A CRAS Brasil, maior comercializadora brasileira de óleo de amendoim, tem fomentado o cultivo da matéria-prima para ampliar a oferta com objetivo de atender mercados em crescimento da China e da Europa, e vislumbra investimentos em uma refinadora local, na expectativa de que o consumo de óleos premium ganhe uma fatia adicional do segmento nacional.
Com mais de um quarto de participação em uma indústria nacional de óleo de amendoim focada na exportação, a CRAS aposta em um produto que vale o dobro do óleo de soja, pela sua saudabilidade, e tem participado de um trabalho de multiplicação da variedades de sementes com maior teor de óleo e de ciclo mais curto, visando cair no gosto dos produtores.
O incentivo é dado por meio de prêmios pagos aos agricultores que optam pelo amendoim, em vez de culturas como a própria soja, e também em parcerias com institutos de pesquisa como a Embrapa e o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) para o desenvolvimento de sementes.
“Estamos trabalhando sementes específicas para a produção de óleo, com mais teor de óleo, estamos motivando o produtor a plantar através até de um prêmio… para ampliar, tem que ter mais produto, mas tem um tempo para atingir isso, precisa multiplicar as sementes”, disse o CEO da CRAS Brasil, Rodrigo Chitarelli, à Reuters.
Considerando as potencialidades agrícolas do Brasil e a participação relativamente pequena do país no mercado global frente a outras commodities como soja –o país é o nono produtor global, com 8% do mercado mundial de óleo de amendoim–, as perspectivas são favoráveis para o cultivo.
O processamento atual do país está em torno de 300 mil toneladas/ano, produzindo 110-120 mil toneladas/ano de óleo.
As novas variedades de semente podem aumentar em até 15% a produtividade do amendoim, segundo a CRAS, que comprou uma área agrícola próxima à sua unidade industrial em Itaju, no interior de São Paulo, para colaborar no processo de ampliação da oferta de sementes, algo que dará resultados em maior escala em mais duas a três safras.
A empresa ainda tem projeto de expandir atuação para o Mato Grosso, onde as terras são mais baratas em relação a São Paulo, que responde por 90% da produção nacional. O avanço do amendoim para o maior Estado produtor de grãos do Brasil ocorreria primeiro com a instalação de uma unidade menor de processamento para posicionar a empresa e estimular o cultivo, disse Chitarelli.
“Estamos investindo nos produtores, no aumento do plantio, em paralelo temos projeto em investir para aumentar o sistema de recebimento, temos projetos de levar a operação para o Mato Grosso, mas são ações que precisam estar em paralelo, não adianta atacar a indústria se não tiver matéria-prima”, completou.
Segundo o CEO, também sócio fundador da CRAS, do lado da demanda há segurança para os investimentos, com a China podendo comprar quaisquer volumes ofertados.
“Se eu quiser vender só para a China, vai só para a China. Eu é que seguro para fazer um pouco para outros países, a China pode comprar mais do que podemos produzir”, disse o executivo, lembrando que, apesar de fretes mais caros para Itália, tem mantido vendas para este polo europeu, canal de entrada do óleo de amendoim na Europa, para manter os clientes por lá.
A CRAS já tem um escritório em Pequim e conhecimento do mercado, o que dá a confiança na ampliação do negócio.
Investimentos realizados nos últimos anos permitiram que a companhia multiplicasse por cinco a sua produção de óleo de amendoim para 200 contêineres/mês, em cinco anos.
Com atuação também em trading, madeira e energia, a empresa fundada em 2011 tem crescido fortemente seu faturamento nos últimos anos, com o setor agro respondendo por parte importante. A receita da companhia está estimada em mais de 600 milhões de reais em 2023, mais que o dobro de cinco anos atrás.
Planos Futuros
Uma processadora de amendoim em Mato Grosso, além de garantir maior oferta de óleo para exportação, permitiria que a empresa ampliasse as vendas de farelo (derivado do esmagamento) para a produção de ração animal, que tem grande mercado naquele Estado.
Mas a CRAS ainda avalia o melhor momento para novos investimentos, uma vez que lida atualmente com custos financeiros maiores, diante da crise global no setor bancário e dos reflexos dos problemas na varejista Americanas.
Segundo o CEO da CRAS, o óleo da amendoim chegou a ser o principal do mercado nacional na década de 70, sendo substituído depois pelo de soja. E, de acordo com ele, enquanto minguou o consumo no país, em outras nações seguiu forte a demanda. Atualmente cada brasileiro consome 1,2 kg de amendoim por ano, enquanto a média mundial é de 6 kg por habitante por ano.
De olho neste potencial, a CRAS avalia investimentos em uma refinadora de óleo para produzir visando o mercado local, uma vez que a exportação trabalha com o produto bruto, disse Chitarelli.