Preparem-se para um rebote no mercado de trigo. Se o presidente dos EUA, Joe Biden, estiver correto sobre uma guerra iminente entre a Rússia e a Ucrânia, espere que os preços do cereal voltem, pelo menos, ao preço visto em novembro passado, de US$ 8,57 por bushel.
Isso representa um aumento de aproximadamente 9% em comparação aos níveis recentes de US$ 7,89. O trigo é usado como ração para o gado e para fazer pão e pizza.
Aviso de guerra do Salão Oval para Kiev
A questão nasceu na última quinta-feira de janeiro, quando Biden enviou um alerta ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, de que a capital da Ucrânia, Kiev, corre o risco de ser “demitida” por uma invasão russa. Biden aparentemente enxergou que um ataque à Ucrânia era iminente.
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Tal evento, que preocupa cada vez mais as potências da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), como o Reino Unido e os EUA, provavelmente teria um enorme impacto nos mercados de grãos, já que o país é um ator importante no mercado global de exportação de trigo.
“Um conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia provavelmente elevaria os preços”, diz um relatório recente de Jake Hanley, estrategista de portfólio da empresa Teucrium, um fundo de índice para commodities. O relatório, que foi publicado antes da notícia do alerta de Biden, aponta para a próxima volatilidade do mercado de grãos e chance limitada de queda nos preços.
Ucrânia e Rússia, dois grandes fornecedores de trigo
Os mercados de trigo enfrentam um problema multifacetado. Primeiro, a Rússia e a Ucrânia controlam juntas cerca de 29% do mercado global de exportação de trigo, de acordo com dados recentes do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA). Isso importa porque é a compra e venda de exportações que determina os preços mundiais das commodities, incluindo o trigo.
Uma guerra na Ucrânia pode prejudicar a colheita e as sanções à Rússia podem impedir que os grãos fluam das áreas controladas pela Rússia para o mercado mundial. Em outras palavras, uma guerra poderia diminuir a oferta global do grão.
No entanto, o assunto é ainda mais complicado. No momento, o entendimento do mercado é de que os estoques globais de trigo estão baixos em relação ao provável consumo. E o relatório Teucrium observa que o USDA espera que a oferta mundial de trigo caia pelo segundo ano consecutivo.
“Durante o verão passado, as secas globais reduziram a oferta [de trigo] ao menor nível em mais de 10 anos”, afirma Jim Roemer, em uma edição recente de seu boletim informativo Best Weather. Uma geada brutal nos EUA em meados de janeiro ajudou a manter os preços do trigo robustos. Porém, tais perdas de inverno podem prejudicar o rendimento das colheitas, reduzindo a oferta.
E mais tempo ruim pode estar a caminho. “Meu viés é de alta no trigo a longo prazo com expectativa de problemas climáticos nos EUA”, escreve Roemer. Aqueles com apetite por risco devem considerar a compra de futuros de trigo com data de maio na Bolsa de Chicago. Ainda assim, lembre-se de esperar volatilidade neste mercado.
Adendo da Forbes Brasil
O trecho a seguir não faz parte do texto original, mas é um um complemento sobre o cenário nacional para o trigo:
Como os preços das commodities são ditados pelo comércio das bolsas de valores – no caso do trigo a Bolsa de Chicago –, o Brasil pode sentir o baque de um mercado global mais nervoso. Isso porque o país é um grande importador do cereal. Em 2021, o Brasil importou 6,2 milhões de toneladas de trigo por U$ 1,66 bilhão, de acordo com o MDCI (Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio).
A maior parte, 5,2 milhões de toneladas, foi importada da Argentina por US$ 1,45 bilhão. Os embarques do cereal ocorreram durante todo o ano. Outros dois grandes fornecedores e com embarques frequentes foram Uruguai e Paraguai, com cerca de 300 mil toneladas cada. Da Rússia vieram 28 mil toneladas nos meses de agosto e setembro, praticamente o mesmo volume comprado do Canadá.
De acordo com o mais recente boletim do USDA, a Argentina deve produzir 21,8 milhões de toneladas de trigo na safra 2021/22. No ciclo anterior foram 17,65 milhões. Levando em conta os estoques iniciais de 2,16 milhões toneladas, as reservas do país devem ficar em 23,961 milhões de toneladas. A estimativa de exportações, ainda sem levar em conta os conflitos, era de 15,5 milhões de toneladas.
O Brasil é o principal destino do trigo Argentino, mas o país tem mercado aberto com os asiáticos, como Indonésia, Tailândia e Vietnã, além de Argélia Marrocos e também com países vizinhos.
*Simon Constable é colaborador da Forbes USA e autor da coluna ‘In Translation’ do The Wall Street Journal. É membro do Instituto Johns Hopkins de Economia Aplicada, Saúde Global e Estudo de Negócios Empresariais e co-autor do livro premiado “The WSJ Guide to the 50 Economic Indicators that Really Matter” (O Guia do Wall Street Journal para os 50 Indicadores Econômicos que Realmente Importam). Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.