado cross-enterprise. Use apenas o que precisa. Tudo baseado em informações holísticas, disponíveis na web, na nuvem e nos dispositivos móveis, de qualquer lugar para qualquer lugar.