Uma pesquisa apresentada na quinta (27), no encerramento do 7º CNMA (Congresso Nacional das Mulheres do Agro), evento que reuniu em São Paulo (SP) 2.500 mulheres durante dois dias, mostrou que elas desejam um ambiente de maior equidade, diverso e inclusivo.
Pelo segundo ano consecutivo, a Deloitte ouviu mulheres que trabalham em empresas do setor de importância estratégica para o país, respondendo por 27% do PIB (Produto Interno Bruto). Mas os dados confirmam que elas, no campo, não estão em um oásis privilegiado. Os desafios da carreira e de sua gestão têm muitas aderências com a maioria dos setores da economia do país.
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A pesquisa, que ouviu 400 mulheres, abrange atividades de agricultura, pecuária e serviços relacionados (os setores de produção florestal, pesca e aquicultura não foram detectados). Apesar das mulheres terem escolaridade maior do que os homens, elas apontam terem sua capacidade intelectual questionada no trabalho. O índice foi de 41%, subindo para 75% entre as mulheres com idades de 18 a 30 anos. A partir dessa idade, 37% delas relatam esse tipo de questionamento.
O índice de escolaridade, que mostra a profissionalização do setor, reforça o preconceito em relação às oportunidades para o topo da carreira, mesmo elas sendo mais escolarizadas. Na agropecuária e serviços relacionados, 9% das mulheres empregadas têm grau superior de ensino, ante 3% dos homens, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). No mercado de trabalho geral, o percentual é de 30% para as mulheres e 16% para os homens.
“Eu quero enxergar esse dado como uma oportunidade. Existe muita oportunidade para as mulheres do agro por conta da qualificação”, afirma Carolina Verginelli, sócia da consultoria Deloitte e uma das coordenadoras da pesquisa. “Muita tecnologia vem sendo embarcada no campo, nas empresas, nas indústrias e, obviamente, pessoas mais qualificadas têm maior chance de colocação”.
Mas a falta de exemplos de liderança feminina pode desencorajar mulheres a buscarem cargos de diretoria em empresas e entidades do agronegócio. Para as mulheres entrevistadas, os motivos que levam a não acreditarem estão relacionado a:
- 62% = baixo número do público feminino em cargos de liderança
- 57% = falta de políticas e processos que incentivam a inclusão feminina
- 35% = mulheres não se sentem escutadas nas reuniões de associações
- 28% = baixo interesse do público feminino em se candidatar a tais cargos
- 14% = eventos e feiras são mais focados no público masculino
- 9% = falta de alinhamento com as pautas das associações.
Em relação às questões de gênero, quando questionadas onde estão os maiores desafios e preconceitos, 48% delas responderam se concentrar nos gestores e líderes, e para 38% estão nos próprios colegas de trabalho do gênero masculino. Os clientes foram citados por 26% delas, os subordinados por 21% e 17% como sendo as colegas de trabalho do gênero feminino.
Para o José Luiz Tejon, coordenador de conteúdo do congresso das mulheres, temas abrangentes e que saiam do universo daquelas que estão na linha de frente das transformações são motores importantes. “Aqui, estamos em uma bolha de mulheres empoderadas”, disse ele na apresentação da pesquisa. “Vamos ter de olhar para fora, para avançar”.