As lavouras de milho de Mato Grosso, maior produtor de grãos do Brasil, estão sofrendo com escassez hídrica após as precipitações mais baixas para o Estado em abril dos últimos 17 anos, de acordo com a EarthDaily Agro, empresa que monitora áreas agrícolas a partir de análises de imagens de satélite.
A precipitação acumulada em abril em Mato Grosso deve ficar em cerca de 30 milímetros, 70% inferior à média registrada na última década, acrescentou a companhia de monitoramento agrícola, uma divisão da EarthDaily Analytics.
“Aumenta a preocupação dos produtores de milho de segunda safra no Mato Grosso com a estiagem que já dura mais de um mês em diversos municípios”, disse a empresa, em relatório obtido primeiro pela Reuters.
O Brasil e compradores no exterior dependem fortemente do milho produzido em Mato Grosso, cuja segunda safra foi oficialmente estimada em cerca de 40 milhões de toneladas, de um total previsto para o país de 88,5 milhões de toneladas, segundo o último levantamento da estatal Conab, divulgado no início do mês.
Uma eventual frustração de safra brasileira, até o momento estimada em um recorde de mais de 115 milhões de toneladas (considerando a colheita de verão), poderia impactar as exportações brasileiras e apertar a oferta interna, dando mais firmeza aos preços, em patamares historicamente elevados.
“O vigor de vegetação (NDVI) teve leve deterioração nos últimos dias (em Mato Grosso), demonstrando os reflexos iniciais do estresse hídrico. A umidade do solo está baixa e deve cair ainda mais no curto prazo, limitando o potencial produtivo das lavouras de milho segunda safra”, afirmou a EarthDaily Agro.
A empresa não divulgou uma avaliação detalhada sobre impactos da seca, que também atinge Goiás, outro importante produtor do cereal.
Reportagem da Reuters na semana passada havia apontado preocupações de produtores com o tempo seco para a região central do Brasil.
Levantamento realizado pela EarthDaily Agro na segunda-feira mostrou que toda a área central de Mato Grosso e boa parte do norte do Estado mantêm precipitação abaixo de 5 milímetros desde o último dia 4.
Municípios como Lucas do Rio Verde e Sorriso tiveram um volume de 19 mm de chuvas (contra média de 98 mm).
Em Goiás, o cenário também é desfavorável ao desenvolvimento das lavouras de segunda safra, segundo a EarthDaily Agro, citando que a tendência é de que a precipitação acumulada em abril seja de 12,5 mm, contra média de 80 mm.
“Para comparação, em 2016 o volume de chuvas no mês foi de 6,7 mm, o que impactou fortemente o desenvolvimento das lavouras na época”, disse o analista de safra da EarthDaily Agro, Felippe Reis, em relatório.
O NDVI começa a demonstrar leve deterioração diante da baixa umidade do solo, que deve continuar diminuindo nos próximos dias, acrescentou.
Já em Mato Grosso do Sul o índice de vegetação está em patamar bem alto desde o início do ciclo, o que indica “bom desenvolvimento das lavouras até o momento”.
Mesmo com a queda da umidade do solo nos últimos dias, ainda não há motivo para preocupação, disse a empresa.
“No entanto, a seca deve se intensificar nos próximos dias e a umidade do solo continuará caindo, ou seja, será preciso atenção à evolução dos índices de vegetação na fase de enchimento de grãos, caso a seca se prolongue”, comentou o analista.