Cada vez mais, as marcas de alimentos assumem que para mudar o futuro de um setor é necessário impactar primeiro a sua base e a forma de produzir. Mexer na cadeia de valores que começa no campo é o que vem acontecendo para um grupo de 25 agricultores familiares gaúchos que fazem parte de um projeto da Urban Farmcy, com sede em Porto Alegre, empresa de alimentos congelados e snacks plant based.
“A agricultura familiar é a maneira mais competente de produzir e comercializar alimentos sustentáveis e de qualidade”, diz Tobias Chanan, 45 anos, fundador da startup. “A gente está muito engajado em ressignificar a comida congelada, uma categoria de consumo super aderente à vida moderna, mas que parou no tempo.” Chanan é um empreendedor com experiência. Ele já foi CEO do Empório Body Store, marca de cosméticos comprada pela multinacional L’Oréal em 2013.
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A empresa processa cerca de 12 toneladas de alimentos mensalmente, sendo 7 toneladas de hortifrutis, como alho poró, hortelã, beterraba, grão de bico, pepino japonês couve fresca, banana, laranja e limão; e 5 toneladas de material seco, como arroz, grão de bico, mostarda e feijões. Eles são a base para feijoada, almôndegas e lasanhas, por exemplo.
A Urban Farmcy, que nasceu em 2017, entrega produtos em cerca de 600 pontos de venda em todo o país. O projeto da agricultura familiar para os 25 produtores que cultivam grão de bico, pepino japonês e couve crespa, pretende dobrar a renda desse grupo até 2030.
Caminho para crescer
Há dois caminhos para isso. O primeiro é separar 1% da receita bruta da Urban Farmcy investir na melhoria da infraestrutura das propriedades rurais. O segundo caminho é o da compra garantida de algum dos cultivos das hortas. A empresa se comprometeu a adquirir um mínimo de R$ 6.000 por mês. Em fevereiro foram R$ 13.000.
A primeira experiência está sendo com a compra de couve crespa do produtores ligados à horta de agricultura familiar Filhos da Terra, em Eldorado do Sul (RS). Só para comparação, nos supermercados um pé de couve crespa custa cerca de R$ 5,50. Nos últimos três meses, os produtores entregaram à Urban Farmacy 681 quilos de couve, que se transformaram em alimentos, entre eles os snacks vendidos em pacotes de 25 gramas.
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“A gente investe para que o agricultor aumente a sua produtividade e também possa fornecer para outras empresas de alimentos, porque no fim do dia o que a gente quer é uma rede de produtores mais consistente, com melhor planejamento e menos solavancos”, explica Chanan.
Desde 2017, a estimativa é de que a empresa já tenha gerado cerca de R$ 2,4 milhões em renda ao grupo de 25 produtores. Agora, a meta é acelerar esses ganhos. Antes da criação do projeto, a startup trabalhava com demandas programadas e não compras garantidas. A nova relação garante renda aos produtores na sazonalidade dos vários cultivos.
No caso, o incentivo à couve crespa ocorre por ser um cultivo diferenciado. Popular nos EUA e países da Europa, ela ainda é pouco produzida no Brasil. “Essa planta agregou muito ao nosso trabalho e à nossa renda, porque agora recebemos um valor fixo mensal, investimentos para manutenção da estufa, adiantamento para compra de sementes, além do acompanhamento preventivo do cultivo”, afirma Marinês Riva, produtora da Filhos da Terra. “Foi uma primeira experiência na região e nós fomos os pioneiros. Hoje, outras famílias e bancas da feira já têm essa variedade, ela se disseminou.” Além da couve, saem da horta outros produtos, como brócolis e rabanetes.
“A gente precisa entender que o nosso compromisso, como empresa do setor de alimentação é, antes de mais nada, com a saúde e com o meio ambiente”, diz Tobias. “Por isso, hoje a nossa meta é que cada produto da Urban tenha pelo menos 50% de ingredientes oriundos da agricultura limpa e familiar.”