Uma das maiores multinacionais de capital privado, a Cargill origina, vende e processa grãos e outras commodities no mundo, com 2 mil cientistas nos cinco continentes dedicados à pesquisa e ao desenvolvimento de produtos alimentícios e ingredientes para a indústria. São desses lugares que pode sair um óleo vegetal de maior saudabilidade em sua composição, um ingrediente para a massa de pizza, o recheio do biscoito com baixo nível de gorduras saturadas e trans, um molho de tomate mais saboroso e cacau nos seus mais variados formatos para chocolate, além de aromas e fragrâncias.
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No Brasil, o coração desse complexo é o Centro de Inovação da Cargill, em Campinas (SP), o maior da América Latina. São laboratórios dedicados à pesquisa, inovação aberta e serviços sob demanda para as suas nove unidades industriais e para outras companhias. “A inovação é abrangente e se liga a praticamente toda a cadeia de valor do campo”, diz o químico Carlos Prax, líder de P&D (pesquisa e desenvolvimento) da Cargill para a América Latina. “É um modelo de negócios em que a experiência do consumidor e a nossa capacidade de interagir para encontrar soluções é a base das inovações.”
No ano passado, a Cargill investiu R$ 1 bilhão no Brasil, valor 11% acima de 2020. Neste ano, são R$ 600 milhões em investimentos, o que eleva para valores acima de R$ 5 bilhões nos últimos cinco anos, com parte desse montante indo para P&D. Mas, para a empresa, esse tipo de aporte ganha ainda mais relevância se atrelado a parcerias com instituições, como Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa), Universidade de Campinas (Unicamp) e Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital). “Precisamos ter a capacidade de interagir com o contexto tecnológico em nosso ecossistema”, afirma Prax. Para ele, a capacidade do Brasil de produzir ciência no agronegócio e de agregar valor ao campo tende a crescer nas próximas décadas. “Por isso, o desenvolvimento precisa ser a quatro mãos, apontando muito para o nosso presente, mas também para um futuro de inovações que partem daqui.” Com o Ital, por exemplo, órgão de pesquisa da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), e que é pioneiro desde os anos 1960 em tecnologia de alimentos no Brasil, a Cargill mantém parceria de inovação aberta. O executivo afirma que esse trabalho está na linha de frente para a multinacional, pelo peso e papel que a produção agrícola local exerce no mundo.
Um exemplo é o complexo de produção de pectina em Bebedouro (SP), inaugurado em setembro do ano passado e no qual a companhia investiu R$ 600 milhões. Com isso, a Cargill se tornou a segunda maior produtora mundial. A pectina, um tipo de gel extraído da casca de citrus, como a laranja e o limão, é um ingrediente natural altamente utilizado na indústria alimentícia, em iogurtes, doces, bebidas lácteas e como óleo essencial. “Quando exportamos a pectina, isso é agregação de valor”, diz Prax. “O agronegócio, para nós, vai muito além da exportação de commodities.”
Outra ação está marcada para entrar em atividade em abril de 2023. Com o Ital, que cedeu uma área de 1.300 metros quadrados, a Bühler, que é uma fabricante suíça de equipamentos, e a Givaudan, também suíça que processa sabores, fragrâncias e ingredientes cosméticos, a Cargill inaugura o Tropical Food Innovation Lab, um hub de foodtech para a América Latina. O espaço será destinado, como afirma a empresa, ao desenvolvimento da próxima geração sustentável de alimentos e bebidas. “É um grande esforço público-privado para trabalhar a inovação aberta nos trópicos e representa o que o Brasil faz para o mundo”, afirma Prax.
*Reportagem publicada na edição 102, lançada em outubro de 2022