Os produtores de soja do Brasil caminham para colher uma safra recorde de 152,86 milhões de toneladas em 2022/23, diante de uma expansão de área plantada e condições climáticas favoráveis na maior parte das regiões produtoras que podem compensar as perdas causadas pela seca no Rio Grande do Sul, conforme pesquisa realizada pela Reuters.
A nova projeção, com base em avaliações de 14 analistas e instituições, representa um avanço de mais de 2 milhões de toneladas em relação ao levantamento anterior da Reuters, feito em outubro. Um dos principais motores deste resultado é o crescimento esperado para a área de plantio, que superou as expectativas iniciais de 42,83 milhões de hectares para 43,4 milhões.
A perspectiva atual, se confirmada, representará aumentos de 21,8% em produção e 4,58% em área, em relação à safra passada, quando as lavouras gaúchas foram ainda mais castigadas pela estiagem decorrente do fenômeno climático La Niña.
“Tudo leva a crer que vamos colher acima de 150 milhões de toneladas, mesmo com as perdas no Rio Grande do Sul, e a safra recorde está garantida”, disse o analista da consultoria Safras & Mercado Luiz Fernando Roque.
Ele afirmou que o Estado, de fato, não terá uma colheita cheia e a grande dúvida até o momento é qual será o tamanho do problema. Um retorno das chuvas previsto para ocorrer até fevereiro pode limitar os danos às lavouras, mas se as precipitações não se confirmarem, há espaço para agravamento no cenário gaúcho.
Para o analista de grãos e proteína animal da hEDGEpoint Global Markets, Pedro Schicchi, variáveis climáticas ainda têm o poder de prejudicar a produção no Rio Grande do Sul, uma vez que parte importante dos cultivos está em fase de enchimento de grãos.
“Mas mesmo que as perdas aumentem, a safra gaúcha vai ser maior do que no ano passado”, acrescentou Roque.
Com a perspectiva mais otimista, o analista da Céleres Enilson Nogueira aposta em uma produção ainda maior, com base no desempenho positivo dos demais Estados.
“O crescimento de área e produtividade no Cerrado, especialmente em Mato Grosso e Matopiba, deve sustentar produção acima de 154 milhões de toneladas”, disse ele citando a região agrícola composta por Maranhão, Tocantins, Piauí e oeste da Bahia.
“Para produtor e mercado, o cuidado agora é manter as boas produtividades e qualidade do grão no processo de colheita, visto que a presença contínua das chuvas em janeiro, sobretudo no Cerrado, deve atrapalhar os trabalhos de campo. Cenário também coloca alguma pequena preocupação para início do cultivo de milho inverno”, alertou.
Clima
Para o final de janeiro e início de fevereiro, quando a colheita de soja no Brasil já estará mais avançada, a previsão aponta para volumes de precipitação acima da média nas áreas entre a região Sul, partes do Sudeste, especialmente São Paulo e Triângulo Mineiro, e partes do Centro-Oeste, segundo a meteorologista do Climatempo Nadiara Pereira.
Em alguns momentos, as atividades de colheita no Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul podem ser impactadas pelo excesso de umidade.
“No entanto, no Rio Grande do Sul as chuvas acima da média são bem-vindas, já que o Estado colhe mais tarde, para recuperar a umidade no solo e para ajudar no desenvolvimento final das lavouras, que foram bastante impactadas pela estiagem desde o plantio”, disse ela.
Já áreas entre a região central de Goiás e grande parte do interior de Mato Grosso devem ter chuvas entre a média e ligeiramente abaixo da média e maiores períodos de tempo seco, o que, segundo Pereira, pode contribuir para as atividades de colheita.
No Matopiba, a expectativa da Climatempo é de chuvas acima da média sobre grande parte das áreas produtoras.
“A chuva deve garantir boas condições para a fase final de desenvolvimento das lavouras, mas em algumas áreas, principalmente do Maranhão e do Piauí, o excesso de umidade pode impactar negativamente os cultivos, por falta de horas de sol no momento crucial de maturação das lavouras.”