A colheita não espera. Enquanto a agricultura americana enfrenta uma crise trabalhista há décadas, resultando no desperdício de US$ 3,1 bilhões (R$ 14,57 bilhões na cotação de hoje, 18) em alimentos.
O emprego no campo caiu 75% nas últimas sete décadas, de acordo com o USDA (Departamento de agricultura dos Estados Unidos). Preenchendo uma lacuna crucial, os trabalhadores migrantes representam a maioria da força de trabalho agrícola. Nos últimos anos, menos trabalhadores estão migrando para os EUA e aqueles que se deslocam ao país precisam passar pelo oneroso programa H-2A, um processo repleto de ineficiências.
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Os cofundadores Michael Guirguis e Jordan Taylor decidiram resolver esse problema com a Seso, uma startup que conecta agricultores que precisam de trabalhadores e trabalhadores migrantes que precisam de emprego.
“Os agricultores querem plantar. Eles não são bons em papelada”, diz Guirguis, cuja startup está digitalizando processos de recrutamento e folha de pagamento agrícola, a maioria dos quais até hoje é feito com papel e caneta.
A Seso fornece aos produtores rurais automação de vistos para trabalhadores migrantes, conformidade regulatória do governo, um banco de dados de funcionários e ferramentas de gerenciamento para facilitar o processo de documentação administrativa repleto de complicações. A startup gerenciou a burocrácia para 5.500 trabalhadores rurais com vistos H-2A em 2021.
Quase um ano após o lançamento no mercado de trabalho, a Seso anunciou na quinta-feira (14) que levantou US $ 25 milhões (R$ 117,5 milhões), em uma rodada da Série A, liderada pela Index Ventures, com a participação da Founders Fund, NFX e K5 Ventures.
Fundada em 2019 nos EUA, a empresa conta com 35 funcionários e 77 clientes, incluindo algumas das maiores fazendas do país. Os produtores rurais que usam a tecnologia da startup para recrutar e gerenciar trabalhadores migrantes abrangem um amplo espectro, incluindo um agricultor de avestruz sul-africano, pastores de ovelhas em Utah e um apicultor em Dakota do Norte.
Tradicionalmente, os produtores contam com intermediários para contratar trabalhadores H-2A. Erros no tedioso processo de solicitação de visto resultaram em atrasos na chegada de trabalhadores e, finalmente, bilhões de dólares em colheitas desperdiçadas. “O programa exige que você trabalhe com quatro ou cinco agências governamentais diferentes”, diz Gurguis. “É tão complicado, nunca foi feito para dar certo. É um sistema quebrado.”
B.T. Loftus Ranches, uma das fazendas de lúpulo mais antigas do Yakima Valley, usa a tecnologia da Seso para se comunicar com funcionários que retornam, muitos dos quais vivem em áreas rurais sem serviço de celular. A Seso, que também tem funcionários no México, ajuda a providenciar transporte para que os trabalhadores migrantes cheguem ao consulado com segurança e, como resultado, reduziu em 70% o trabalho antes realizado pelo departamento de RH.
“A logística de ter que localizar os trabalhadores foi definitivamente um grande obstáculo que tivemos que superar todos os anos”, diz Alex Munoz, diretor de recursos humanos da B.T. Loftus. “Ter um recrutador que alcança os trabalhadores por meio de diferentes plataformas, definitivamente tornou nosso processo de contrato mais tranquilo.”
Antes de construir um portal de gestão da força de trabalho para o setor agrícola, o CEO de 32 anos trabalhou na Casa Branca, no Conselho Econômico Nacional, desenvolvendo políticas de emprego e habitação. Gurguis, cujos pais são egípcios, formou-se na Universidade de Stanford em 2011, onde estudou política trabalhista e economia. “Percebi que não quero ser um formulador de políticas, quero usar a tecnologia para criar empregos. Então, eu sabia que, em algum momento, iniciaria uma startup de mercado de trabalho porque essa era minha paixão.”
Elizabeth Ortiz Zarate é uma trabalhadora migrante mexicana de 28 anos, que trabalha para a varejista de plantas Bonnie Plants em Utica, Nova York. Ela ingressou noss EUA com um visto H-2A, o único visto sem limite no país. O programa H-2A permite que os agricultores americanos recrutem trabalhadores sazonais de outros países por até 10 meses, somente após demonstrarem que não conseguiram encontrar mão de obra doméstica para preencher a vaga.
No México, Zarate trabalhou como engenheira industrial, ganhando US$ 450 (R$ 2.100) por mês, mas nos EUA ela pode ganhar cerca de US$ 3.000 (R$ 14.100), por mês, como trabalhadora sazonal. Ela envia a maior parte de sua renda para seus avós. “O programa H-2A permite que você entre no país sem colocar sua vida em risco pelo processo de imigração ilegal, que é perigoso e pode levar à extorsão”, diz Zarate. “Isso lhe dá a oportunidade de ganhar um salário honesto e aprender novas habilidades.”
A Seso cobra dos produtores rurais cerca de US$ 5.000 (R$ 23.500) como taxa de software de conformidade e taxa de aplicação por seus serviços, embora a taxa varie dependendo dos serviços usados pelo agricultor. A empresa faturou US$ 3 milhões (R$ 14,1 milhões) em vendas em 2021, disse Guirguis à Forbes.
“A Seso construiu tanta confiança na agricultura que sua a base de clientes espera que eles automatizem cada vez mais seu fluxo de trabalho, que é uma característica presente em algumas das melhores empresas verticais de software”, diz Nina Achadjian, sócia da Index Ventures.
Os trabalhadores migrantes, uma das populações mais exploradas, permanecem em grande parte sem conta bancária e têm de ser pagos com cheque. Com a nova rodada de financiamento, a startup planeja incorporar funções financeiras e de folha de pagamento em sua tecnologia para que os trabalhadores não precisem perder 10% de seu salário em taxas de remessa de valores.