Produtores de café arábica de Minas Gerais, estado que responde por cerca de 70% da produção brasileira da variedade, começaram a colheita do que consideram ser uma fraca safra em 2022, abaixo do potencial após geadas e seca, e acreditam que há a possibilidade de uma inversão de ciclo em 2023, para produtividades em geral mais altas.
A temporada de 2022 seria a positiva no ciclo bianual do arábica, que alterna anos de maiores produtividades com os de menores. Mas, diante da estiagem prolongada em 2021 e das geadas mais severas em décadas no último inverno, muitos produtores receparam os pés de café, o que associado ao clima faz com que a safra não seja verdadeiramente a de alta.
Ao mesmo tempo em que tratos culturais prepararam as árvores para produzir mais em 2023, o que teria impacto na alternância de ciclos nos próximos anos afetando também fluxos de café, um clima favorável é fator fundamental para uma alta na produção no ano que vem, algo que ainda não é possível prever. O foco atual está mesmo na colheita de 2022.
“A colheita está começando, eu mesmo comecei na terça-feira, até o final do mês todo mundo vai pegar firme. O clima está bom para colheita, está muito seco, tivemos poucas chuvas nos últimos 60 dias…”, disse o superintendente comercial da cooperativa Cooxupé, Lúcio Dias, à Reuters.
A colheita de arábica normalmente começa em meados de maio, intensificando-se em junho.
A safra brasileira de 2022 está estimada pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) em 55,7 milhões de sacas de 60 kg, versus 47,7 milhões de sacas de 2021, quando o Brasil teve um ano de baixa do arábica, e distante do recorde de 63 milhões de 2020.
Sem as intempéries, a expectativa seria de que a produção de 2022 pudesse ficar mais próxima da de 2020, o que é esperado agora para 2023, com a possível inversão do ciclo.
“Se chovesse um pouco seria bom para a próxima safra (2022/23)… Vai inverter o ciclo com certeza, mas temos 90 a 120 dias para poder ter certeza, dependemos de clima”, afirmou o superintendente comercial da Cooxupé, maior cooperativa e exportadora de café do Brasil, durante evento do setor no Guarujá (SP).
“A safra deste ano (2022) é muito ruim, fraquíssima, uma das piores safras que estamos colhendo nos últimos anos. Só não vai ser pior do que no ano passado porque estamos contando com Zona da Mata, senão seria igual”, acrescentou ele.
Para o agrônomo Francisco Sérgio de Assis, presidente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, outra importante região produtora de arábica de Minas Gerais, a colheita deste ano está começando, mas o setor tem baixa expectativa.
“Fomos premiados negativamente pelas geadas e pela seca, era um ano de safra alta, vai ser um ano de safra média/baixa, e estamos apreensivos, porque os preços estão bons, mas os insumos estão com preços altíssimos, e, com as vendas futuras, o preço médio que o produtor está tendo não é satisfatório”, disse ele, durante o seminário internacional do setor no Guarujá (SP).
“É uma safra muito difícil de estimar, principalmente do Cerrado, porque é de roseta rala, banguela”, afirmou ele, em referência às formações de grãos nos ramos.
Embora considere ser prematuro para fazer projeções para 2023, Assis disse concordar que a safra 2023 será melhor do que a atual. “Neste ano, principalmente no Cerrado mineiro, foi muito grande a perda pela geada e pela seca, muita gente fez poda e talvez 2023 não vá chegar no teto, muitas lavouras foram recepadas, começa a voltar à normalidade em 2024/25.”
Avaliação de tradings
Executivos de grandes tradings presentes no evento do Guarujá também concordam com a possibilidade de uma safra melhor em 2023, o que seria importante para equilibrar o mercado após uma safra mais baixa que o potencial em 2022.
“Se o tempo for normal, se não tivermos geadas ou seca, o Brasil poderia ter uma safra maior no próximo ano, é um potencial, mas é muito cedo para falar, é preciso ter as floradas ainda (em outubro)”, disse Trishul Mandana, diretor executivo da Volcafe.
Questionado sobre a safra atual, Mandana disse que “concordaria” que a colheita que se inicia está abaixo do potencial e disse, sem revelar seus números, que a Volcafé tem uma das menores expectativas do mercado.
Para o chefe da divisão de café da ECOM Agroindustrial, Teddy Esteve, o mundo vai ter um pequeno déficit no próximo ano porque a safra do Brasil “não é grande o suficiente”, e “é por isso que os preços estão tão altos”, na faixa de 2,20 dólares por libra-peso na bolsa de Nova York.
“A próxima safra vai depender das floradas em outubro, 100% depende do tempo, pode ser 60 (milhões de sacas) de novo, 70, pode ser fantástica”, disse.
“Se não tiver problemas com o tempo, o Brasil vai ter uma safra fantástica, muito melhor (em 2023), pelo menos 10 milhões de sacas a mais, se não tiver problema com o tempo.”
O diretor geral do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), Marcos Matos, concorda, dizendo que a temporada de 2023 “pode ser de bianualidade positiva, mas é muito cedo para dizer”.
Ele considerou que seria importante isso acontecer após a seca ter afetado a produção do Brasil em 2021 e 2022, limitando embarques recentes do maior exportador global.