Nova York, Toronto, Los Angeles, Londres — todas as grandes cidades têm planos robustos para organizar como nos deslocamos, usamos infraestrutura e minimizamos nosso impacto ambiental. Mas há uma área visivelmente ausente: como alimentamos nossos cidadãos.
Considere o seguinte: até 2050, quase 70% da população mundial estará concentrada nas grandes cidades, e isso é um problema para o futuro da segurança alimentar.
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As mudanças climáticas estão tornando progressivamente mais difícil para os agricultores de todo o mundo aumentar a produção de alimentos, e as longas cadeias de suprimentos das quais nos tornamos dependentes para alimentar uma população crescente estão se rompendo.
A realidade é que não podemos construir cidades resilientes e climaticamente inteligentes sem planejar alimentar eficientemente as pessoas que as povoam. É hora de a produção local de alimentos ser um elemento básico do planejamento urbano e das empresas se envolverem.
Jardins na cobertura: românticos, mas não alimentam cidades
Primeiro, é preciso elogiar as cidades pelo trabalho que fizeram para enfrentar questões como mudanças climáticas e segurança alimentar nos últimos anos. Os governos locais em alguns países estão na linha de frente dos problemas globais e lideram as políticas, com níveis mais altos de governo seguindo atrás.
Por exemplo, tem sido encorajador ver lugares como Nova York e Boston desenvolverem departamentos de agricultura urbana dentro das prefeituras, mas temos que garantir que seu objetivo esteja no lugar certo.
Quando as cidades abordam as fontes de alimentos em seu planejamento urbano, muitas vezes o que aparece é a promessa da cidade de Nova York de criar mais hortas comunitárias ou o estatuto de Toronto que exige que novos edifícios incluam espaços verdes em seus telhados.
Embora esses jardins na cobertura sejam belos espaços comuns, eles não tem capacidade de atender à escala necessária para alimentar a crescente população.
O World Resources Institute estima que precisamos aumentar a produção agrícola em 593 milhões de hectares de terras agrícolas até 2050 para sustentar adequadamente a população global. Isso é cerca de duas vezes a massa de terra da Índia. É impossível construir uma rede de telhados e terrenos baldios que possa atingir essa escala de crescimento.
Para criar cadeias alimentares locais confiáveis é necessário pensar maior. O objetivo deve ser encurtar as cadeias de abastecimento e tornar os alimentos nutritivos mais acessíveis.
Para isso, precisamos de polos alimentares sustentáveis, em escala comercial, que aproveitem as terras na periferia dos centros urbanos e sejam capazes de fornecer a todos os moradores alimentos frescos e cultivados localmente.
Como CEO de uma empresa de tecnologia agrícola, posso dizer que as agtechs já percorreram um longo caminho em pouco tempo. Já existem sistemas altamente automatizados que permitem que grandes quantidades de alimentos sejam cultivadas em ambientes controlados, usando uma fração da terra e da água exigidas pela agricultura tradicional.
O futuro da alimentação das cidades pode estar no envio de alimentos a curtas distâncias para os compradores, logo após serem colhidos. Eles teriam toda a conveniência da logística “just in time” (paywall) com a qual nos acostumamos sem a vulnerabilidade de longas cadeias de suprimentos.
Uma solução local para um problema global
A segurança alimentar é uma questão que diz respeito a todos – todos os níveis de governo, todos os cidadãos deste planeta. Embora os desafios para alimentar uma população crescente sejam globais, acredito que o caminho mais eficaz para um fornecimento estável de alimentos é o crescimento local.
É aqui que empresas, investidores e governos podem atuar agora. Governos de todo o mundo mostraram que podem resolver problemas complexos por meio de planejamento inteligente e eficaz, mas não podem fazê-lo sem parceiros privados. A Holanda, por exemplo, tem sido historicamente um centro de desenvolvimento sustentável em todos os setores e cresceu para se tornar o segundo maior exportador de alimentos do mundo.
O país investiu recursos significativos na agricultura sustentável desde a Segunda Guerra Mundial, mas empresas privadas como a Duijvestijn Tomatoes levaram esse trabalho para o próximo nível desenvolvendo operações massivas baseadas em tecnologias limpas que podem aumentar a segurança alimentar, fornecer benefícios econômicos e reduzir as emissões vinculadas à agricultura.
Para muitos negócios atuais, desenvolver esses tipos de centros de alimentares não faz sentido. Mas o investimento em tecnologia agrícola está crescendo, com gigantes como o Walmart fazendo grandes movimentos em cultivo interno. Esse investimento não poderia ter vir em melhor hora, porque é preciso que o boom do financiamento de risco se espalhe pelas principais instituições financeiras.
Os produtores frequentemente relatam que têm dificuldade em obter empréstimos para tecnologia inovadora porque não tem a mesma prova de conceito de um trator, por exemplo. Muitos veem bancos e governos injetarem bilhões em outras indústrias, mas lutam para obter o financiamento necessário para proteger suas colheitas.
Investir em opções acessíveis e sustentáveis, como centros de alimentos, poderia normalizar a produção local de alimentos e, inevitavelmente, criar um volante de financiamento que chegaria a mais e mais produtores.
Se concordarmos que precisamos preparar as cidades para o futuro para reduzir nossa pegada ambiental e aumentar a segurança alimentar, temos que enfrentar o fato de que a maneira como comemos precisa ser mais sustentável. E embora os jardins nos telhados sejam uma ideia romântica, a realidade é que eles não alimentarão milhões de pessoas que correm o risco de insegurança alimentar.
Nossos centros urbanos precisam se concentrar em oportunidades confiáveis, em escala comercial e locais, e precisamos de toda a ajuda que pudermos obter de fontes públicas e privadas para que isso aconteça.
* Dave Dinesen é membro da Forbes Business Council e CEO da CubicFarms, agtech de cadeia local especializada em tecnologia de agricultura urbana automatizada em escala comercial.