O tempo mais seco trouxe novas quebras para a safra de milho do Brasil em 2021/22, agora com uma redução estimada em 5 milhões de toneladas na colheita de inverno do centro-sul, o que impactará proporcionalmente o volume a ser exportado pelo país, afirmou hoje (9) a consultoria AgRural.
A segunda safra do centro-sul, estimada em 85,9 milhões de toneladas no mês passado, agora está projetada em 80,9 milhões de toneladas, ainda um recorde. Já a produção total na temporada 2021/22 pode atingir históricos 112,3 milhões de toneladas, graças a um aumento no plantio impulsionado por bons preços.
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Mas há preocupações sobre novas reduções, uma vez que as chuvas no Centro-Oeste “cortaram” mais cedo este ano, disse o analista da AgRural Fernando Muraro, à Reuters. Ele lembrou que, de outro lado, as lavouras de Paraná e do sul de Mato Grosso do Sul estão em boas condições, o que colabora para deixar o mercado em compasso de espera, dificultando negociações.
“Na região que está em estiagem (Centro-Oeste), aconteceu o que aconteceu com o Sul (na safra de verão). Como está muito difícil calcular, e o viés é de baixa (na produção), os caras não vendem, enquanto o milho no Sul agora está uma maravilha, está excepcional no Paraná…”, disse Muraro.
Com o corte na previsão, a exportação brasileira que poderia atingir recordes de 43 milhões de toneladas agora está estimada entre 38 milhões e 40 milhões de toneladas, disse Muraro.
“O número está mais para menos de 40 milhões, uma vez que a segunda safra não vai performar tão bem. Com uma safra cheia, chegamos a imaginar uma 42 a 43”, declarou ele, destacando que o exportador tem prevalecido sobre o mercado interno, com o conflito na Ucrânia aumentando a demanda pelo cereal brasileiro.
No ano passado, quando a safra quebrou por seca e geadas severas, a exportação somou apenas 21,6 milhões de toneladas.
Muraro disse ainda que, uma vez que riscos de geadas não podem ser descartadas ainda para o milho de inverno do Paraná –apesar de um plantio mais adiantado– isso adiciona mais incerteza.
Sobre o Paraná, ele lembrou também que o importante Estado agrícola sofreu perdas expressivas na soja no último verão, mas agora produtores têm chance de recuperar com o milho.
“O melhor milho está onde tivemos a pior soja (no verão), e o pior milho é onde a soja foi excepcional”, afirmou, destacando que algumas regiões do Cerrado estão 45 dias sem chuvas.
Com a área do centro-sul praticamente estável em relação à previsão do mês passado –14 milhões de hectares, 6% acima de 2021–, o que pesou no corte de produção foram as produtividades, que caíram em todos os Estados da região, com exceção do Paraná.
“As maiores perdas de rendimento são registradas em Goiás e áreas mais tardias de Mato Grosso, mas também há redução de potencial em Minas Gerais, São Paulo e norte de Mato Grosso do Sul”, disse a consultoria.
A produtividade média da região é estimada agora pela AgRural em 96,3 sacas por hectare, contra 102,5 sacas em abril e 70,7 sacas na safrinha 2021.
A AgRural disse que fará uma nova revisão da safrinha em junho e, confirmando-se as previsões de tempo seco, novos cortes poderão ocorrer. “No Paraná e no sul de Mato Grosso do Sul, a safrinha está em excelente forma, mas ainda há risco de perdas por eventuais geadas”, alertou.
Oferta interna
Segundo Muraro, a situação do milho segunda safra agrava uma conjuntura vivenciada pelas indústrias de carnes de aves e suínos, que dependem fortemente do cereal para alimentar as criações, após uma quebra na safra de verão, no Sul do Brasil.
“Não é que vai faltar milho, mas começa a complicar de novo, o setor de carnes está muito difícil este ano, está com dificuldade de repassar os custos altos de milho e farelo de soja… A situação é tão delicada que não estão tendo capacidade para comprar milho agora, então estão deixando o mercado passar”, disse.
Para Muraro, o “mercado interno está bem abandonado”, em função da falta de capacidade de pagamento de muitas indústrias. Com isso, a saca de 60 kg de milho está ainda cotada em patamares um pouco abaixo de R$ 90, um nível historicamente elevado, mas inferior ao pico de mais de R$ 100 visto no início do ano.
Em um contexto em que o mercado internacional é demandante, por conta do conflito no Leste Europeu, ele avalia que a indústria local enfrentará forte disputa com os exportadores, ainda mais se os problemas de safra se agravarem.