No mundo do vinho, cerveja, café e iguarias, os projetos experience servem para uma imersão total no universo desses produtos. No vinho são várias as vinícolas gaúchas que oferecem imersões gastronômicas, etílicas e até de lida no campo, entre elas grandes nomes como Miolo e Salton, por exemplo. Agora, esse modelo está indo para a pecuária. No dia 23 de agosto, a Genex Brasil, empresa que comercializa sêmen bovino, vai abrir sua central de touros em Uberaba (MG), com uma estrutura voltada para a experiência do pecuarista na busca pelo produto mais adequado ao seu rebanho, um tipo de Touro Experience.
“A ideia é que um comprador de sêmen de um determinado animal, ou que esteja a procura de um, entre em contato com esse universo, primeiro por meio de apresentações de vídeos, imersões no tema e depois disso passe para a visita aos animais, em um ambiente diferente de um balcão de venda”, diz Sérgio Saud, diretor executivo da Genex Brasil. A inseminação artificial faz com que um touro de genética superior, com potencial para imprimir produtividade de carne ou leite aos seus descendentes, possa ter 100 mil filhos ou filhas – um recordista brasileiro da raça nelore, Rem USP, tem quase 600 mil filhos – em vez de cerca de 30 por ano, em monta natural.
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A central de touros da Genex está em uma área de 200 hectares, dos quais 90 hectares são para os animais e instalações. Os demais, que ainda não foram incorporados, estão arrendados para soja e milho por um período que varia de dois a cinco anos, e que deverão ser incorporados. A Genex Brasil arrendou a área por 15 anos, renovável por mais 15 anos e com opção de compra, caso os proprietários coloquem a fazenda à venda. O investimento inicial foi de R$ 8 milhões, com possibilidade de novos aportes.
“Esse é um sonho que começou em 2012”, afirma Saud. “Finalmente, em agosto do ano passado, os controladores internacionais da Genex disseram sim ao projeto.” A Gexen tem sede em Wisconsin (EUA). A Genex Brasil, com sede em São Carlos, município a cerca de 250 quilômetros da capital paulista, faz parte do grupo Urus, formado em 2018 por meio da fusão das holdings CRI (Cooperative Resources International), de origem canadense e à qual a Genex pertencia, e a Koepon Holding BV, um dos maiores grupos empresariais da Holanda. Com a fusão, a Urus passou a controlar empresas de genética animal e agricultura de precisão em 15 países: além da Genex, a AgSource, Jetstream Genetics, Peak/Genesis, SCCL, Valley Ag Software e a Alta Genetics (que também está no Brasil e é uma das maiores do setor no país).
Expansão local e global
Em julho, os executivos da Urus escolheram o Brasil para uma de suas reuniões regulares globais, justamente para conhecer a central. “Nosso propósito é aumentar o market share do Brasil, que atualmente está em cerca de 12%, para 20% ao ano nos próximos cinco anos”, disse Huub Te Plate, CEO Global da Genex. “O objetivo é ser global sem perder sua presença local. Além disso, também queremos ter maior presença em toda a América Latina e em outras regiões do mundo. Já temos algumas oportunidades na África e na Ásia e esse será o próximo sonho pelo qual vamos trabalhar.”
Te Plate sabe das potencialidades do Brasil, o maior exportador global de carne bovina, com 1,5 milhão de toneladas vendidas em 2021, e um dos maiores produtores de leite, com 35 bilhões de litros, embora quase toda a produção fique no mercado interno. A genética é o caminho mais curto para dar saltos na produtividade de carne por hectare ou litros de leite por vaca.
No ano passado, entre doses de sêmen importadas e coletadas nas centrais brasileiras, o mercado dispunha de 35,9 milhões em estoque, das quais 28,7 milhões de doses foram para o mercado em vendas diretas pelas centrais, mais os serviços prestados às fazendas. A estimativa da Genex Brasil, que está entre as maiores centrais do país, é vender neste ano 3,6 milhões de doses. No ano passado foram 3,1 milhões e para 2025 a previsão são 5 milhões. “E vamos entrar no mercado de embriões a partir do final deste ano”, diz Saud. “Vamos produzir os embriões por contrato, em parceria com uma empresa do setor.”
