Para que o agronegócio brasileiro continue sua trajetória de crescimento e modernização, o setor vem buscando já faz algum tempo fontes alternativas de financiamento, que não governamentais. De acordo com o ministério da agricultura, a estimativa de recursos necessários para financiar o setor gira entre R$ 800 bilhões a R$ 1 trilhão por ano, o Plano Safra 2022/23, que inclui crédito subsidiado, soma R$ 340 bilhões. A diferença, o setor suprirá com recursos próprios, por meio de empréstimos e financiamentos privados, além de vendas antecipadas.
Participei recentemente de um evento que discutiu como impulsionar o mercado financeiro para o agronegócio e a sustentabilidade. Nesta ocasião, o presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) João Pedro Barroso do Nascimento defendeu ser prioridade da CVM aumentar a participação do agronegócio no mercado de capitais.
Abordamos a relação do agronegócio e o mercado de capitais pela primeira vez aqui na Forbes, em abril de 2021 no artigo O Mercado de Capitais e o Agro, depois em outros dois artigos subsequentes, O que é o Fiagro? e Para que serve o novo fundo de investimento em agro, e ainda em Agro ganha um índice próprio na B3, que recomendo a leitura, pois são um preâmbulo ao artigo de hoje, visto que, o que parecia uma interessante possibilidade, está se tornando realidade.
Juntando a fome com a vontade de comer o mercado de capitais e o agronegócio tem se aproximado. Diante de um cenário de juros elevados e forte retração econômica mundial, faz sentido para o mercado de capitais buscar o agro, um setor resiliente, que tem sido o esteio da economia brasileira.
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Pelo lado do agronegócio, o setor tradicionalmente se financia através de grandes bancos. Entretanto, devido a mudanças no modelo de crédito, onde o governo tem optado por reduzir o financiamento para grandes produtores, dando preferência para pequenos e médios empreendimentos e projetos sustentáveis, surge a necessidade de complementar o crédito rural oficial. Desta maneira, abriu-se espaço para o financiamento privado através dos FIAGROs (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais), CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), CPRs (Cédulas de Produto Rural) e LCAs (Letra de Crédito do Agronegócio).
Foram aprovados dois acordos de cooperação técnica entre a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com o Instituto Pensar Agropecuária (IPA) e outro com o Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio (IBDA) visando fortalecer o acesso aos empreendedores do agronegócio ao mercado de capitais, através de eventos, seminários estudos e pesquisas.
De acordo com Bruno Gomes, Superintendente de Supervisão de Securitização da CVM, “Há um interesse crescente dos pequenos e médios produtores rurais, além de outros elos da cadeia do agronegócio, em acessar o mercado de capitais para se financiar, bem como dos investidores nas ofertas do setor.
Esses novos acordos de cooperação vão auxiliar no desenvolvimento de políticas e normas cada vez mais inclusivas, além da realização de ações educacionais conjuntas com produtores rurais e outros agentes da cadeia para fomentar o acesso desse setor a novas fontes de financiamento.”
Construindo instrumentos para que os produtores se financiem com recursos privados vislumbra-se maior espaço no orçamento para pequenos produtores. As perspectivas para o setor são positivas, apesar dos custos de produção, devemos ter mais uma safra recorde de grãos, gerando um superávit na balança comercial brasileira. O investidor urbano poderá investir no agro, apoiando o setor mais dinâmico da economia brasileira, todos ganham nessa dinâmica.
*Helen Jacintho é engenheira de alimentos por formação e trabalha há mais de 15 anos na Fazenda Continental, na Fazenda Regalito e no setor de seleção genética na Brahmânia Continental. Fez Business for Entrepreneurs na Universidade do Colorado e é juíza de morfologia pela ABCZ. Também estudou marketing e carreira no agronegócio.
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