À medida que usinas se preparavam para a nova temporada 2022/23, o centro-sul retomou a produção de açúcar na segunda parte de março após seis quinzenas consecutivas sem registro da fabricação do adoçante, a série mais longa em uma entressafra em dez anos, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) divulgados nesta terça-feira.
Mas o volume produzido de açúcar na segunda quinzena de março ainda foi irrisório, de pouco mais de 10 mil toneladas, uma vez que a moagem está baixa, com usinas aguardando um maior desenvolvimento dos canaviais para um processamento mais produtivo, após problemas climáticos ao longo de 2021.
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Além disso, a maior parte dos volumes de cana processada ainda foi destinada à fabricação do etanol, que respondeu por 89% da destinação da matéria-prima, enquanto o açúcar absorveu 11%.
A moagem de cana do centro-sul do Brasil somou 1,18 milhão de toneladas na segunda quinzena de março, queda de 76,35% na comparação anual, ainda com poucas usinas operando antes do início oficial da nova safra, em 1º de abril.
“O menor número de unidades na segunda quinzena de março e na primeira de abril é consequência dos eventos adversos da safra 2021/2022, que têm levado as unidades à atrasarem o início da colheita com a expectativa da melhora da produtividade agrícola e qualidade da matéria-prima”, disse o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues.
O diretor havia previsto em entrevista à Reuters em março que o número de unidades em operação seria pequeno, também pelo fato de o setor contar com estoques de açúcar e etanol.
Com menos unidades em operação ante o mesmo período do ano passado, a produção do biocombustível somou 213 milhões de litros na segunda quinzena de março, queda de 43,11%, segundo a Unica.
As usinas têm focado mais o etanol, o que tradicionalmente acontece no início das safras, ainda mais após um reação nas vendas internas e preços em alta.
Na última quinzena da safra 2021/22, as unidades produtoras registraram um aumento de 16,24% no volume comercializado quando comparado ao mesmo período no ano anterior, segundo a Unica.
Para Padua, houve uma “sólida recuperação nas vendas de etanol hidratado” na segunda quinzena de março, que já vinha ensaiando uma melhora.
A produção de açúcar do centro-sul do Brasil atingiu apenas 12 mil toneladas na segunda quinzena de março, queda de 92,81% na comparação anual.
A segunda metade de março contou com 25 unidades produtoras em operação, sendo 16 usinas de cana e nove empresas que produzem etanol a partir do milho.
No mesmo período da safra anterior, havia 37 unidades industriais processando cana-de-açúcar e dez fabricando etanol de milho, de acordo com dados da Unica.
Vendas caíram em 2021/22
A moagem acumulada da safra 2021/2022, encerrada ao final de março, somou 523,11 milhões de toneladas, retração de 13,6% frente à safra 2020/2021, com impacto de uma redução maior em São Paulo, principal Estado canavieiro do país.
Do percentual de 16,5% de redução em São Paulo, uma fatia de 1,38 ponto percentual refere-se à redução da área colhida e 15,12 pontos à queda de produtividade da lavoura.
“Essa redução na produtividade é consequência do veranico prolongado nas regiões produtoras, das geadas que atingiram mais de 10% da área de colheita e dos focos de incêndio no mês de setembro”, disse o diretor.
Com isso, a produção acumulada de etanol atingiu 27,55 bilhões de litros (-9,31%), com a fabricação de anidro avançando 12,6%, para 10,91 bilhões de litros. Já o hidratado, que perdeu mercado para a gasolina, teve produção de 16,64 bilhões de litros (-19,55%) em 2021/22.
A parcela do produto fabricada a partir do milho totalizou 3,47 bilhões de litros, com avanço de 34,33% em relação à safra 2020/2021.
As unidades produtoras comercializaram um total de 27,53 milhões de litros (-10,67%), considerando tanto volumes destinados à exportação quanto consumo em mercado interno. O etanol anidro totalizou 10,90 milhões de litros (+8,42%), enquanto o hidratado registrou 16,63 milhões de litros (-19,91%).
As vendas de açúcar para exportação na temporada que se encerrou somaram 23,62 milhões de toneladas, queda 18,37% ante a safra anterior. No mercado interno alcançaram 8,42 milhões de toneladas, redução de 4,25%.