“Mas é verdade?” Foi com essa reação – de orgulho e não de incredulidade – que dona Heloísa reagiu à notícia de que a filha Maria Luiza estava sendo promovida a presidente da Bayer no Brasil. Malu (como prefere ser chamada) Nachreiner assumiu o cargo no dia 1º de novembro do ano passado, 18 anos depois de iniciar como estagiária na Monsanto, que depois seria adquirida pela multinacional alemã.
Ela passa a ser responsável pelas divisões Pharmaceuticals, Consumer Health e Crop Science, respondendo ainda pela gestão executiva desta última, que produz inseticidas, fungicidas, desfolhantes, herbicidas e sementes. Sob seu comando estão 35 unidades e mais de 6 mil colaboradores.
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Agrônoma formada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), com MBA Executivo pela Universidade de Pittsburgh e MBA em Marketing pela FGV, ela conta que não vem de uma família ligada ao agro. “Cresci na Grande São Paulo, filha de ‘mãe solo’ que trabalhava na área administrativa.
No vestibular, prestei para outros cursos. Entrei na Esalq ainda com dúvidas”, lembra ela. “Minha estratégia foi fazer muitos estágios para conhecer as várias alternativas do setor e, quem sabe, me encontrar. No último ano de faculdade, entrei em um estágio profissionalizante full time focado em vendas na Monsanto. Fui trabalhar em Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, muito próxima dos agricultores. Fui criando uma forte conexão e um respeito muito grande pelo que acontece na agricultura no Brasil.”
Malu foi efetivada em 2004 e não saiu mais do grupo. Passou pelos departamentos de marketing, vendas e gestão de produtos no Brasil e na América Latina. Hoje, aos 42 anos, confessa que só mais recentemente começou a vislumbrar caminhos tão grandiosos na carreira – e que tudo aconteceu antes do que previa.
Qual é o segredo para ser escolhida como líder máxima de uma empresa desse porte? “Tive a oportunidade de trabalhar em projetos muito estratégicos para a empresa, que me permitiram desenvolver habilidades importantes e que me deram visibilidade”, revela a presidente. “Por isso, sempre digo ao time: quando surgir uma oportunidade de se envolver em algum projeto relevante, mergulhe.” Outro trunfo, segundo ela, é “a capacidade de criar um ambiente de colaboração, em que as pessoas compartilham abertamente seus pontos de vista”.
Participação feminina
“Nessas duas décadas no setor, vi uma evolução muito expressiva no número de mulheres na liderança. É um movimento necessário dentro e fora da porteira.” Malu lembra que dados de 2017 do IBGE diziam que 20% das propriedades eram lideradas por mulheres – e que números mais recentes mostram que elas já são 25%. “Se você colocar na conta aquelas que lideram junto com maridos e filhos, são quase 40%.”
Em 2021 a Bayer comemorou 125 anos de Brasil e três anos da criação, em parceria com a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), do prêmio Mulheres do Agro, que reconhece empreendedoras rurais de pequenas, médias e grandes propriedades que seguem boas práticas agropecuárias e de gestão.
“O agro é um reflexo da sociedade. Por isso é importante a participação cada vez maior não só das mulheres, é preciso incentivar a diversidade e a inclusão de forma ampla. Na Bayer a questão inclusiva é muito forte. Não se trata de um ou outro, mas sim de um e outro. Essa é a beleza e a riqueza da diversidade, a soma de pontos de vista distintos para a solução de problemas complexos”, afirma Malu.
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Nessa premissa de “um e outro”, ela também acredita na convivência pacífica de insumos químicos e biológicos, estes últimos gozando da aura de serem mais sustentáveis que os primeiros. “Estamos em uma agricultura tropical, com seus muitos desafios. Uma única ferramenta pode ser insuficiente”, diz ela.
De qualquer forma, a Bayer investe anualmente na divisão agrícola 2 bilhões de euros em P&D, com foco maior nos defensivos, na biotecnologia, em sementes e agricultura digital. Fusões, aquisições e parcerias também estão no radar para dar conta da variedade de tecnologias que surgem. “Defensivos agrícolas são parte da equação de produtividade, de sustentabilidade. Hoje temos um produtor final mais consciente, forçando toda a cadeia a ser mais consciente também.”
*Reportagem publicada na edição 92 da Revista Forbes como parte do Especial “As 100+ do Agro”