O princípio é o mesmo das gigantes de cosméticos que tem como coração do negócio a força de venda porta a porta, entre elas a tradicional Avon. Mas ela é do agro. A catarinense agtech Produce, com sede em Chapecó, e que vai na mesma linha, acaba de ganhar um reforço de caixa, anunciado hoje (19). São R$ 100 milhões captados no começo do mês por meio de um family office, fundo criado por famílias com grandes fortunas para investir no mercado, muitas delas em inovações e tecnologias.
É o caso da Produce, que não se encaixa como um marketplace, ou como venda online. A agtech está mais para um modelo de economia compartilhada ou vendas colaborativas. A ideia é que seus produtos na prateleira, basicamente insumos agrícolas, sejam vendidos por profissionais liberais e produtores rurais aos seus vizinhos e conhecidos. “Esse é um momento muito positivo, porque agora estamos começando a ter resultados”, afirma Guilherme Trotta, diretor executivo e cofundador da Produce.
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O modelo de venda direta, comum em outros setores, é pouco difundido no agro. A Produce se considera uma das precursoras no setor. Trotta, de origem carioca e administrador de empresas, já foi chefe de equipe de vendas da Natura, que também realiza porta a porta parte de suas vendas de cosméticos. O recurso em caixa vai servir para o executivo expandir o negócio a outros estados, entre eles Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Goiás.
Neste ano, a agtech realizou cerca de 1.400 vendas, o equivalente a R$ 100 milhões, mesmo volume que agora recebeu de investimento. De acordo com Trotta, as vendas de 2022 vêm se mantendo acima de 2021. “O grande desafio agora é ter mais insumos para oferecer ao nosso consultor e produtor”, diz ele. A startup comercializa itens, entre eles sementes de soja, milho, feijão, além de fertilizantes, adjuvantes e biológicos. Outra frente nos plano da agtech é buscar parcerias com a indústria de insumos para ofertas exclusivas ao agricultor.
Modelo colaborativo para quem
O modelo de startup agro de vendas colaborativas tem levado produtores, em geral pequenos e médios, a olharem para ela como mais uma fonte de renda. Ou, no caso de outros profissionais, a apostar no setor. “O agro é um baita mercado e todo mundo quer ter a oportunidade de trabalhar com ele”, afirma Trotta. “Nossa ideia é ser uma porta de entrada para este setor. A pessoa não precisa ser formada em agronomia, porque damos o preparo técnico e comportamental para que ela possa ter lucratividade com isso”. Atualmente são 3.500 consultores, como são chamados, mas agora com caixa para expansão a meta são 15.000 em todo o país.
Para fazer parte da equipe, os consultores são convidados pela própria startup ou indicados por quem já está dentro. Para afinar as rotinas, por meio do aplicativo da startup o interessado tem acesso a uma série de cursos virtuais sobre insumos agrícolas, estratégias de vendas e outros temas. “Hoje em dia, a gente está sempre com o telefone na mão e o aplicativo da Produce facilita muito”, afirma Donizete da Luz, produtor de leite e milho em Ernestina (RS) que entrou no esquema das vendas. “Como é uma cidade pequena, meus clientes são basicamente os vizinhos, amigos e pessoas que tenho contato nas redes sociais”.
De acordo com Trotta, os ganhos de um vendedor podem variar entre R$ 3.000 e R$ 5.000. Mas ele conta que já houve um caso de comissão de R$ 80.000, justamente porque o comprador dos insumos era um grande produtor. O caso ocorreu em Mato Grosso, estado que já responde por 60% das compras.
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