Neste momento, em Cristalina, município goiano a cerca de 270 quilômetros da capital Goiânia, imensas colheitadeiras da SLC Agrícola, que podem pesar toneladas, circulam pelas lavouras colhendo a safra 2021/22 de seu algodão. Os campos cobertos de capulhos, a fruta do algodão, maduros e abertos, mostram um mar esbranquiçado. O ponto de colheita do algodão é uma das culturas mais espetaculares de se ver no campo e na SLC essa imagem é de uma vastidão a perder de vista. Afinal, a companhia que está no ranking Forbes Agro100 responde por cerca de 11% da produção brasileira da commodity, estimada em 2,61 milhões de toneladas para a safra encerrada em junho.
Mas não é só isso. A SLC é um dos centenas de grupos agrícolas que possuem o selo ABR (Algodão Brasileiro Responsável), um programa auditável pela Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), e que assegura a sustentabilidade da fibra nas boas práticas sociais, ambientais e econômicas. As práticas abrem um mercado mais valorizado pelos consumidores internos e também no mercado internacional.
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O país é hoje o maior fornecedor global de algodão certificado, segundo dados do movimento Sou de Algodão, afiliado à Abrapa. Marcas como Nike, Calvin Klein e Ralph Lauren são algumas das empresas que buscam este tipo de produto. Desde 2015, a Abrapa, encabeça o movimento Sou do Algodão, para mostrar ao consumidor como a fibra chega até ele. Junto com ela estão 10 entidades estaduais, o Instituto Brasileiro do Algodão, agentes do varejo, como as lojas de departamento Renner, e celebridades, entre elas o estilista paulista Alexandre Herchcovitch.
Na fazenda Pamplona, a de Cristalina, uma das 23 propriedades do grupo, as condições climáticas ao longo do ciclo 2021/2022 de cultivo das lavouras, de aproximadamente 220 dias, foram regulares e devem garantir um bom resultado na safra. “Nós tivemos um cenário de chuva ideal, o que deixou nossas médias melhores do que o resto do Brasil. Aqui, a produtividade está acima de 360 arrobas por hectare”, diz o engenheiro agrônomo Diego André Goldschmidt, coordenador de produção da SLC.
A produtividade da Pamplona deve chegar a 4.300 quilos por hectare, nos 6.419 hectares dedicados ao cultivo de algodão neste ciclo. No total, a companhia plantou 86.326 hectares de algodão na primeira safra, com a estimativa de produtividade próxima de 1.807 quilos por hectare. O grupo ainda produz soja e milho, além de trabalhar com criação de gado em sistema ILP (integração lavoura-pecuária). No ano passado, a receita líquida foi de R$ 4,363 bilhões, com lucro de R$ 1,13 bilhão, recorde na companhia criada e controlada pela família gaúcha Logemann em 1977.
O país tem 1,64 milhão de hectares cultivados nesta safra, segundo a estimativa de julho divulgada pela Abrapa. Os 2,61 milhões de toneladas ainda é um bom volume, mas a entidade esperava uma produção com quase 300 mil toneladas a mais em suas primeiras previsões. “Infelizmente as 2,9 milhões de toneladas de algodão que poderíamos colher não existem mais. A produtividade caiu em função de uma falta de chuvas no fim do ciclo, principalmente nos estados da Bahia e de Mato Grosso, que produzem 93% do algodão brasileiro”, avalia Júlio Cézar Busato, presidente da Abrapa, sobre safra. “Nós gostaríamos de voltar aos 3 milhões que colhemos em 2019, já que estamos conquistando o mercado lá na Ásia.”
Nos últimos anos, o Brasil tem se mantido entre os cinco maiores produtores mundiais da fibra, ao lado de países como China, Índia, EUA e Paquistão, e a demanda pelo produto local deve continuar aquecida. No acumulado do ano safra, encerrado há quase um mês, já foram exportadas 1,6 milhão de toneladas em pluma, totalizando uma receita de US$ 3,17 bilhões (cerca de R$ 17 bilhões na cotação atual).
