O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) deve anunciar nas próximas semanas uma linha de crédito em dólar para compra de equipamentos agrícolas, em uma tentativa de ampliar os recursos disponíveis para produtores rurais aumentarem seus investimentos.
O modelo, que está sendo negociado entre o Ministério da Agricultura, o BNDES e o Ministério da Fazenda, prevê o repasse de recursos captados em dólar pelo BNDES para uma rede de bancos que trabalham com empréstimos para o setor agrícola. Mas ainda há discussão em torno da taxa a ser aplicada, que poderia ser menor dependendo da atuação do Tesouro.
Os recursos adicionais poderiam ajudar produtores que estão colhendo uma safra recorde de soja em 2022/23, após montantes para investimentos repassados pelo BNDES aos bancos terem se esgotado nesta temporada, diante da forte demanda.
De acordo com o assessor especial do Ministério da Agricultura Carlos Ernesto Agustin, a linha de crédito em dólar atende uma demanda de médios e grandes produtores que trabalham basicamente com exportação e recebem na moeda norte-americana.
“O agricultor empresarial prefere. Para quem trabalha com exportação é inclusive mais seguro”, disse Agustin.
A lógica, explica, é que as safras negociadas com o exterior tem seus preços em dólar e a variação cambial não vai afetar esse produtor, ao mesmo tempo em que o BNDES consegue captar os recursos lá fora a juros mais baixos do que os programas de crédito no Brasil.
Nas próximas semanas o BNDES deve pôr na rua um piloto desta linha de crédito para ver a real demanda.
Uma fonte do BNDES ouvida pela Reuters explica que o banco tem recursos já captados no exterior, em dólares. Mas seria caro transformá-los em linhas em real, e o ideal é de fato já oferecer o produto na moeda dos EUA.
“Tem essa demanda e estamos montando uma linha de crédito para usar esses recursos já captados”, disse a fonte.
O que está sendo estudado agora é a taxa que deve ser usada nesses empréstimos para compra de equipamentos agrícolas, como tratores, colheitadeiras, etc — produtos que, frequentemente, chegam na casa do milhão de reais.
Agustin explica que o ideal seria uma taxa em torno da variação do dólar mais 5%. No entanto, de acordo com a fonte do BNDES, esse é hoje o custo dos recursos para o banco.
O BNDES trabalha com uma taxa em torno de 8% acima da variação do dólar, que poderia baixar em um ou dois pontos percentuais se o governo federal entrar com equalização.
“Estamos nessa fase agora de definir essas questões, mas a gente acha que dólar mais 8% tem uma demanda. Seria 8% de taxa real para o produtor que recebe em dólar, muito abaixo da Selic atual (13,75%)”, disse a fonte.