O mercado da inseminação avançou muito na última década, quando o índice de vacas inseminadas era da ordem de 5% do rebanho. A estimativa da equipe do professor Pietro Baruselli, do departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, é de que atualmente cerca de 16% das fêmeas se tornem prenhas por essa técnica, puxada pela IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo). Segundo o IBGE, o rebanho bovino do país é da ordem de 218 milhões de animais, com cerca de 90 milhões de fêmeas. A média de vacas inseminadas aproxima o Brasil da média mundial, mas ainda fica longe dos maiores usuários, como os EUA, por exemplo.
De casa nova
Fanja Pon, presidente do conselho de administração e acionista da empresa familiar Pon Holdings e URUS, também fez parte do grupo que visitou o Brasil. Ela é uma das herdeiras de Wijnand Pon, que além de fazendas de leite altamente produtivas, construiu um império como o maior importador de carros das marcas Porsche e Volkswagen na Holanda, e também do dono da Accell Group, uma das gigantes globais do mercado de bicicletas. “Este é um momento muito especial para nós e para a Genex, porque estamos inaugurando a nossa própria central e muitas pessoas trabalharam bastante durante os últimos anos para chegarmos a esse lançamento. Agora, os produtores podem vir e conhecer o que a empresa está fazendo”, afirma Fanja. John Ruedinger, presidente do conselho da CRI e Genex nos Estados Unidos, que também também esteve no país em julho, disse que a central “é o início de um novo momento para a Genex” e que ela deve impulsionar a indústria da pecuária no Brasil. “Podemos utilizar a nova biotecnologia para impulsionar a seleção de touros, a genética, a produção de leite e de carne bovina”, afirma.
Para Sérgio Saud, ter uma central própria é um grande passo. Desde que foi criada, a empresa utilizava os serviços de coleta de sêmen de outras centrais. Ele conta que o projeto inicial era ter uma estrutura para alojar 40 touros, mas até o final deste ano serão 150 e o potencial da área é para 700 touros. A coleta de sêmen deve chegar a 5 milhões de doses em três anos.
A estrutura em Uberaba não é uma construção nova. A arquitetura que lembra construções indianas foi um projeto dos pecuaristas Dirceu Azevedo Borges e Lúcio Carvalho Costa (ambos já faleceram), que fundaram a Central Nova Índia, uma das primeiras empresas brasileiras do setor, nos anos 1980. “O espaço espetacular, lembra templos indianos, como o Taj Mahal. O que fizemos foi adaptar as estruturas, sem tirar o lado histórico desse espaço importante na história da pecuária”, diz Saud.
O valor investido foi utilizado para tecnologias digitais de comunicação, laboratório, espaço para a coleta e preparação do sêmen para análise e aumento da equipe de funcionários, que hoje é de 250 pessoas para todas as unidades da empresa. “As análises de qualidade do sêmen serão realizadas na central Alta Genectis, que faz parte do grupo e que está a cerca de 6 quilômetros da Genex”, afirma. A central deve alojar os animais das raças zebuínas, como nelore, brahman e tabapuã. Animais de raças taurinas, como o angus, permanecerão em centrais do sul do país, além de 26 touros angus na central Seleon, que fica em Itatinga (SP), em uma área de clima ameno em boa parte do ano.
A estrutura de Uberaba foi montada para funcionar como um roteiro da radiografia da genética animal, que além das salas de imersão, do circuito e de uma cafeteria para networking, conta também com espaços para cursos técnicos, que devem ocorrer de modo terceirizado ou por conta da equipe da Genex. Nesse caso, sem custo para o pecuarista. Saud diz que a intenção é disseminar conhecimento sobre a inseminação e que equipes gerenciais competentes podem fazer diferença na gestão dos índices reprodutivos de uma propriedade. “Vamos funcionar como um parque temático que gera conhecimento. Está na nossa história e vamos aumentar esse ritmo.”
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