A demanda por fibras naturais deve permanecer aquecida, impulsionando a produção, porque o uso da commodity vai além das roupas. Ela é usada pela indústria na criação de coadores de café, tecidos para a medicina e até dinheiro — uma parte das notas do real brasileiro é feita com 100% de algodão. Mas a fibra não é a única parte da commodity que brilha. Sua semente, o popular caroço, e a casca, também possuem valor comercial e nutricional por fornecer altas quantidades de energias e fibras em rações para animais, entre eles gado de corte e pets. O óleo, que pode ser extraído de ambas as partes, também pode ser utilizado como substituto do óleo de soja na produção de margarinas e para biocombustível, por exemplo.
No final da semana passada, a Forbes Brasil acompanhou uma parte da colheita de algodão na fazenda Pamplona. Confira, a seguir, as diferentes etapas do cultivo da fibra e da lida no campo, antes do algodão ser enviado à indústria têxtil ou quaisquer outra destinação:
Planejamento agrícola e plantio
O início da produção de algodão começa com o planejamento agrícola, como também acontece com outras culturas. No caso da SLC, a empresa analisa os dados de sua área de pesquisas para definir as melhores épocas de semeadura e de suas operações agrícolas. A fazenda Pamplona possui a unidade de pesquisa mais antiga da empresa, uma área de 178 hectares utilizada para estudos de campo desde 1988.
A partir do que é levantado na área de testes, a empresa define sua estratégia para sementes, fertilizantes e defensivos ideais, para que cada lavoura alcance a maior produtividade possível.
Semeadura e monitoramento da lavoura
Para a semeadura, pela grandeza das lavouras, a companhia utiliza máquinas com até 50 linhas de semeadura. São máquinas gigantescas, mas mesmo assim não é difícil varar noites de plantio, caso alguma intempérie chegue de surpresa e o trabalho precise ser suspenso. O plantio é um período crítico porque perder a janela climática ideal pode trazer, na sequência, atrasos às etapas seguintes, o que em geral compromete a produtividade.
A partir daí, o manejo das lavouras também considera boas práticas agronômicas. Uma delas é o MIP/MID (Monitoramento Integrado de Pragas e Doenças), etapa em que são aplicados defensivos agrícolas que garantem a segurança do algodão ao longo de seu crescimento. O sistema de plantio direto e a rotação de culturas são outras duas estratégias adotadas pela SLC em suas produções de algodão e também do milho e da soja.
O plantio direto, um modelo no qual o solo não é revolvido e representa um dos sistemas mais sustentáveis de cultivo no planeta, é aplicado em cerca de 36 milhões de hectares no Brasil, para todas as culturas, segundo a Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha. A meta para a próxima década é chegar a 48,5 milhões de hectares
Colheita
Na colheita, a SLC utiliza sensores em suas máquinas para registrar dados georreferenciados de produtividade e criar mapas da produção. As informações levantadas auxiliam na identificação dos fardos colhidos, o que garante a obtenção da rastreabilidade do algodão. A companhia tem 92 colhedeiras da fibra em seu pátio de máquinas, uma das maiores frotas do país.
Beneficiamento
Após a colheita, os rolos de algodão — cada um com cerca de 2 metros de diâmetro e 2.300 quilos — são levados ao beneficiamento, um processo composto por nove tipos de máquinas que prepararam o algodão para o envio às indústrias. No caso, a SLC possui usinas de beneficiamento em suas sedes, realizando esta etapa sem que o produto saia das fazendas.
Neste momento, o algodão é pesado e tem sua qualidade avaliada, com amostras retiradas que indicam a pureza e a umidade do algodão. A commodity, então, passa por uma pré-lavagem que tira até 70% das sujeiras encontradas na pluma. Daí, seguem para as máquinas de descaroçamento, separando a semente da pluma.
Aqui a fibra do algodão é separada de sua semente. Esta, por sua vez, ainda passa em uma outra máquina para retirar as pequenas fibras que estão juntas ao caroço — com o nome de línter, esta fibra é utilizada na fabricação de gaze e outros tecidos cirúrgicos. Com a fibra do algodão separada, a empresa realiza o enfardamento e a prensagem, formando fardos de algodão menores, com cerca de 200 quilos, que facilitam o transporte da matéria para a indústria.